Aquele que tem por vício a leitura, droga alucinógena das
mais leves,
acabará cada vez mais dependente dela.
E o pior, passará para drogas mais pesadas, como a escrita.
Nesta fase crítica, o leitor, agora escritor, tende a fugir
regularmente da realidade
e ter devaneios de
que, assim como Deus, é criador de Universos inteiros.
(Ecos de J. L. Maleski)
É a
palavra escrita que me permite a
interação com o mundo – é ela que registra, que protesta, que chora, que sorri
e que traduz o que me incomoda, o que me entristece e também o que me causa
contentamento. Põe-me em estado deliciosamente ilusório de que tenho controle
sobre o que expresso.
A palavra escrita me permite ser comedida enquanto releio,
(re)avalio, pondero e registro. Por outro lado, ela me cobra pela durabilidade
do que está à vista dos olhares argutos, ainda que de forma relativa, dada a
assustadora fluidez que caracteriza esses tempos de tanta liquidez. Há um preço
pela permanência do impresso. Nessa hora, penso que ser loquaz com as palavras na
oralidade tenha lá sua recompensa, já que o vento carrega o desnecessário, o
inoportuno e, por vezes, até mesmo as pérolas.
Nesse processo de análise, percebo a magia que há nas
palavras e me permito divagar pelos meandros das possibilidades existentes na
escolha lexical, na apreciação dos efeitos das palavras, na sonoridade que o
encadeamento delas pode produzir, sem me deixar engessar pelo rigor acadêmico.
Pensando nisso, é no processo da escrita que tais possibilidades me acenam
oferecendo cores e nuances diversificadas, às vezes nunca vistas em outras
palavras grafadas.
Entretanto, nem por isso deixo de admirar,
profundamente, quem consegue escolher as palavras e estabelecer conexões
seguras, claras e belas agregadas à entonação perfeita em discursos sonoros, vibrantes
e potentes.
Ainda assim, enche-me os olhos o bordado que a
palavra escrita elabora ao dar conta dos pontos que se entrelaçam e inspiram
novas conexões às vezes com o mesmo tom, às vezes com tons tão distintos. E é
justamente isso que dá singularidade e encantamento ao que foi escrito.
A descoberta sobre ser a escrita o meu instrumento de
comunicação com o mundo se deu em tempos idos, bem idos; quando escrevia
diários e cartas, quando não cabiam mais em mim as palavras não ditas, as
ideias só pensadas, as impressões sobre o mundo que me habitava. Depois de
tanto tempo, o registro continua a ser feito, ainda que com mais leveza, menos
sistematização, porém com mais clareza, sobretudo no tocante às reais
necessidades que determinam as temáticas que ocupam espaço em mim e que compõem
parte do meu universo.
Entusiasma-me, enfim, pensar no efeito produzido de
quem busca, nas linhas, nas entrelinhas e para além das linhas, o caminho
percorrido por quem executa esse ritual de compor o cenário tão multifacetado
da escrita. Aprendi que somos, por excelência, narrativas de nós mesmos.
A seguir, registro imagético da Roda de Conversa, realizada no dia 28 de abril/2023, no Espaço de Eventos da Igreja Batista (Pau dos Ferros-RN).