O tímido é, sem dúvida nenhuma, alguém muito observador. Isso lhe dá o
privilégio de perceber coisas que passam despercebidas para os “extrovertidos”,
ele pode aproveitar de forma rica e sensível a sua introversão. É isso aí! Não
é tão ruim assim ser tímido. O que devemos, portanto, é fazer uso (de forma
sábia) dessa nossa condição e não apresentá-la como justificativa para nos
fecharmos para o mundo.
O tímido, na verdade, é capaz de coisas
surpreendentes, pois é muito exigente consigo mesmo.
Passei parte da minha vida querendo ser igual aos
outros, mas descobri (a tempo) que o “barato” está, justamente, em ser
diferente. Isso me torna única, especial e inconfundível, consciente, porém, da
necessidade de evolução de que todo mundo necessita.
Há algum tempo, fiz uma descoberta realmente
estupenda: “até mesmo as pessoas tímidas e encabuladas podem, através da
autopercepção, tornarem-se ousadas, não obstante existirem aquelas que parecem
que já nasceram autoconfiantes, exalando carisma àqueles que as rodeiam.”
Chegar a esse ponto constitui-se um verdadeiro desafio, pois é uma longa
caminhada, entretanto aqueles que se dispõem a trilhar esse caminho certamente
obterão o sucesso desejado.
Há um livro – Escuta,
Charlie Brow! Sobre o privilégio de ser tímido – em que o autor, Sérgio
Coelho, faz a seguinte afirmação: todo mundo corre o risco de um dia se sentir
perdido, sem fé no próprio taco, querendo parar o mundo para poder descer. Mas
há momentos em que surge um taco que serve direitinho na nossa mão, e daí para
frente ninguém nos segura.
O autor se identifica e faz referências a Charlie
Brow, um personagem das revistas em quadrinhos de muito sucesso, principalmente
nos anos 70. O livro analisa as questões da timidez em seus múltiplos aspectos,
desde o sentimento que a caracteriza e seus significados, os recursos de que
dispõe o tímido para se comunicar com os outros, àquilo que o diferencia do
extrovertido.
Os meus escritos se constituem um saldo bastante
positivo da timidez, pois eles são filhos da minha necessidade de exteriorizar
meus pensamentos e impressões. O que escrevo foge da autobiografia
convencional, mas pode ser uma autobiografia de ideias, o registro de minhas
impressões frente à vida. Descobri uma maneira de não me sentir só. Tenho,
portanto, meu taco.
Há um trecho no livro citado que deve ser objeto de
reflexão para todos: não há fórmulas para a gente ser feliz; cada um descobre o
próprio jeito de viver, e é preciso sempre estar preparado para pôr tudo em
dúvida de novo, a qualquer momento. Eis aqui uma proposta desafiadora.
Posso então afirmar que já logrei algum êxito, mas
asseguro que é um processo lento e difícil, porém cada obstáculo superado
significa uma vitória extraordinária. Se não venci minha timidez, certamente
desenvolvi uma atividade prazerosa graças a ela. É preciso lembrar, no entanto,
que às vezes há uma preocupação demasiada no objetivo de nos tornarmos
“normais”. Um estudioso do comportamento humano escreveu:
Ser normal é talvez a coisa mais inútil e
conveniente com que podemos sonhar; mas a noção do “ser humano normal”, tal
como o conceito de adaptação, implica limitar-se à média [...]. Ser “normal” é
o ideal dos que não têm êxito, de todos os que ainda se encontram abaixo do
nível geral de adaptação. Mas para as pessoas dotadas de capacidades acima da
média, que não encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar
a sua quota – parte de trabalho no mundo, para estas pessoas a compulsão moral
a não serem nada senão normais, significa o leito de Procusto: mortal e
fastidioso, um inferno de esterilidade e desespero.
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