O nome de
nenhum homem brilharia mais forte na história que o de Abraham Lincoln. “Não
tenho dúvida de que Lincoln será a figura mais proeminente da guerra”, previu
Ulysses S. Grant. “Ele foi incontestavelmente o maior homem que conheci.”
O poeta
Walt Whitman tinha uma sensação muito semelhante: “Mais de uma vez, já imaginei”,
escreveu Whitman em 1888, “o tempo em que o século atual tenha se encerrado e o
novo século tenha se iniciado, em que os homens e feitos dessa contenda tenham
de algum modo se tornado vagos e míticos”. Ele imaginou que, em alguma comemoração
daqueles tempos anteriores, um “velho soldado” estaria sentado cercado de um
grupo de homens jovens cujos olhos e “perguntas ávidas” denunciariam sua sensação
de assombro. “Como!? O senhor viu Abraham Lincoln — e o ouviu falar — e tocou
em sua mão?” Embora admitisse que o futuro poderia tirar uma conclusão diferente
acerca do presidente interiorano, Whitman não via dificuldade em falar por sua
própria geração: “Em toda a tela apinhada do Século XIX, Abraham Lincoln
parece-me ser o vulto mais importante até agora.”
Até mesmo
Whitman talvez se surpreendesse com a abrangência do legado de Lincoln já na virada
do século. Em 1908, numa área remota e afastada do Cáucaso do norte, Leon
Tolstoi, o maior escritor da época, era o convidado de um chefe tribal “que
morava nas montanhas, longe da vida civilizada”. Reunindo a família e os
vizinhos, o chefe pediu a Tolstoi que contasse passagens da vida dos homens
famosos da história. Durante horas, Tolstoi brindou o público atento com
narrativas sobre Alexandre, César, Frederico, o Grande, e Napoleão. Quando ele
se preparava para terminar, o chefe levantou-se e disse: “Mas você não nos
contou nada sobre o maior general e governante do mundo. Queremos ouvir alguma
coisa. Ele foi um herói. Falava com a voz do trovão, ria como o amanhecer, e
seus feitos tinham a força das rochas. (...) Seu nome era Lincoln e a terra em
que viveu chama-se América, uma terra tão distante que, se um rapaz saísse a pé
para viajar até lá, ele já estaria velho quando lá chegasse. Fale-nos desse homem.”
“Olhei
para eles”, recordou-se Tolstoi, “e vi seus rostos alvoroçados, enquanto seus
olhos ardiam. Vi que aqueles toscos bárbaros realmente estavam interessados num
homem cujo nome e cujos feitos já tinham se tornado lendários”. Ele lhes contou
tudo o que sabia sobre Lincoln, sua “vida doméstica e sua juventude (...) seus
hábitos, sua influência sobre o povo e sua força física”. Quando terminou, eles
ficaram tão gratos pela história que o presentearam com “um maravilhoso cavalo árabe”.
Na manhã do dia seguinte, quando Tolstoi se preparava para partir, eles perguntaram
se ele teria como conseguir para eles um retrato de Lincoln. Como acreditava
que poderia encontrar um na casa de um amigo na cidadezinha próxima, Tolstoi
pediu a um dos cavaleiros que o acompanhasse. “Consegui obter uma fotografia de
bom tamanho com meu amigo”, recordou-se Tolstoi. Quando a entregou ao
cavaleiro, ele percebeu que a mão do homem tremia ao aceitá-la. “Ele ficou
alguns minutos olhando para ela em silêncio, como alguém que faz uma prece com
reverência, os olhos marejados de lágrimas.”
Tolstoi
fez então o seguinte comentário: “Este pequeno incidente prova como o nome de Lincoln
é venerado pelo mundo afora e como sua personalidade se tornou lendária. Ora,
por que Lincoln foi tão grande a ponto de suplantar todos os outros heróis
nacionais? Na realidade, ele não foi um grande general, como Napoleão ou
Washington; não foi um estadista hábil, como Gladstone ou Frederico, o Grande;
mas sua supremacia se expressa totalmente em sua singular força moral e na
grandeza de seu caráter.
“Washington
foi um americano típico. Napoleão foi um francês típico. Mas Lincoln foi um humanitário,
com a abrangência do mundo. Ele foi maior que seu país — maior que todos os Presidentes
reunidos.”
“Ainda
estamos próximos demais de sua grandeza”, concluiu Tolstoi. “Contudo, depois de
mais alguns séculos, nossa posteridade há de considerá-lo maior do que nós o
consideramos. Sua genialidade ainda está forte demais e poderosa demais para a
compreensão comum, exatamente como o sol queima demais quando sua luz brilha
direto sobre nós.”
“Diz-se
que todo homem tem sua ambição particular”, escreveu Abraham Lincoln, aos 23
anos, em sua carta aberta ao povo do Condado de Sangamon durante sua primeira
candidatura a um cargo eletivo, na legislatura estadual de Illinois. “Seja ou não
verdade, posso dizer por mim mesmo que não tenho outra [ambição] tão forte
quanto a de ser realmente estimado por meus próximos, tornando-me digno de sua
estima. Até onde serei capaz de realizar essa ambição ainda está por se
revelar.”
O desejo
de estabelecer uma reputação digna de estima — para que sua história pudesse
ser relatada após sua morte — levara Lincoln a superar a infância árida, o
enorme esforço para se instruir, sua série de fracassos políticos e uma depressão
tão profunda que ele se declarou mais do que disposto a morrer, a não ser que
realizasse “algo que fizesse algum ser humano se lembrar” de que ele tinha
vivido. Uma inabalável noção de propósito o havia sustentado durante a
desintegração da União e ao longo dos meses mais sombrios da guerra, quando foi
repetidas vezes chamado a encorajar seus compatriotas desalentados, a abrandar
a animosidade de seus generais e a ser o mediador entre integrantes muitas
vezes contenciosos de sua Administração.
Na
realidade, sua extraordinária associação de uma humildade profunda e delicada
com uma ambição de toda uma vida, de ajudar a moldar seu tempo e gravar sua memória
na mente dos homens, permitiu que ele fizesse amizades e alianças com quem já
tivesse falado mal dele; que assumisse responsabilidade pelos fracassos de
terceiros; que reconhecesse falhas e aprendesse com erros; e que deixasse de
lado preocupações menores para se fixar nas importantes.
Sua
convicção de que os Estados Unidos são uma única nação, indivisível, “concebida
na Liberdade, e dedicada à proposição de que todos os homens são iguais”, levou
ao renascimento de uma União livre da escravidão. E ele expressou essa convicção
numa linguagem de duradoura clareza e beleza, manifestando uma genialidade
literária à altura de sua genialidade política.
Com sua
morte, Abraham Lincoln pareceu tornar-se a encarnação de suas próprias palavras
— “Sem hostilidade para com ninguém; com caridade por todos” — proferidas em
seu segundo discurso de posse, para traçar a visão de um caminho para a
restauração da União. O nome imortal que ele procurava desde o início tinha se
expandido muito além do Condado de Sangamon e Illinois, atravessando todos os
Estados verdadeiramente Unidos, até seu legado, como Stanton tinha conjeturado
no instante de sua morte, pertencer não apenas aos Estados Unidos da América,
mas à História — para ser reverenciado e louvado por todos os tempos.
Parabéns!!!
ResponderExcluirAdorei seu blog.