domingo, 18 de setembro de 2011

Neoplatonismo

Imagine uma enorme fogueira crepitando no meio da noite. Do meio do fogo saltam centelhas em todas as direções. Num amplo círculo ao redor do fogo a noite é iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda é possível ver o leve brilho desta fogueira. À medida que nos afastamos, a fogueira vai se transformando num minúsculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite. E se nos afastamos mais ainda, chegaremos a um ponto em que a luz do fogo  não mais consegue nos alcançar. Em algum lugar os raios luminosos se perdem na noite e se estiver muito escuro não vamos enxergar nada. Nesse momento, contornos e sombras deixam de existir. 
Agora imagine a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é Deus - e as trevas lá fora são a matéria fria, da qual são feitos homens e animais. Junto a Deus estão as ideias eternas, que são as formas primordiais de todas as criaturas. Sobretudo a alma humana é uma "centelha do fogo". Mas por toda a parte na natureza aparece um pouco desta luz divina. Podemos vê-la em todos os seres vivos; sim, até mesmo uma rosa ou uma campânula possuem um brilho divino. No ponto mais distante do Deus vivo estão a terra, a água e as pedras.
Tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino. Podemos ver o brilho desta alguma coisa num girassol ou numa papoula. Percebemos um pouco mais deste insondável mistério numa borboleta que pousou num galho, ou num peixinho dourado que nada no aquário. Mas o ponto mais próximo em que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma. Só lá é que podemos nos re-unir com o grande mistério da vida. De fato, em alguns raros momentos podemos sentir que somos, nós mesmos, esse mistério divino.
As imagens que Plotino usa lembram a alegoria da caverna de Platão: quanto mais nos aproximamos da entrada da caverna, mais perto estamos daquilo de onde provém tudo o que existe. Mas em oposição à nítida divisão da realidade em duas partes estabelecida por Platão, a doutrina de Plotino nos convida a vivenciar a plenitude. Tudo é um, pois tudo é Deus. Até mesmo as sombras lá embaixo, na caverna de Platão, têm um tênue reflexo da "Unidade".

Um comentário:

  1. Uma postagem que, mais uma vez, me relembra Olavo Bilac. (Sou fã dele! rsrs)

    Deus

    Para experimentar Octávio, o mestre
    Diz: “Já que tudo sabe, venha cá!
    Diga em que ponto da extensão terrestre
    Ou da extensão celeste Deus está!”

    Por um momento apenas, fica mudo
    Octávio, e logo esta resposta dá:
    “Eu senhor mestre, lhe daria tudo,
    Se me dissesse onde é que ele não está!”

    (Lindo, lindo, lindo!)

    Abraços. Foi um prazer vê-la pessoalmente.

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