sábado, 2 de julho de 2011

Acerca do Bem e do Mal

Anterior ao cristianismo, a discussão acerca desse par de opostos considerou que se deve fazer um movimento do mal para o bem. Agostinho de Hipona apregoava que o mal era a ausência do bem, ratificando a supremacia deste sobre aquele. Não obstante essa supremacia ser coerente, politicamente correta e desejada por todos, ela contribui para a acentuação da repressão na psiquê. Talvez o mal não deva ser simplesmente expurgado da vida humana, mas compreendido e ressignificado, pois a separação das experiências, como geradoras do mal e do bem, não só é equívoco, como tem trazido consequências danosas à humanidade.
Eis os questionamentos de Jung a esse respeito: A experiência psicológica nos mostra que o "Bem" e o "Mal" constituem o par de contrários do chamado julgamento moral e que enquanto tal, tem sua origem no próprio homem. Como sabemos, só se pode emitir um julgamento aparente quando é possível o seu oposto em termos de conteúdo. A um Mal aparente só se pode contrapor um Bem igualmente aparente, e um Mal não substancial só pode ser anulado por um Bem igualmente não substancial. Um existente se contrapõe a um não existente, mas nunca um Bem existente pode contrapor-se a um Mal não existente, pois este último é uma contradictio in adjetcto [uma contradição nos próprios termos] e gera uma desproporcionalidade em relação ao bem existente: de fato, um mal não existente (negativo) só pode contrapor-se a um bem igualmente não existente (positivo). Dizer que o Mal é mera privatio boni [ausência do bem] nada mais é do que negar a antinomia Bem-Mal. Como se poderia falar de um "bem", se não existisse igualmente um "mal"? Como falar de um "claro" sem um "escuro", de um "em cima" sem um "embaixo"? A conclusão inevitável é a de que, se atribuímos um caráter substancial ao Bem, devemos atribuí-lo ao Mal.
Anos mais tarde, Jung retoma essa abordagem de forma que nos faz olhar para nós mesmos:
Que eu faça um mendigo sentar-se à minha mesa, que eu perdoe aquele que me ofende e me esforce por amar, inclusive o meu inimigo, em nome de Cristo, tudo isso, naturalmente, não deixa de ser uma grande virtude. O que faço ao menor dos meus irmãos é ao próprio Cristo que faço. Mas o que acontecerá, se descubro, porventura, que o menor, o mais miserável de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais insolente dos meus caluniadores, o meu inimigo, reside dentro de mim, sou eu mesmo, e precisa da esmola da minha bondade, e que eu mesmo sou o inimigo que é necessário amar?
Eis a questão: que fazer eu mesmo a respeito daquilo que existe dentro de mim, a que chamo de mal, e que me incomoda, portanto é real? A resposta não deverá se constituir numa tentativa de negar ou expulsar aquilo que é considerado mal, mas integrá-lo de tal forma que se torne fator de crescimento.

2 comentários:

  1. Acredito que dentro de nós, o “mal” e o “bem” estão em constante conflito, pois ao pensar o bem para mim, pode ser que esteja pensando o mal para o outro ou mesmo para o coletivo, já que não somos donos da verdade absoluta, o próprio Jesus estando entre nós, nos incentivou a tomarmos nossas próprias decisões, em suas palavras de verdade e vida nos faz refletir e travar nossas próprias batalhas e assim escolher o caminho certo, buscando o equilíbrio de ser bom renunciando o mau ou vice-versa, depende das nossas escolhas.

    Abraços, Adriana

    ResponderExcluir
  2. Cabe aqui citar um belo poema de Olavo Bilac, chamado Dualismo, onde retrata-se a relação entre o Bem e o Mal dentro de cada um de nós.

    Ele finaliza o poema da seguinte maneira:

    "E, no perpétuo ideal que te devora, residem juntamente no teu peito, um demônio que ruge e um deus que chora."

    (Genial!)

    Tenha uma ótima semana, Vastí!

    ResponderExcluir