Transcrevo aqui o
Epílogo do livro Sapiens – Uma
breve história da Humanidade, de Yuval Noah Harari
(editora LPM, 30ª edição).
Há 70 mil anos, o HOMO SAPIENS AINDA ERA
UM ANIMAL INSIGNIFICANTE cuidando de sua própria vida em algum canto da África.
Nos milênios seguintes, ele se transformou no senhor de todo o planeta e no
terror do ecossistema. Hoje, está prestes a se tornar um deus, pronto para
adquirir não só a juventude eterna como também as capacidades divinas de
criação e destruição.
Infelizmente, até agora o regime dos sapiens
sobre a Terra produziu poucas coisas das quais podemos nos orgulhar. Nós dominamos
o meio à nossa volta, aumentamos a produção de alimentos, construímos cidades,
fundamos impérios e criamos grandes redes de comércio. Mas diminuímos a
quantidade de sofrimento no mundo? Repetidas vezes, os aumentos gigantescos na
capacidade humana não necessariamente melhoraram o bem-estar dos sapiens como
indivíduos e geralmente causaram enorme sofrimento a outros animais.
Nas últimas décadas, pelo menos fizemos algum
progresso real no que concerne à condição humana, com a redução da fome, das
pragas e das guerras. Mas a situação de outros animais está se deteriorando
mais rapidamente do que nunca, e a melhoria no destino da humanidade ainda é
muito frágil e recente para que possamos ter certeza dela.
Além disso,
apesar das coisas impressionantes de que os humanos são capazes de fazer, nós
continuamos sem saber ao certo quais são nossos objetivos e, ao que parece,
estamos insatisfeitos como sempre. Avançamos de canoas e galés a navios a vapor
e a naves espaciais – mas ninguém sabe para onde estamos indo. Somos mais
poderosos do que nunca, mas temos pouca ideia do que fazer com todo esse poder.
O que é ainda pior, os humanos parecem mais irresponsáveis do que nunca. Deuses
por mérito próprio, contando apenas com leis da física para nos fazer companhia,
não prestamos conta a ninguém. Em consequência, estamos destruindo os outros
animais e o ecossistema à nossa volta, visando a não muito mais do que o nosso
próprio conforto e divertimento, mas jamais encontrando satisfação.
Existe algo mais perigoso do que deuses
insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?
Nenhum comentário:
Postar um comentário