Há dois tipos de palavras: as
proparoxítonas e o resto.
As proparoxítonas são o ápice da
cadeia alimentar do léxico.
Estão para as outras palavras assim
como os mamíferos para os artrópodes.
As palavras mais pernósticas são
sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às
célebres.
Se o idioma fosse um espetáculo,
permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando
o máximo.
Para pronunciá-las, há que ter ânimo,
falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!
Sob qualquer ângulo, a proparoxítona
tem mais crédito.
É inequívoca a diferença entre o
arruaceiro e o vândalo.
O inclinado e o íngreme.
O irregular e o áspero.
O grosso e o ríspido.
O brejo e o pântano.
O quieto e o tímido.
Uma coisa é estar na ponta – outra,
no vértice.
Uma coisa é estar no topo – outra, no
ápice.
Uma coisa é ser fedido – outra é ser
fétido.
É fácil ser valente, mas é árduo ser
intrépido.
Ser artesão não é nada, perto de ser
artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo
é ser Pontífice.
(Este último parágrafo contém algo
raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas,
esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)
Quer causar um impacto insólito?
Elogie com proparoxítonas.
É como se o elogio tivesse mais
mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente,
talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico,
esplêndido.
Da mesma forma, errar é humano. Épico
mesmo é cometer um equívoco.
Escapar sem maiores traumas é escapar
ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.
O que você não conhece é só
desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma
incógnita.
Ao centro qualquer um chega – poucos
chegam ao âmago.
O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a esse círculo do vernáculo – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?
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