Quem sou eu? Que importa quem?
Sou um trovador proscrito,
Que trago na fonte escrito
Esta palavra – Ninguém! –
A. E. Zaluar – Dores e Flores.
[...]
O que sou e
como penso
Aqui vai com
todo o senso,
Posto que já
veja irados
Muitos lorpas
enfunados,
Vomitando maldições
Contra as minhas reflexões.
Eu bem sei que sou
qual Grilo
De maçante e
mau estilo;
E que os
homens poderosos
Desta arenga
receosos,
Hão de
chamar-me tarelo,
Bode, negro,
Mongibelo;
Porém eu,
que não me abalo,
Vou tangendo
o meu badalo
Com repique
impertinente,
Pondo a
trote muita gente.
Se negro
sou, ou sou bode,
Pouco importa.
O que isto pode?
Bodes há de
toda a casta,
Pois que a
espécie é muito vasta...
Há cinzentos,
há rajados,
Baios,
pampas e malhados,
Bodes negros,
bodes brancos,
E, sejamos
todos francos,
Uns plebeus,
e outros nobres,
Bodes ricos,
bodes pobres,
Bodes
sábios, importantes,
E também
alguns tratantes...
Aqui, nesta
boa terra,
Marram todos,
tudo berra;
Nobres Condes
e Duquesas,
Ricas Damas
e Marquesas,
Deputados,
senadores,
Gentis-homens,
vereadores;
Belas Damas
emproadas,
De nobreza
empantufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades,
Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais.
Gentes pobres,
nobres gentes,
Em todos há
meus parentes.
Entre a
brava militança
Fulge e
brilha alta bodança;
Guardas, Cabos,
Furriéis,
Brigadeiros,
Coronéis,
Destemidos Marechais,
Rutilantes Generais,
Capitães de
mar e guerra,
– Tudo
marra, tudo berra
Na suprema
eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há
santificados,
Que por nós
são adorados.
Entre o coro
dos Anjinhos
Também há
muitos bodinhos –
O amante de
Siringa
Tinha pelo e
má catinga;
O deu
Mendes, pelas contas,
Na cabeça
tinha pontas;
Jove quando
foi menino,
Chupitou leite
caprino;
E, segundo o
antigo mito,
Também Fauno
foi cabrito.
Nos domínios
de Plutão,
Guarda um
bode o Alcorão;
Nos lundus e
nas modinhas
São cantadas
as bodinhas;
Pois se
todos têm rabicho,
Para que
tanto capricho?
Haja paz,
haja alegria,
Folgue e
brinque a bodaria;
Cesse, pois,
a matinada,
Porque tudo é bodarrada!
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