quinta-feira, 30 de abril de 2020

A verdade e a mentira


Certa vez, a Mentira e a Verdade se encontraram. A Mentira, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe:
– Bom dia, dona Verdade!
Zelosa de seu caráter, a Verdade, ouvindo tal saudação, foi conferir se realmente era um bom dia. Olhou para o alto, não havia nuvens de chuva; os pássaros cantavam; não havia cheiro de fumaça na mata; tudo parecia perfeito.
Tendo se assegurado de que realmente era um bom dia, respondeu:
– Bom dia, dona Mentira!
– Está muito calor hoje, não é mesmo? Disse a Mentira.
Realmente o dia estava quente demais. Desse modo, vendo que a mentira estava sendo sincera, dona Verdade começou a relaxar, a "baixar a guarda". Por qual razão haveria de desconfiar, se a Mentira parecia tão cordial e "verdadeira"?
Diante do calor insuportável, a Mentira, num gesto de aparente amizade, convidou a Verdade para juntas banharem-se no rio.
Como não havia mais ninguém por perto, a Mentira despiu-se de suas vestes, pulou na água e, dirigindo-se à Verdade, disse-lhe, insistentemente:
– Vem, dona Verdade, a água está uma delícia, simplesmente maravilhosa.
O convite parecia irrecusável. Assim sendo, dona Verdade, sem duvidar da Mentira, despiu-se de suas vestes, pulou na água e deu um bom mergulho.
Ao ver que a Verdade havia saltado na água, rapidamente a Mentira pulou para fora e, em segundos, vestiu-se com as roupas da Verdade que estavam à margem e se mandou sorrateira.
Tendo suas roupas furtadas, a Verdade saiu da água e, por sua vez – ciosa de sua reputação –, recusou-se a vestir-se com as roupas da Mentira, deixadas para trás.
Certa de sua pureza e inocência, nada tendo do que se envergonhar e não tendo outra opção que lhe fosse coerente, saiu nua a caminhar na rua.
Desde então, aos olhos das pessoas, ficou mais fácil aceitar a Mentira vestida com as roupas da Verdade do que aceitar a Verdade nua e crua.
(O texto é atribuído a uma parábola judaica)


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