RIO DE JANEIRO – Um marinheiro americano, 18,
beijou uma enfermeira, 27, na Times Square, a 14 de agosto de 1945. O fotógrafo
Alfred Eisenstaedt, da ``Life", estava na mira. O beijo foi capa da
revista, é um dos logotipos do nosso século, possivelmente o mais bonito num
tempo que produziu outros logotipos como Hiroshima, Holocausto, Guerra Civil
Espanhola, Vietnã, Biafra, Etiópia e derivados.
Agora, 50 anos depois do fim da guerra no
Pacífico, uma rede de televisão americana procurou os dois personagens, que não
se conheciam na época e nunca mais se encontraram. A enfermeira fora
identificada em 1980, mas o marinheiro permaneceu desconhecido até há pouco.
Pela foto de 1945, parecia um pouco com Frank
Sinatra num daqueles filmes em que ele aparece como marinheiro mesmo – um
esforço de guerra, evidentemente. A rede criou um prêmio para quem provasse que
era o rapaz cuja euforia foi o melhor símbolo da paz que voltava ao mundo.
Apareceram vários candidatos, todos querendo
ganhar a grana firme. Gente esperta, provavelmente da escola neoliberal, que
considera o lucro como o supremo valor da existência humana. Foram
desmascarados pela enfermeira, que perguntava a cada um deles o que haviam se
dito na hora.
Até que os netos de Carl Muscarello, um policial
aposentado, obrigaram-no a ir ao programa. A enfermeira o reconheceu, pois foi
o único que passou no teste: ele a beijara na rua e fora embora, beijar outras
moças. Tinha 18 anos, o mundo estava em paz e ele estava feliz.
No estúdio, Carl beijou a enfermeira. Apesar das
idades, ele com 68, ela com 77 anos, o entusiasmo foi o mesmo. Beijo na boca,
com direito a tudo que um beijo tem e dá. E, como da primeira vez, ele não
disse nada. Recusou o prêmio: ``Não estou interessado em dinheiro". E,
ainda como da primeira vez, mostrou ao mundo pós-moderno um valor que os
neoliberais atribuem ao período cambriano, com seus dinossauros fossilizados.
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