quarta-feira, 5 de março de 2014

SOBRE SER TÍMIDO – Um jeito especial de ver a vida

O tímido é, sem dúvida nenhuma, alguém muito observador. Isso lhe dá o privilégio de perceber coisas que passam despercebidas para os “extrovertidos”, ele pode aproveitar de forma rica e sensível a sua introversão. É isso aí! Não é tão ruim assim ser tímido. O que devemos, portanto, é fazer uso (de forma sábia) dessa nossa condição e não apresentá-la como justificativa para nos fecharmos para o mundo.
O tímido, na verdade, é capaz de coisas surpreendentes, pois é muito exigente consigo mesmo.
Passei parte da minha vida querendo ser igual aos outros, mas descobri (a tempo) que o “barato” está, justamente, em ser diferente. Isso me torna única, especial e inconfundível, consciente, porém, da necessidade de evolução de que todo mundo necessita.
Há algum tempo, fiz uma descoberta realmente estupenda: “até mesmo as pessoas tímidas e encabuladas podem, através da autopercepção, tornarem-se ousadas, não obstante existirem aquelas que parecem que já nasceram autoconfiantes, exalando carisma àqueles que as rodeiam.” Chegar a esse ponto constitui-se um verdadeiro desafio, pois é uma longa caminhada, entretanto aqueles que se dispõem a trilhar esse caminho certamente obterão o sucesso desejado.
Há um livro – Escuta, Charlie Brow! Sobre o privilégio de ser tímido – em que o autor, Sérgio Coelho, faz a seguinte afirmação: todo mundo corre o risco de um dia se sentir perdido, sem fé no próprio taco, querendo parar o mundo para poder descer. Mas há momentos em que surge um taco que serve direitinho na nossa mão, e daí para frente ninguém nos segura.
O autor se identifica e faz referências a Charlie Brow, um personagem das revistas em quadrinhos de muito sucesso, principalmente nos anos 70. O livro analisa as questões da timidez em seus múltiplos aspectos, desde o sentimento que a caracteriza e seus significados, os recursos de que dispõe o tímido para se comunicar com os outros, àquilo que o diferencia do extrovertido.
Os meus escritos se constituem um saldo bastante positivo da timidez, pois eles são filhos da minha necessidade de exteriorizar meus pensamentos e impressões. O que escrevo foge da autobiografia convencional, mas pode ser uma autobiografia de ideias, o registro de minhas impressões frente à vida. Descobri uma maneira de não me sentir só. Tenho, portanto, meu taco.
Há um trecho no livro citado que deve ser objeto de reflexão para todos: não há fórmulas para a gente ser feliz; cada um descobre o próprio jeito de viver, e é preciso sempre estar preparado para pôr tudo em dúvida de novo, a qualquer momento. Eis aqui uma proposta desafiadora.
Posso então afirmar que já logrei algum êxito, mas asseguro que é um processo lento e difícil, porém cada obstáculo superado significa uma vitória extraordinária. Se não venci minha timidez, certamente desenvolvi uma atividade prazerosa graças a ela. É preciso lembrar, no entanto, que às vezes há uma preocupação demasiada no objetivo de nos tornarmos “normais”. Um estudioso do comportamento humano escreveu:
Ser normal é talvez a coisa mais inútil e conveniente com que podemos sonhar; mas a noção do “ser humano normal”, tal como o conceito de adaptação, implica limitar-se à média [...]. Ser “normal” é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que ainda se encontram abaixo do nível geral de adaptação. Mas para as pessoas dotadas de capacidades acima da média, que não encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar a sua quota – parte de trabalho no mundo, para estas pessoas a compulsão moral a não serem nada senão normais, significa o leito de Procusto: mortal e fastidioso, um inferno de esterilidade e desespero.

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