sábado, 5 de novembro de 2016

Ter uma catedral na cabeça

O texto a seguir foi retirado do livro Falar de amor à beira do abismo, de Bóris Cyrulnik. Foi postado numa rede social por Clarissa Paiva e eu me encantei.
No caminho de Chartres, Péguy vê à beira da estrada um homem quebrando pedras com grandes golpes de maço. Seu rosto exprime infelicidade, e seus gestos, raiva. Péguy se detém e  pergunta:
O que o Senhor está fazendo?
Como pode ver, não encontrei outra profissão senão esta estúpida e dolorosa responde-lhe o homem.
Um pouco mais adiante, Péguy percebe outro homem, que também quebra pedras, mas seu rosto está calmo e seus gestos harmoniosos.
O que está fazendo, senhor? pergunta-lhe Péguy.
Pois bem. Ganho a vida graças a esta profissão cansativa, mas que tem a vantagem de ser ao ar livre respondeu-lhe ele.
Mais adiante, um terceiro quebrador de pedras irradia felicidade. Sorri ao descer o maço e olha com prazer os fragmentos de pedra.
O que está fazendo? pergunta-lhe Péguy.
Responde esse homem:
Estou construindo uma catedral.
A pedra desprovida de sentido submete o infeliz à realidade, ao imediato que nada mais oferece à compreensão senão o peso do maço e o sofrimento do golpe; ao passo que aquele que tem uma catedral na cabeça transfigura a pedra e experimenta um sentimento  de elevação e de beleza provocado pela imagem da catedral de que já se orgulha.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário