Antes
crescei na graça e no conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A Ele
seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade.
(2
Pedro, 3.18)
A viagem é a concretização de um projeto das Faculdades EST e do Instituto Brasileiro de Teologia. O projeto surgiu no Programa de Pós-graduação e Pesquisa da Faculdades EST e contou com a assessoria dos professores Ms. Verner Hoefelmann (EST) e Doutorando Tiago Samuel de Carvalho (IBT, EST). Além disso, a viagem contou com assessoria de professores ou Arqueólogos de Israel. Ao fim do curso, cada integrante do grupo foi certificado pela EST e IBT. Antes da viagem, o programa contou com uma preparação prévia, através de uma sala do Ambiente Virtual, no qual foram postados textos de preparação para cada local a ser visitado.
A Escola Superior de Teologia/EST é
um importante centro de formação e pesquisa no Brasil e um dos mais
conceituados da América Latina. Ela tem como objetivo geral promover a formação
acadêmica e fomentar a pesquisa científica no campo das ciências humanas,
sociais aplicadas, linguística, letras, artes e saúde. A EST também oferece
cursos de Graduação, Especialização, Mestrado e Doutorado em Teologia avaliado
pela CAPES com nível de Excelência Internacional.
1º Dia – 05
/04 – São Paulo / Londres
Aeroporto
Internacional de Guarulhos, para embarque no voo com destino a Londres.
2º Dia –
06/04 – Londres / Cairo
Chegada ao Aeroporto de Londres.
Após trâmites de imigração, City Tour Panorâmico com parada para fotos
nos principais ícones londrinos. Retorno ao aeroporto e providências de
reembarque com destino à Cidade do Cairo - EGITO. Recepção pelo
representante local e traslado ao hotel. Hospedagem e jantar.
-Segue um registro imagético da
estada em Londres, num dia de primavera.
Agora, é preciso entender a
passagem pelo Egito rumo à Terra Santa!
O EGITO DE DEUS: A IMPORTÂNCIA
DO ANTIGO EGITO NA HISTÓRIA DE ISRAEL
(Daniel
Henrique Strege)
Israel não foi um povo que surgiu
sozinho e isolado dos demais povos e culturas. Israel se tornou um povo e
depois nação, porque conviveu com outros povos. Toda a sua história foi marcada
por contato com outros povos, contatos às vezes bons, e muitas vezes ruins. Mas
foi através destes contatos, destas relações que Israel foi se identificando
como sendo um povo diferente.
Para entender o desenvolvimento e
amadurecimento de Israel, é importante também conhecer esses outros povos que
conviveram com ele. Assim, o primeiro material a que se pode recorrer é a
Bíblia. Mas, na Bíblia há poucos relatos contando exatamente quem eram, o que
faziam e como viviam esses povos que influenciaram os israelitas. Há apenas
alguns relatos mostrando a visão que os próprios israelitas tinham da situação,
e essa visão não ajuda muito a entender esses povos, e principalmente a
influência que exerceram sobre Israel.
Por isso, este trabalho tem a
função de aproximar o leitor um pouco de uma das culturas que influenciou
grandemente o povo de Israel, o Egito. Através dos resultados de uma pesquisa
nas áreas histórica, teológica, geográfica e política, o leitor conseguirá
entender e conhecer melhor essa grande civilização, como também poderá assimilar
melhor a importância da estada dos israelitas no Egito e o próprio evento Êxodo
para o desenvolvimento da história de Israel.
1
EGITO
Para
se falar do Êxodo e das influências recebidas pelos descendentes de Israel por
parte dos egípcios, é necessário contextualizar e analisar o ambiente no qual
toda essa trama aconteceu. Assim, por intermédio dos relatos bíblicos, da
história e da arqueologia, serão abordados os aspectos culturais, históricos,
geográficos políticos e demais fatores egípcios que incidiram sobre a história
do Êxodo.
1.1
Contextualização.
Antes
de abordar os aspectos mais relevantes do Egito, é necessária uma
contextualização dos relatos bíblicos com o auxílio da história e da
arqueologia.
1.1.1
Contextualização bíblica – um breve resumo dos principais acontecimentos da
história israelita.
Segundo
a narrativa bíblica, a história do povo de Israel no Egito começa com a pessoa
de José (Gn 37-50), filho favorito de Jacó (Israel), o qual é vendido pelos
próprios irmãos a uma caravana de mercadores ismaelitas, e acaba indo trabalhar
na corte do rei do Egito (faraó). Reviravoltas acontecem na vida de José, e
assim, de escravo passa para um cargo de alto funcionário da guarda real, é
feito prisioneiro injustamente, e a partir da prisão se torna governador (grão
vizir) do Egito, o segundo em questão de poder no país, menor somente em
relação ao próprio faraó.
Uma
grande seca ocorre por toda a região próxima ao Egito. Mas o país havia sido
preparado por José para enfrentar esse período de fome, armazenando muitos
grãos em diversos silos pelo país. Além disso, a situação no delta do Nilo
torna a região menos dependente do regime de chuvas. Assim, quando a fome
abalou os países vizinhos, muitas pessoas foram ao Egito em busca de alimento.
Entre
os que buscavam alimento, estavam os familiares de José, mais especificamente
seus irmãos. José os reconhece, e aos poucos reestabelece o contato com eles,
como também com seu pai, Israel. E assim, com o favor do faraó, Israel com seus
filhos, noras e netos passam a residir no Egito, onde puderam viver mais
próximos de José e onde se tornou uma ‘grande nação’9, como havia sido
prometido a Abraão há muitos anos antes.
Conforme
a narrativa bíblica, esses hebreus ficaram no Egito por aproximadamente 430
anos. Mas, a narrativa bíblica não dá detalhes do que aconteceu neste meio
tempo com os descendentes de Israel enquanto estavam ali. Apenas diz-se que
subiu ao trono do Egito um novo rei que “nada sabia sobre José” e que subjugou
o povo de Israel a uma forma de trabalho forçado, como qual não havia sido
anteriormente. Os israelitas foram forçados a construir as cidades-celeiro de
Pitom e Ramessés, como também a trabalhar na produção agrícola de forma
forçada.
Em
meio a essa situação de pressão que os israelitas viviam surge Moisés, um
israelita que foi cuidado pela corte do faraó e cresceu nela. Moisés, após ter
uma experiência com Deus por meio de uma sarça, recebe a missão de liderar a
saída dos israelitas do Egito rumo a Canaã.
Segundo
a narrativa bíblica, o faraó foi desafiado por Moisés e seu irmão, de nome
Arão, a deixar os israelitas saírem. Mas, os israelitas compunham já uma grande
parcela da população, e deixar todas estas pessoas saírem, apresentaria uma
grande perda econômica para o país, pois a mão-de-obra israelita era essencial
tanto para a construção como para as atividades agrícolas. A saída dos
israelitas também poderia significar uma fraqueza no governo exercido pelo
faraó. Por estes motivos o faraó se mostrou contrário à ideia de liberdade
israelita.
A
partir daí, por intermédio de Deus, o Egito é assolado por uma sequência de pragas
que atingem e abalam toda a vida social, econômica, religiosa e política do
país. Assim, após a chegada da última praga, os israelitas são liberados para
saírem do Egito, e então ocorre o conhecido ‘Êxodo’ israelita pelo deserto em
direção à terra de Canaã.
Após
este apanhado bíblico da História de Israel no Egito, cabe aqui perguntar onde
este evento do Êxodo se encaixa na história do próprio Egito.
A
história do Egito Antigo pode ser dividida em três grandes períodos: Antigo
império (3200-2100 a.C.), Médio Império (2100-1580 a.C.), e Novo Império (1580-715
a.C.). O Antigo Império é talvez um dos mais importantes períodos da história
egípcia. A partir de 3200, o rei Menés unificou os dois reinos (do sul e do
norte) sob o seu comando e criou assim um único Estado. Neste período o país
passou por grandes desenvolvimentos na tecnologia, arte, arquitetura, como
também na escrita. Neste período também foram construídas as famosas pirâmides
e a grande Esfinge que permanecem até os dias de hoje.
Em
seguida houve um período de grande instabilidade no país, provocada por uma
falta de cheias do Nilo, que resultaram em uma grande escassez de comida e um
consequente declínio político, visto que a estabilidade do país era função do
rei do Egito (faraó). Após esta instabilidade o país passou pelo período
chamado Médio Império, um período de restauração política e econômica. A
produção agrícola teve um grande avanço, e a riqueza mineral se tornou um
grande potencial do país.
Destaca-se
neste período também a adoração de Osíris, o deus da morte e da revivificação
por todo o Egito.
Após
esse período de estabilidade e crescimento econômico, uma forte crise se
instalou no país. Tal crise também se acentuou devido à ocupação dos hicsos,
vindos da região de Canaã. Até então os egípcios não haviam passado por
qualquer forma de ocupação por inimigos, isso graças à geografia do continente
que fornecia ao país ‘muralhas naturais’, e o mantinha, de certa forma,
protegido.
A
última fase clássica do Antigo Egito é denominada Novo Império, e esta fase é
de extrema importância para a contextualização do êxodo israelita, pois
comporta todos os acontecimentos narrados anteriormente do povo de Israel
enquanto estiveram em terras egípcias.
O
Novo Império tem início com a expulsão dos hicsos por Ahmose I, fundador da
XVIII dinastia egípcia. A XVIII dinastia foi na história do Egito uma das mais
importantes e a talvez a mais diversificada, pois por meio dela o Egito
estendeu seu território até a Síria-Palestina. É nesta dinastia que se encontra
também Amenófis IV (1353-1337 a.C.) conhecido mais popularmente como Akhenaton.
O faraó que disseminou pelo Egito uma fé monoteísta, a adoração do disco solar
(Aton), o deus primordial que criou o universo, e que um dia iria destruí-lo
fazendo com que a terra voltasse às águas primordiais.
Segundo
uma das teorias mais aceitas pelos historiadores, foi também durante a XVIII
dinastia que o povo de Israel esteve no Egito. Esta teoria se baseia em
cálculos feitos a partir de outros textos bíblicos. O texto base desta teoria
se encontra no primeiro livro de Reis, que diz: “quatrocentos e oitenta anos
depois que o povo de Israel havia saído do Egito, no quarto ano do reinado de
Salomão...”. É sabido que o quarto ano do reinado de Salomão corresponde ao ano
de 967 a.C., sendo assim, o Êxodo seria datado do ano de 1447 a.C. Desta forma,
a saída do povo de Israel do Egito ocorreu sob o reinado de Tutmosis III (1479-1425),
um faraó da décima oitava dinastia, responsável por realizar dezoito campanhas
militares pela Síria-Palestina, ampliando o território egípcio até o rio
Eufrates. Ele é conhecido como “o maior líder militar da história egípcia, ele
estabeleceu um poder absoluto no Egito”.
Datar
o êxodo nesta época explicaria muito bem a situação de opressão narrada no
texto bíblico. Tendo em mente que o faraó teria feito cerca 18 campanhas
militares longas pelo interior da Síria-Palestina, seriam necessários muitos
recursos/mantimentos como também mão de obra barata para a produção dos mesmos.
Assim, os hebreus que ali viviam eram fundamentais para manter as campanhas
feitas pelo faraó, e dificilmente seriam liberados do Egito com facilidade.
Outra
data provável para o Êxodo é 1270 a.C. Os estudiosos que defendem ser esta a
data mais aceitável, baseando-se também em textos bíblicos. Segundo o livro de
Êxodo, “os israelitas construíram para o faraó cidades-celeiros chamadas Pitom
e Ramessés. O nome Ramessés pode, sem dúvida nenhuma, ser associado a Ramsés II
(1279-1213 a.C.) o maior faraó da décima nona dinastia do Egito.”
O
Segundo argumento é que: Os israelitas viviam na terra de Gósen, na região
leste do Delta. Como Êxodo 7.23 indica, o faraó possuía um palácio nessa
região. A capital de Ramsés era Pi-Ramesse, um local conhecido hoje como
Qantir, situado no Delta, enquanto a capital da décima oitava dinastia era
Tebas, centenas de quilômetros ao sul do Delta.
Assim,
não se pode dar uma reposta definitiva sobre qual das datas é a correta para o
Êxodo. Mas sabe-se que ocorreu entre a metade e o início do segundo milênio
antes de Cristo (1450-1270 a.C.), entre a XVIII e XIX dinastias egípcias.
Tendo
em vista o vasto território que o império egípcio possuía, principalmente
durante a XVIII e XIX dinastias, é salutar abordar neste trabalho o contexto
geográfico que lhe permitiu se tornar tão grande, e conhecido por ser o
‘celeiro do mundo antigo’.
Como
já dizia Heródoto, “o Egito é uma dádiva do Nilo”. O Egito se constituiu como
um país unificado aproximadamente em 3000 a.C., ao redor do Rio Nilo e foi
somente por meio do rio Nilo que o Egito pode existir, como disse a repórter e
jornalista Sônia Bridi, “O Egito é o Nilo, o resto é o imenso Saara”. O Egito
era cercado por imensas áreas desérticas que lhe proporcionavam uma espécie de
muralha natural contra invasão de outros povos, pois nenhum exército
subsistiria atravessando um imenso deserto como o Saara. Essas defesas naturais
fizeram com que o Egito não precisasse se preocupar tanto com defesas, tanto é
que dos povos antigos, o Egito é o único povo que não investiu em muralhas para
o seu território. Os únicos modos de se invadir o Egito eram pela linha do
crescente fértil, ou então pelo próprio mar Mediterrâneo, pois pelo oeste e sul
havia o grande Saara e pelo leste o Mar vermelho com uma imensa cadeia de
montanhas altíssimas fazia uma defesa imbatível para o território egípcio.
Falando
da geografia do Egito, é necessário nos aprofundar mais no próprio Rio Nilo,
pois é a sua volta que o Egito se tornou um grandioso império.
O
Rio Nilo é o rio mais longo do mundo, alcançando cerca 6.670 km de extensão. Tinha
suas cheias anuais em setembro, quando o rio trazia consigo toneladas de
sedimentos que iam se assentando por toda a margem do rio. Conforme as águas
iam baixando os campos começavam a ser plantados e como não era necessário
adubar a terra, pois o próprio rio já havia feito este serviço, a agricultura
ao redor do Nilo se tornou grandiosa, muito antes do que em qualquer outro
lugar do mundo (no Egito já se trabalhava com agricultura em longa escala muito
tempo antes dos israelitas chegarem lá). Assim, em março era feita a colheita, um
tempo antes da redução máxima do volume de água do rio, que ocorria em maio.
O
Egito vivia praticamente da agricultura, deste modo, quando começava a
temporada de chuvas/cheia do Nilo, as pessoas não tinham o que fazer, então
trabalhavam para o faraó, principalmente nas construções. Foi desta maneira que
surgiram as grandes pirâmides, a esfinge, e segundo o que a própria Bíblia
deixa a entender, foi desta maneira que viveram os israelitas no Egito: ‘E
assim os israelitas construíram para o Faraó as cidades-celeiros de Pitom e
Ramessés’ (Êxodo 1.11a. NVI), ao menos no período da opressão.
Pitom
e Ramessés, as cidades construídas pelos israelitas, faziam parte de uma região
conhecida nos relatos bíblicos como “Gósen” e em alguns relatos como “Zoã”.
Esta região ficava ao norte do Egito, a leste no delta do Nilo. Segundo o
relato bíblico, era considerada umas das melhores terras da região,
principalmente porque era altamente irrigada pelos diversos braços do Nilo.
Assim, era muito propícia para a criação de gado, atividade da qual viviam os
israelitas em Canaã.
Assim,
pode-se ter em mente que o povo de Israel gozou de certa estabilidade econômica
e social durante sua estada no Egito, ao menos enquanto José era vivo,
estabilidade talvez nunca desfrutada antes, desde o chamado de Abraão. Uma
prova disso é que o próprio José viveu cento e dez anos de idade,40 uma idade
muito superior à que o próprio Antigo Testamento colocava como idade normal de
velhice, que era cerca de setenta a oitenta anos.
1.2
Cultura, religião, economia, política e organização social egípcia.
Existem
ainda outros pontos de fundamental importância a serem abordados sobre o Egito.
Entre eles, a própria figura do faraó.
O
faraó, nome dado pelos hebreus na tentativa de pronunciar o nome egípcio Per-Âa,
se tornou a autoridade máxima de todo o Egito em 3000 a.C. aproximadamente,
quando o Rei Menes uniu o Baixo e o Alto Egito sob sua autoridade. Este nome ‘Per-Âa’,
no Egito significava ‘casa grande’, se referia ao palácio onde
ficava o rei do Egito “sede da administração, de onde tudo emana e para onde
tudo converge.” Assim, o nome do palácio acabou designando a função daquele que
ali morava: o faraó, ou Per-Âa do Egito.
Diferentemente
dos demais povos antigos, o rei do Egito não tinha apenas a função de governar
seu território. O título de faraó carregava em si tanto aspectos sociais como
religiosos. O faraó não era um simples ser humano com poder, ele era tratado
como um deus, considerado a própria encarnação do deus Hórus. “O rei não tem
apenas origem divina; ele é a expressão do próprio deus. Mais que senhor dos
exércitos ou supremo juiz, o faraó é o símbolo vivo da divindade.”
A
pergunta é: como ele pode ser a encarnação de um deus, se não é imortal, se
possui a longevidade como a de um ser humano normal? Se o faraó era sepultado
como os demais egípcios, de que forma Hórus sempre reencarnava nos próximos
faraós? A solução era a seguinte: a divindade (Hórus) não está na ‘pessoa’ do
faraó, mas sim na sua coroa, no seu ‘cargo’, assim, quando um faraó morre e outro
assume o seu cargo, o Hórus, que estava no outro faraó que estava vivo,
continua vivo no novo faraó por meio da coroa.
Assim,
se faz necessário entender a importância do deus Hórus para o reinado do faraó.
Hórus faz parte de uma tríade ou ‘trindade’ de deuses composta por ele (Hórus),
Ísis e Osíris.
No
Egito muito antigo, Osíris reinava absoluto sobre o Egito. Osíris tinha um
irmão chamado Seth, que invejava o trono do irmão (Seth é considerado o deus do
caos e da desordem). Em determinado momento Seth mata Osíris, o esquarteja e
jogo os membros de seu corpo no rio Nilo, transformando todas as águas do Nilo
em sangue. Ísis, esposa de Osíris, quando vê as partes do marido dispersas pelo
Nilo, chora desesperadamente e procura por todo o rio todos os membros para reconstruí-lo.
Viaja por todo Nilo juntando as partes do marido, mas acaba não encontrando seu
membro viril. Assim, o substitui por um junco, e tem uma relação com ele. Deste
relacionamento então nasce Hórus. Enquanto Osíris estava morto, Seth assumiu o
governo do Egito e o regeu com caos e desordem. Hórus nasce, cresce, e parte em
vingança contra Seth, pela morte de seu pai, e o expulsa do Egito,
reestabelecendo a ordem e a justiça do mundo (Egito). Assim, para os egípcios o
Egito é o mundo, e é governado por Hórus que se reencarna na pessoa do faraó.
Fora do Egito existe o caos e a desordem e é onde Seth habita.
Essa
teologia por trás do cargo do faraó lhe dava uma autoridade e uma
responsabilidade como qualquer rei de outro povo jamais teve ao longo da
história. A principal responsabilidade do faraó era manter a ordem no país, a
ordem social, política, e mesmo da natureza. O faraó somente conseguia fazer
isso por meio do culto dos deuses, ou seja, tinha de manter os deuses fortes
através do culto para que o Egito não fosse dominado pelo caos e a desordem.
O
faraó possuía poder absoluto e este poder o tornava responsável também pelas
cheias e as secas do Nilo, que eram fundamentais para a agricultura. Tendo em
mente a geografia do Egito, predominantemente dominada por desertos, onde
raramente se via chuva (pois estas ocorriam na cabeceira dos rios que formam o
Nilo, e as cheias se davam também pelo derretimento da neve no topo das
montanhas a leste do Nilo), as pessoas, principalmente ao norte do Egito, não
tinham como explicar de que maneira ocorriam as cheias e secas do Nilo. Assim,
era claro para eles que tanto a cheia quanto a estiagem eram acontecimentos
divinos, que não se podia explicar. Portanto, aí cabia a função do faraó:
garantir que o Nilo tivesse o seu ciclo normal durante todo o ano, pois se o
faraó falhasse na sua função de manter a ordem, todo o Egito ficaria sem
produção, o que resultaria em uma grande catástrofe, trazendo fome, miséria e
um enorme enfraquecimento do império. E o interessante na história do Egito é
que períodos de grande crise na agricultura, por falta ou excesso de chuvas no
Nilo, foram os momentos que geraram grande instabilidade política, por exemplo,
a invasão dos hicsos no período entre o médio e o novo império que foi
precedida por um enfraquecimento do país, devido a um grande período de seca,
que afetou o Nilo.
Mas
o faraó não ficava somente em seu palácio atuando e dando ordens, “O rei era
também chefe militar”, diz Pinsky falando ainda sobre as funções que cabiam ao
faraó desempenhar no seu governo. No Antigo e Médio Império, o Egito se manteve
mais isolado, apenas resguardando o cuidado e a ordem do território que
possuía. Mas “no Novo Império o Egito torna-se expansionista, desempenhando
papel militar e político na região.” Têm destaque os faraós Ramesés II e Tutmés
III, que conseguiram levar o império egípcio até as bordas do rio Eufrates. Como
já foi dito, é fato que o rei do Egito não era como os demais reis dos outros
povos antigos. “O faraó é, além de sumo sacerdote e chefe militar, o juiz
supremo, aquele que decide as petições em última instância.”
Anteriormente
falou-se sobre o ciclo natural do Nilo.Este ciclo de cheia e estiagem,
plantação e colheita que o Nilo fornecia também era a base para o sistema
social no qual os habitantes do Egito viviam, principalmente camponeses e
estrangeiros. Estes, camponeses e estrangeiros, estavam estritamente ligados à
produção econômica do Egito. Eram os responsáveis pela agricultura.
A
agricultura significava praticamente todo o poder do Egito. Sem ela o Egito era
um país fraco e desprotegido, sujeito à extinção. As colheitas feitas nas
margens do Nilo garantiam o sustento de toda a população do Egito durante o
período de seca intensa. Assim, por mais que o representante máximo do poder do
Egito fosse o faraó, aqueles que asseguravam a grandeza do império eram os
agricultores. Isto porque os agricultores não trabalhavam somente com a
agricultura. Como já mencionado anteriormente, no período de cheias do Nilo, os
camponeses, juntamente com os estrangeiros, eram obrigados a trabalhar nas
construções do faraó. Ou seja, os camponeses, como também os estrangeiros (aqui
enquadram-se também os israelitas) não eram totalmente livres, mas também não
eram escravos no sentido como se entende a escravidão hoje em dia (por exemplo
a escravidão a qual foram submetidos os africanos e os indígenas no período
colonial no território brasileiro). Tecnicamente falando, os israelitas, como
também os camponeses do Egito, viviam sob um regime de corveia. Mas para o povo
israelita, que possuía uma vida de nômade em Canaã, ser obrigado a prestar
serviço gratuito a um senhor por um longo tempo era uma forma de escravidão. E
este aspecto de escravidão se torna ainda mais acentuado nos últimos anos de
estadia no Egito, pois pelo que o texto bíblico deixa a entender, os israelitas
viveram confortavelmente no Egito por longos anos até serem de fato oprimidos
pelo poder de um novo governante.
Forma de governo amplamente
utilizada na idade média que consistia na prestação de trabalhos gratuitos por
parte dos servos ao senhor Feudal para obtenção de parte ou uso de terras do
feudo.
Assim,
pode-se ter uma básica noção do contexto no qual os hebreus viveram quando
estiveram no território egípcio. Ao que o relato bíblico e a própria história
indica, na maior parte do tempo em que estiveram povoando o Egito, os
israelitas gozaram de certo conforto e estabilidade, podendo se desenvolver e
crescer recebendo o cumprimento da promessa que Deus havia dado a Abraão de que
se tornaria uma grande nação
2
O SIGNIFICADO DO EGITO PARA ISRAEL
A
estada no Egito foi de fundamental importância para a história do povo de
Israel. Foi a partir dali que começaram a se entender como um povo, e não mais
como um mero agrupamento familiar. Ali começaram a ver e entender Deus não
somente como um ser divino que promete bênçãos, mas que entra na história para
fazer se cumprir as promessas dadas no passado. Veem a face do Deus que se
importa com aqueles que sofrem e são oprimidos.
É a
partir do Êxodo que começam a crer que existe um Deus mais poderoso do que os
demais, ou então que os demais deuses são apenas farsas. É a partir do Êxodo
que a relação do povo de Israel se torna mais íntima com Deus e começa a se
formar o monoteísmo israelita. O tempo de estadia dos israelitas no Egito fez
com que eles percebessem que Deus é o senhor da história e que Ele age de
acordo com seus próprios planos, usando até mesmo o mal para fazer o bem, e não
deixando impunes aqueles que causam o mal.
2.1
Significado de José para a história dos israelitas –
2.1.1
A promessa de Deus
Sabe-se
que a história do povo de Israel começa com a vocação de Deus a Abrão,
chamando-o do meio dos seus parentes para uma nova terra, onde se tornaria uma
grande nação.
Então
o Senhor disse a Abrão: Saia de tua terra, do meio dos seus parentes e da casa
de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande
povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção.
Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio
de você todos os povos da terra serão abençoados.51
Esta
promessa dada a Abraão perpassa toda a história dos patriarcas, o Êxodo, a
emancipação de Israel, a monarquia e até mesmo o exílio para a Babilônia. E por
que ela é tão importante para se falar do período em que os israelitas
estiveram no Egito? Porque foi no Egito que metade desta promessa começou a ser
cumprida. Assim, começando pela história de José, vamos analisar como esta
promessa se cumpriu.
Israel
(Jacó) vivia com seus filhos e familiares em Canaã, a terra prometida por Deus
a Abraão. Ali cuidavam de ovelhas e viviam uma vida seminômade, deslocando-se
eventualmente para outras regiões onde encontrassem pasto para os rebanhos. A
vida deles não era estável, pois algumas vezes topavam com outros pastores, o
que gerava contendas, principalmente por causa de água para saciar os rebanhos.
Também não podiam possuir muitos bens, pois não tinham estadia fixa, mudavam de
acordo com a disponibilidade de alimento e água para os rebanhos. Assim, todos
estes fatores contribuíam para que não conseguissem se tornar uma grande nação,
como era a promessa de Deus a Abraão.
Onde
a história de José se encaixa na história da promessa de Israel? Tecnicamente
falando, José não é listado pela tradição do Antigo Testamento como um
patriarca, mas apesar disso,
A
narrativa de José tem ligações com o material precedente e subsequente, sendo o
elo entre as narrativas patriarcais e o relato do Êxodo. José e filho de Jacó
que é filho de Isaque, filho de Abraão. A narrativa de José é o relato da
continuação da promessa.
É em
José que a promessa dada a Abraão começa de fato a ser cumprida. Como já dito
anteriormente, Jacó e seus filhos não possuíam muitos bens, tanto pelo fato de
não serem tão influentes, como pela vida nômade que levavam, que os
impossibilitava de transportar grande quantidade de bens. Como o próprio texto
bíblico também já deixou claro, eles não tinham moradia fixa. Tudo isso os
deixava muito vulneráveis ao bom andamento do ciclo da natureza. No caso, uma
seca muito severa e prolongada nesta região poderia trazer muitos prejuízos
econômicos, visto que os rebanhos não teriam o que comer, e eles não possuíam
armazém para se prevenir. Além disso, uma seca severa poderia significar o
enfraquecimento e até mesmo a morte de muitos membros da família, colocando a
promessa de Deus em sérios riscos de não se cumprir. Por isso, na história da
vida de José, Deus mostra como é Senhor da história e faz com que as coisas
cooperem para o propósito que ele tem.
Em
um primeiro instante, parece que José foi afastado da promessa de Deus, pois ao
ser vendido pelos seus irmãos, é levado para longe da terra prometida.55 Mas a
narrativa deixa clara a ligação de José com a promessa por meio das seguintes
afirmações: “o Senhor estava com José” (Gn 39.2), “O Senhor abençoou a casa do
egípcio por causa de José.” (Gn 39.5), “mas o Senhor estava com ele e o tratou
com bondade” (Gn 39.21).
Também
o ‘dom’ recebido por José de interpretar sonhos tem estreita ligação com o
cumprimento da promessa. Enquanto estava no meio de sua parentela, José apenas tinha
sonhos, talvez profecias do que aconteceria. Mas enquanto esteve no Egito, não
era mais ele quem tinha os sonhos, mas sim os egípcios. Deus capacita José para
interpretar os sonhos não apenas para que ele tenha uma elevação no seu status,
mas para que chegue ao lugar necessário para fazer o que Deus havia planejado:
salvar milhares de pessoas de uma seca terrível que assolaria tanto o Egito,
quanto Canaã, onde viviam Jacó e sua família. Ao menos é isso que o próprio
José diz na ocasião posterior à morte de Jacó: “vocês planejaram o mal contra
mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de
muitos.”
2.2
O papel do Egito no cumprimento da promessa
A
pergunta agora se torna: por que Deus manda José para o Egito? Segundo o
historiador André D. Reinke, dois motivos, no mínimo, fazem o Egito se tornar
essencial para a salvação dos israelitas. O primeiro: a função principal do
faraó era manter a ordem e a justiça no mundo (reino) para assim garantir uma
vida de qualidade para os seus habitantes. Ou seja, o Egito foi escolhido
porque possuía, como princípio básico, uma preocupação com a manutenção e o bem
estar da vida das pessoas. Em segundo lugar, o Egito foi escolhido por que era
o ‘celeiro do mundo antigo’. Através da agricultura do Nilo, era possível
produzir uma larga escala de alimentos suficiente para suportar uma forte seca
e alimentar uma grande população.
Assim,
se torna evidente o porquê da ida de José para o Egito: o Egito era um lugar
capaz de sustentar e gestar o povo de Israel, dando-lhe as condições
necessárias para que crescesse e se tornasse o grande povo de acordo com a
promessa dada por Deus a Abraão. Foi graças ao Egito que os israelitas se tornaram
um povo.
2.3
A função do Faraó em Gênesis
Interessante
na história de Israel narrada em Gênesis e em Êxodo é que os faraós interferem
diretamente de formas distintas na vida dos hebreus. Já se falou sobre a
teologia que sustenta o cargo do rei do Egito: ele é o próprio deus Hórus
encarnado, responsável por manter a ordem, a justiça e o direito no Egito. O
faraó é em tudo um zelador da vida. Por isso, na narrativa de Gênesis, o faraó
não é o inimigo a ser combatido, mas sim o aliado a ser buscado. O faraó
desempenha nesta fase da história de Israel o papel de salvador.
Ainda
mais intrigante é que quem recebe a revelação de Deus sobre os anos de fartura
e de fome não é José nem qualquer outro israelita, mas sim o próprio faraó.
Deus se revela por meio de sonho a um rei, que intitula a si mesmo o deus
encarnado, protetor do Egito, para por meio dele (faraó) gerar salvação à
família da aliança, e até mesmo para todo o Egito. José aqui apenas serve como
um intérprete da vontade de Deus, traduzindo os sonhos do faraó.
2.3.1
A função do Faraó no Êxodo
Diferente
do faraó que se vê na narrativa de Gênesis, o faraó mencionado no livro de
Êxodo exerce uma influência diferente sobre o povo de Israel. Em Gênesis via-se
um faraó preocupado com a manutenção da vida no Egito, propício aos israelitas,
provavelmente em razão do status que o próprio José possuía no Egito. Agora no
Êxodo o que se vê é um faraó preocupado, sim, com o bem estar da nação, mas ao mesmo
tempo bastante preocupado com o crescimento e proliferação do povo israelita.
Um rei que apoia o infanticídio pelo bem da nação e do seu reinado. Assim, a
imagem que a narrativa de Êxodo traz do faraó é a de um legítimo opressor.
Novamente
na história do povo israelita surge uma ameaça forte o suficiente para impedir
que a promessa de Deus visse a se cumprir. Em razão do tempo que já estavam no
Egito, o povo israelita estava começando a ser assimilado pelos egípcios e
corria o risco de simplesmente ser dissolvido pela opressão feita pelo faraó.
Nota-se,
por exemplo, pelos nomes de alguns personagens do Êxodo, que os israelitas aos
poucos estavam assimilando a cultura egípcia. Como a cultura egípcia estava
intimamente ligada com a política e a religião, e os próprios israelitas não
eram ainda monoteístas, poderiam com certa facilidade acabar assimilando a
religião egípcia junto com a cultura, reconhecendo até mesmo o faraó como um deus.
É por este motivo que o Êxodo, além de promover a libertação dos israelitas
oprimidos, é um ponto chave para o início do monoteísmo na futura nação de
Israel.
2.4
Êxodo
Como
mencionado no tópico anterior, o Êxodo foi fundamental para a experiência dos
israelitas com o Deus que os libertou. E esta experiência se deveu
principalmente pelo que Deus fez (libertou o povo da opressão), mas também pela
forma como fez (as dez pragas).
Neste
tópico será abordada a importância das dez pragas mencionadas nos capítulos de
7 a 12 do livro de Êxodo, o que isso possivelmente significou para os egípcios
e para os israelitas naquele momento em que ocorreram, como também o
significado do êxodo como marco inicial da caminhada do povo de Israel com
Deus.
2.4.1
As dez pragas: a guerra entre o Deus do deserto representado por Moisés, e
Hórus, o deus encarnado no rei do Egito.
Algo
muito marcante que antecede o evento do Êxodo, e que segundo o relato bíblico é
de extrema importância para que os israelitas possam sair do Egito é a
ocorrência de múltiplas catástrofes sobre o território egípcio, o que
geralmente é chamado de ‘pragas’. Fala-se em catástrofes porque “é possível
sugerir explicações naturais para todas as pragas, com exceção da última,”60 que
é a morte de todos os primogênitos que não cumpriram o ritual descrito em Êxodo
12.21-23. Milton Schwantes pensa diferente e tenta explicar essa ‘praga’ como
sendo também uma catástrofe natural, uma espécie de “peste e/ou súbita
mortalidade infantil.”61 Historicamente, se essas catástrofes foram naturais ou
mesmo se foram sobrenaturais não se pode afirmar com certeza. Mas a teologia
por trás delas é de extrema importância para o evento do Êxodo, pois o
principal local atingido foi o rio Nilo, o centro do Egito. Assim, segundo Reinke,
faz-se necessário destacar o papel teológico de Moisés e do faraó em meio a
estas pragas/catástrofes.
Reinke
faz uma excelente abordagem teológico-religiosa sobre essa tensão que ocorre
entre Moisés e o faraó narrada no Êxodo. Segundo ele, Quando você vê aquela
descrição da luta de Moisés com o faraó no Egito, a gente tem que sempre ter em
mente que quando Moisés vem, ele vem representando um deus do deserto e falando
em nome desse deus, dizendo: esse deus te ordena faraó, que deixe o meu povo ir
para me cultuar no deserto. Deus, aliás, se apresenta muito como ‘o Deus do
deserto’ na Bíblia. [...] e nesse sentido tem de se lembrar de quem é o faraó?
O faraó é próprio divino que está ali diante dele. Então nós temos ali uma luta
entre duas divindades.
Ficando
clara essa tensão teológica que se dá no diálogo entre Moisés e o faraó, Reinke
parte para o significado das pragas que é diferente do que muitos historiadores
bíblicos interpretam, que é o de tentar associar cada praga com alguma
divindade do Egito.
O
sinal da vara que se transforma em uma serpente e, por fim, devora as
varas-serpentes dos mágicos egípcios pode ser particularmente importante porque
a serpente era um símbolo importante do poder egípcio, indicado da forma mais
visível pelo uraeus (símbolo da serpente) fixado na tiara do faraó. Com
certeza, pode-se entender que fazer o Nilo ficar vermelho como o sangue seja um
ataque ao coração do Egito, pois a fertilidade da terra e o sustento do povo
dependiam da cheia anual daquele rio. Um deus da fertilidade, Hapi, era
intimamente identificado com o Nilo e com frequência a praga é vista como um
ataque a esse deus em particular.
Reinke
analisa essa luta teológica de uma forma mais ampla, não concordando plenamente
com essa ideia de que cada praga estaria atacando uma divindade específica do
Egito. A razão que ele dá para não concordar com esta teoria é “porque eles têm
N divindades [...] eles têm centenas de divindades e acaba ficando um pouco
esparsa essa questão.”64 Ou seja, não faria sentido atacar somente algumas
divindades e outras não. Por isso a ideia que Reinke defende sobre esse relato
é que por meio das pragas, Deus está atacando diretamente o faraó. Está
atacando o próprio sentido da existência do faraó, que é manter a ordem do
Egito. E Deus faz isso atacando o principal meio de subsistência dos egípcios:
o rio Nilo.65
Os
ataques se dão diretamente no rio Nilo. Ao menos as primeiras pragas são
inteiramente ligadas a ele: as águas se transformam em sangue, com isso a
ocorrência das rãs, que saem do Nilo no final das cheias rumo a terra seca,66 se
dá em uma escala muito elevada. Os peixes do rio morrem, trazendo mau odor e,
em consequência, moscas. Como o rio era a fonte principal de abastecimento de
água do Egito, a ingestão dessa água por animais e pelos seres humanos acaba
provocando doenças contagiosas e até mesmo morte. Toda a ordem do Egito está
sendo subvertida e a culpa recai sobre a figura do faraó, mostrando que ele não
possui o poder para comandar as forças da natureza, mas quem tem esse poder é o
deus dos israelitas.
Após
o Nilo, o ataque se concentra diretamente ao faraó. Com a praga da escuridão,
as divindades imperiais é que são postas à prova: Rá, Aton, Nut.67(Deuses
vinculados ao sol e a irradiação dos raios solares). E por último, a morte dos
primogênitos ataca diretamente a coroa e o deus Hórus. Pois o próprio sucessor
do faraó, o futuro deus-rei do Egito é morto.
Interessante
é também esta questão da morte dos primogênitos. Os primogênitos tinham um
papel de representação da família. Assim, quando Deus ‘mata’ o primogênito de
cada um, Ele está na verdade efetuando um ‘julgamento’ de todas as famílias do
Egito, inclusive a do faraó, desferindo um ataque fundamental e sério à
estrutura social do Egito.
Desta
maneira, Deus mostra que é o Senhor da história, que não há outros deuses
capazes de competir com Ele e que ele interfere de forma concreta na história,
agindo contra os poderes e os poderosos que oprimem neste mundo.
“O
Êxodo é o primeiro agir constitutivo de Javé para com Israel.” Isso é o que
Gunneweg afirma a respeito da importância do Êxodo para a história de Israel.
Nenhum biblista ou historiador bíblico duvida da importância do Êxodo para o
desenvolvimento do povo israelita. A libertação promovida no Êxodo “foi um dos
fatores que ajudaram a moldar a auto compreensão de Israel, de que ele era o
povo de Deus”.
O
evento do Êxodo foi o ato inicial da caminhada de Israel como povo, não mais
como um agrupamento familiar, junto com Deus. A libertação, ato feito por Deus,
confirmou a continuidade da aliança feita ao primeiro patriarca: Abraão. Uma
parte da promessa já estava cumprida, a saber, os descendentes de Abraão se
tornarem um grande povo. A segunda parte tem início neste evento do Êxodo:
tomar posse da terra que Deus prometeu.
Esse
ato de libertação de Deus seguidas vezes será lembrado pelos profetas no
decorrer da história de Israel como um chamado ao arrependimento (no período
monárquico), ou mesmo como consolo e esperança de um novo Êxodo no período do
exílio, onde o “cativeiro babilônico vinha a ser um segundo cativeiro egípcio
que seria seguido no final das contas por uma peregrinação pelo deserto de
volta à terra prometida”.
O
Êxodo foi e é de tamanha importância que a celebração instituída no Egito (a
páscoa) ocorre até os dias de hoje, passando de geração em geração entre os
judeus, tendo também uma ressignificação no contexto cristão.
CONCLUSÃO
O
que seria do povo de Israel se não migrasse para o Egito nos tempos de José? E
o que seria desse mesmo povo se não saísse do Egito nos tempos de Moisés? Essas
perguntas foram indiretamente abordadas no decorrer deste trabalho na tentativa
de elucidar a importância que a civilização egípcia teve para a História de
Israel.
Foi por
meio do Egito que Deus cumpriu a promessa que havia feito a Abraão de fazer da
sua descendência um grande povo. Foi no Egito que o povo de Israel foi gestado
e cresceu e foi na saída do Egito que os israelitas começaram a sua caminhada
em um relacionamento aprofundado com Deus.
Para
os israelitas, assim como para os egípcios que viveram nos dias do Êxodo, não
foi possível assimilar, a não pela fé, todos os fatos que ali se passaram. Uma
série de catástrofes naturais em sequência estava ocorrendo, e aquele que
deveria manter a ordem do mundo (o faraó), não estava dando conta de consertar
todos os estragos. Por fim, todos os primogênitos morrem. Alguns críticos falam
em uma morte súbita de crianças. Mas a questão é que naquele momento as pessoas
ficaram apavoras e sabiam que algo totalmente incomum estava por acontecer, o
que podia ser explicado somente por meio da fé/religião. Mas eles não tinham
certeza até que aconteceu: um deus tomou partido pelos fracos, pelos pobres e
escravos. Mas não era qualquer deus, era um superior ao próprio deus do Egito.
Era um deus que não possuía nome, que os egípcios não conheciam, e que os
próprios israelitas talvez só conhecessem através de antigas histórias contadas
por seus pais e avós. Era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Deus da promessa.
Tanto
na experiência da chegada ao Egito por intermédio de José, quanto no Êxodo por
meio de Moisés, fica claro uma coisa para aqueles que participaram: Deus é
Senhor da história e age conforme os seus planos, cumprindo aquilo que prometeu
(Gn 50.20 e Êx 15).
REFERÊNCIAS
BÍBLIA. Bíblia de estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2012.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Deuses, múmias e ziggurats: uma
comparação das religiões antigas do Egito e da Mesopotâmia. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1999.
DILLARD, Raymond B.; LONGMAN, Tremper. Introdução ao
Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2006.
GUNNEWEG, Antonius H. J. Teologia bíblica do Antigo
Testamento: uma história da religião de Israel na perspectiva
bíblico-teológica. São Paulo, SP: Teológica, Loyola, 2005.
LAWRENCE, Paul. Atlas Histórico e Geográfico da Bíblia. Tradução
de Susana Klassen e Vanderlei Ortigoza. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do
Brasil, 2008.
MARRIOT, Emma. História do mundo pra quem tem pressa.
7. ed. Rio de Janeiro: Valentina, 2016.
PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo,
SP: Contexto. 2012
PROVAN, Iain W.; LONG, V. Philips; LONGMAN, Tremper. Uma
história bíblica de Israel. São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.
REINKE, André. Os outros da Bíblia, In: AQUINO,
Rodrigo Bibo de. BTCAST 168. 13 set. 2016. Disponível em
<http://bibotalk.com/podcast/btcast168/>. Acesso em: 13 dez. 2016 (18 min
22s).
SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo
Testamento. 2. ed. revisada. São Paulo, SP: Vida Nova, 2009.
SCHWANTES,
Milton. História de Israel: vol. 1: local e origens. 4. ed. alt. e ampl.
São Leopoldo: Oikos, 2008.
3º Dia –
07/04 – Cairo
Após o café
da manhã, saída para conhecer as três famosas Pirâmides de Queops, Quefren e
Miquerinos. Apreciamos as pirâmides e a famosa Esfinge de Gizé que
as protegia. Tempo para explicações. Visitamos o Museu do Cairo,
um museu planejado com antigos artefatos egípcios (que contam com a coleção de Tutankhamon, faraó da
18ª Dinastia) e descrito como um dos museus mais importantes do mundo.
Ainda na noite do dia
07, cruzeiro com jantar e show folclórico pelo Rio Nilo. Retorno ao
hotel e pernoite.
4º Dia –
08/04 – Cairo / Taba
Pela manhã,
partida em direção ao Canal de Suez, ligação navegável entre o Mar
Mediterrâneo e o Mar Vermelho. Após cruzarmos o canal pelo Túnel Ahmed Hamdi,
parada no vilarejo beduíno de Mara, onde Moisés descansou com o povo e
transformou a água amarga em água potável – estes poços existem até hoje e fomos
visitá-los. Seguimos viagem para Taba. Alojamento e jantar.
Mara (em hebraico:
מָרָה, cujo significado é "amargo") é um dos locais que a Bíblia identifica
como tendo sido percorrida pelos israelitas,
durante o Êxodo.
Libertados do Egito, os israelitas partiram em
sua jornada pelo deserto, percorrendo a da Península do Sinai, inicialmente em direção ao
sul, pela margem oeste do Mar Vermelho. Apesar de terem sido libertados da
escravidão do Egito, eles ainda não
estão espiritualmente livres, pois reclamam das condições do deserto e cogitam
voltar “para as panelas de carne “ do Egito. Chegando em Mara, o lugar de
um poço de água amarga, com amargura e murmuração, Israel recebe
um primeiro conjunto de leis divinas (Êx 15.23ss.). A escassez de água é
seguida por uma falta de alimentos. Moisés lança
um pedaço de madeira na água amarga, tornando-a doce. Mais tarde, Deus envia
o maná e
as codornizes. O deserto é a terra onde Deus adquire seu povo. O 'tema
murmuração" – a partir de agora – será uma perspectiva recorrente do povo
peregrino judeu.
Mara – amargura – é uma fonte na sexta estação
dos israelitas (Êxodo
15.23, 24; Nm 33:.8), cujas águas eram
tão amargas que eles não podiam beber. Por conta disso eles murmuraram contra
Moisés, que, sob a direção divina, lança na fonte "uma certa árvore",
que tirou a sua amargura, para que as pessoas bebessem dela. Este foi
provavelmente o 'Ain Hawarah, onde ainda
existem várias nascentes de água que são muito "amargas", distantes
cerca de 47 quilômetros de 'Ayun Mousa.
A narrativa relativa a Mara no Livro de
Êxodo afirma que os israelitas estiveram vagando no deserto por
três dias sem água. De acordo com a narrativa, Mara possuía água, porém
ela era amarga, o que a tornava imprópria para beber, daí o nome que
significa amargura. No texto, quando os israelitas chegam a
Mara, eles reclamaram sobre a impossibilidade de se beber aquela água. Desta
forma, Moisés clama a Yahweh e Yahweh responde mostrando a Moisés um certo
pedaço de madeira, que Moisés então lança na água, tornando-a doce e própria
para consumo. Estudiosos afirmam que a mudança de sabor da água pode ser
em decorrência do uso de um tipo de bérberis que
se desenvolve no deserto e possui a propriedade
herbal de "adocicar" água salobra. Outros
estudiosos vêem a narrativa sobre Mara como tendo se originado como um mito
etiológico buscando justificar seu nome.
No fim do dia, no Resort Dahab, às margens do Mar
Vermelho, momentos de puro deleite.
5º Dia – 09/04 – Taba /
Eilat / Mar Morto
Após
o café da manhã, partimos para a fronteira do Egito com Israel. Trâmites de
imigração. Já em Israel, seguimos viagem para o Timna Park está
localizado a 25 km ao norte de Eilat, no deserto de Negev. Uma das maiores
atrações do sul de Israel, o parque, situado em um cenário do deserto
maravilhosamente majestoso, tem história e geologia incríveis. Lá visitamos
uma réplica do Tabernáculo Hebreu que foi construído em tamanho natural. O
modelo é preciso em vários aspetos tendo, naturalmente, base na descrição
bíblica.
No deserto
Em Timna Park, 32 km ao norte de Eilat, no Aravá, há uma réplica em
tamanho natural do tabernáculo da Bíblia. Embora os materiais originais
não tenham sido usados em sua construção (por exemplo, ouro, prata, bronze),
o modelo é preciso em todos os outros aspectos, de acordo com a descrição
bíblica.
O pátio exterior
A bacia e o altar de bronze estavam localizados no pátio externo. O
altar media 2,3 m2 e media 1,37 m de altura. Era feito de
madeira de acácia coberta de bronze e tinha um chifre em cada canto. O
altar sempre tinha que ter fogo e sacrifícios diários eram oferecidos todas as
manhãs e noites.
O lugar santo
Esta área sagrada era ocupada pelo candelabro de ouro, o altar de
incenso e a mesa de pão da Proposição. O candelabro (menorah) era feito de
um único bloco de ouro e tinha três braços em cada lado do eixo
central. As sete lâmpadas acima dos braços eram provavelmente copos com
bordas cortadas para o pavio e o azeite.
A Mesa do Pão da Proposição
Na direção oposta da menorah
estava a mesa do pão da Proposição. Era construída com madeira de acácia e
coberta com ouro maciço. A superfície da mesa media 0,91 m x 0,45
m.
Doze pães eram colocados sobre
a mesa durante o sábado (dia de descanso) e substituídos por pão fresco no
sábado seguinte. Os principais sacerdotes apenas podiam comer o pão
substituído.
O altar do incenso
Também conhecido como "altar de ouro" ou "altar
interior", esse altar de quase 1 metro de altura era o lugar onde
oferendas de incenso eram feitas. Todas as manhãs e todas as noites,
enquanto os sacerdotes cuidavam do fogo da menorah, ofereciam uma mistura de
incenso e outras resinas aromáticas. No dia da expiação, o sumo sacerdote
aspergia com sangue as pontas do altar.
Arca da Aliança do Senhor
O único objeto no Santo dos
Santos era a arca sagrada que continha as duas tábuas da aliança com os Dez
Mandamentos, a vara de Arão que florescia e o vaso com maná. A arca estava
coberta pelo "propiciatório", em que o sumo sacerdote aspergia o
sangue do bode sete vezes no Dia da Expiação. A arca representava o
escabelo do trono de Deus.
6º
Dia – 10/04 – Mar Morto / Deserto do Negev
Pela manhã partimos para o Tel
Arad, que é um é um tel arqueológico, localizado a oeste do Mar
Morto, a cerca de 10 quilômetros a oeste da moderna cidade israelense de Arad,
em uma área cercada por cadeias montanhosas, conhecida como a planície de Arad.
O local é dividido em uma cidade baixa e uma colina superior que contém a única
"Casa do Senhor" já descoberta na terra de Israel. De lá
seguimos para Tel Berseba onde se encontra um sítio arqueológico que se
acredita serem as ruínas da cidade bíblica de Berseba, o centro da vida
patriarcal. Este nome significa "poço do juramento", e se originou
com um pacto entre Abraão e Abimeleque, rei de Gerar. Dois dos poços nessa
região são muito antigos, e acredita-se que tiveram alguma ligação com os
patriarcas.
TEL ARAD: CONTRIBUIÇÕES ARQUEOLÓGICAS
I. Localização
O Tel Arad está localizado no deserto da
Judéia. Está ao sul do antigo território de Judá. Pertence à região da bacia
hidrográfica de Beeseba, junto à nascente do Nahal Beerseba. O Tel está a 30 km
a sudoeste de Masada (autopista 60 e 80), a 46 km a leste de Beerseba (autopista
60 e 31) e a 59 km pelo sudeste de Hebron (autopista 356 e 80). A distância a
partir de Tel Aviv é de aprox. 140 km e de Jerusalém 139 km ao sul. Hoje existe
uma cidade moderna chamada Arad, com aprox. 25 mil habitantes, e está a 10 km a
leste do Tel Arad.
A área do tel é relativamente grande, no
total são nove hectares. Possui o formato de uma concha e está a 576m acima do
nível do mar. Está dividido em duas partes, na parte baixa estão as ruínas do
que foi uma cidade do período do bronze, do período pré-israelita, a qual
atingiu seu auge entre 3000 e 2700 a.C.4. Esta cidade é bastante extensa e era
protegida por uma longa muralha de 1200 metros de comprimento. Na parte mais
alta, no topo da colina, está uma cidade do ferro5, do período israelita,
possivelmente fundada em torno do séc. XII e permaneceu até aproximadamente o
séc. VII a.C. no período do rei Josias.
Entrada Exterior
|
Escavado por Y. Aharoni nos anos 1969-1975, grandes áreas do Estrato II do tell Sheba foram expostos. A restauração começou em 1990 e se concentrou em reconstruir a cidade, para
deixá-lo como estava no fim do século VIII, no tempo do rei Ezequias.
Casa de
Quatro Habitações
Mais conhecido como um edifício de pilares isrelitas,
esta estrutura típica podia ser encontrado no país durante a Idade do Ferro (1200-600
aC) Subdividida em pequenas salas por pilares, essas casas eram construídas muitas vezes na parede da cidade, onde a parede da casa
formava parte do muro que servia como casamata.
Três
edifícios, cada um dos quais com três pilares, foi revelado nas escavações.
Os arqueólogos pensam que eles poderiam ser armazéns, pelo grande número de
vasos encontrados no lugar. Outros estudiosos reconhecem este desenho de
construção como estábulos. Ademais, foram encontradas provas
contundentes que sugerem uma
identificação mais precisa deste lugar como estábulo.
Altar
com quatro chifres - Blocos de arenito construídos nas paredes dos
armazéns eram originalmente parte
de um altar de quatro chifres.
Três dos blocos preservam a forma de chifre, os típica dos altares de
quatro chifres. O quarto bloco
mostra evidências de que o chifre
foi quebrado. Outra das pedras
levava a imagem
de uma cobra gravada profundamente.
|
Partimos de Ein Bokek,
região do Mar Morto, para Massada. A fortaleza de Massada foi construída
entre os anos 37 e 31 a.C.; é um dos palácios que Herodes o Grande mandou
edificar no seu reino. Seguimos para o Parque nacional de Ein Gedi, que
é famoso, também, pela riqueza de sua fauna e flora. Ein Gedi é citada várias vezes
no texto bíblico, sendo muito lembrado porque Davi se esconde de Saul em
cavernas. A próxima visita foi Qumran, local onde foram encontrados, em
1947, os Pergaminhos do mar Morto, local que também se identifica com a seita
judaica dos Essênios. Continuamos nossa viagem até chegarmos à região da
Galileia.
FORTALEZA DE MASSADA – O domínio romano sobre a Palestina, que inicia no
ano 63 a. C, não foi aceito de forma passiva. Algumas rebeliões foram surgindo
ao longo do processo, entretanto, todas foram debeladas pelos romanos e suas
forças de ocupação. A resistência judaica ao domínio romano só assumiu uma
forma mais geral no ano de 66 d. C., tornando-se uma guerra de grandes escalas,
que foi sufocada no ano 70, após um longo cerco a Jerusalém. O saldo final foi
a destruição completa da cidade e do Templo de Herodes e, por conseguinte, a
deportação de grande parte da população.
De todo
esse conflito, positivo para os romanos, restou ainda um foco de resistência
judaico na fortaleza de Massada, que fora tomada no ano 66 d. C. por um grupo
de zelotas, persistindo até o ano 73.
Localização geográfica: Massada
está localizada na margem leste do deserto de Judá, cortando mais de mil e
trezentos pés (396, 24 m) da costa oeste do Mar Morto. Sua conformação parece
um tosco romboide [3], como um navio, de norte muito estreito, com o sul um
pouco menos e o meio largo. De norte a sul a rocha mede uns 1900 pés (579,12 m)
e, de leste a oeste, 650 pés (198,12 m).
Salvo o
extremo norte, toda a rocha estava cercada por uma muralha de parede dupla
dividida em casamatas. As construções se concentravam na metade norte do cimo,
enquanto a parte sul, mais baixa, carecia de edificações. Observando a formação
geral da rocha, à esquerda se vê a trilha da serpente e a rampa (do assalto
romano) à direita. Na margem oeste observa-se, em primeiro plano, o palácio de
degraus e sobre este tem-se o núcleo principal de edificações (armazéns e
outras estruturas). Ao centro e à direita da margem oeste de Massada
encontramos o maior edifício. As edificações menores se distribuíam
aproveitando a topografia irregular do terreno.
Histórico: Quanto
aos primeiros ocupantes de Massada, ainda é algo obscuro. Para Flávio Josefo, o
seu grande construtor foi Herodes, todavia antes dele havia passado por ali o
Sumo Sacerdote Yonathan, que alguns identificam com Judas Macabeu (metade do
século II a. C.) e, outros, com Alexandre Janeu (103-73 a. C.).
Todos
concordam com Josefo de que as principais edificações foram obras do gênio de
Herodes, mas nunca chegaram a um acordo quanto à sua função: refúgio em
caso de revoltas ou domínio estrangeiro, ou obra incorporada à defesa geral
do reino.
Outra
dúvida que pairava antes das escavações era quanto ao período dos zelotas.
Flávio Josefo afirmara que após a morte de Herodes, a fortaleza havia sido
ocupada por uma guarnição romana, posteriormente expulsa em 66 por Menaém e
seus sequazes, cedendo lugar a um grupo de zelotas. Em 73, após derrotar os
zelotas, Silva deixou aí estabelecida outra guarnição. Após o domínio romano,
Massada passou por um período de desocupação, tornando-se, mais tarde, morada
de monges bizantinos entre os séculos V e VI, depois do qual nunca mais foi
ocupada sistematicamente.
Impressões gerais: A vista
de Massada a oeste, permite ver o norte com seus três terraços e à direita o
profundo Wadi Massada. Por essa via é possível avistar a direita os restos do
ambicioso projeto de Herodes para a condução de água: duas filas de buracos
escuros, correspondentes às bocas de imensas cisternas cavadas na rocha, com
capacidade para 140.000 pés cúbicos de água (42.672 m³) cada, chegando a um montante
de aproximadamente 1.400.000 (426.720 m³). O projeto baseava-se na existência
de pequenos vaus, nos quais foram construídos diques, sobre os quais foram
instalados canais abertos para as duas séries de cisternas: do vau sul até a
fila superior, e o segundo aqueduto, do vau norte até a fila interior. As
cisternas na parte superior da rocha de Massada eram abastecidas de água pelo
trabalho de milhares de escravos e de bestas de carga. Mesmo sendo uma região
muito seca, esse sistema de abastecimento conseguia captar a água dos temporais
de inverno, bastando algumas horas para encher as cisternas.
As construções: a.
Terraço inferior: A rocha de Massada afila-se ao norte, atingindo poucos metros
de largura, ali onde estava localizado o terraço inferior, para cuja construção
necessitou-se de uma plataforma artificial e de um muro de contenção de uns
oitenta pés (24,38m). Aí foram encontradas peças importantes do palácio e
pinturas murais no estilo romano.
A parte
inferior das paredes (internas e externas) era revestida de gesso à imitação de
mármore. Toda a construção era sustentada por pilares compostos de blocos de
pedras superpostos com aparência de colunas monolíticas, coroadas com capitéis
coríntios, pintados e recobertos de ouro. Após a eliminação dos escombros,
descobriu-se também uma casa de banhos privada, cujo luxo e arquitetura
remontam a mais refinada tradição romana. Nas escadas que davam acesso à
piscina de água fria, foram encontrados três esqueletos: de um homem de cerca
de 20 anos, de uma mulher jovem e de uma criança[9], possivelmente restos de
alguns dos defensores de Massada.
b.
Terraço central: Apresentava muros concêntricos com espessas paredes niveladas
e a presença de pilares quadrangulares separados por nichos. Era uma construção
fechada, em cuja parte anterior dos lados leste e oeste havia habitações e no
sul, pilastras de sustentação do teto. A parte circular e seu vazio central
serviam para melhor distribuição do peso e sustentação da cobertura. Na parte
inferior, mais ao sul, havia pinturas murais. O acesso a ele era feito por uma
escada ao Sudoeste.
c.
Terraço superior: Subdividia-se em duas partes: a do norte de forma
semi-circular com paredes duplas, como o terraço central e, a parte sul, com
habitações do período bizantino (século V). Na época de Herodes parece ter
havido apenas 4 habitações e vários corredores. As decorações aí encontradas,
eram mais suntuosas que a dos anteriores, com pisos em mosaico[10] e paredes e
teto fartamente decorados. Com a retirada da terra chegou-se a uma parede
branca em ótimo estado de conservação e blocos que indicavam que aí também
houve pilares compostos de diversas pedras[11]. A entrada original do palácio
ficava a leste. Nas escadarias foram encontrados restos arquitetônicos
adicionais: capitéis jônicos e restos de uma pequena casa de banho, cuja
construção fora interrompida, dificultando sua datação. Embora, as escavações revelem
a precisão de Flávio Josefo, esse não era o palácio oficial rei.
d. Casa
de banho: Grande construção ao sul do terraço superior e a oeste dos armazéns,
com paredes recobertas de gesso, nas quais havia tubulação condutora de calor
(caldarium) e, sob o chão, estavam pilares que compunham o hipocausto que
aquecia o caldarium. O ar quente era conduzido por tubos que se comunicavam com
um forno adjacente ao caldarium. Em sua parte norte, havia uma banheira de
quartzo, num nicho semicircular, abastecida de água fria e no outro lado uma
banheira para banho quente. No complexo, a construção menor e mais simples
correspondia ao frigidarium, piscina de água fria. Entre o caldarium e o
frigidarium estava o tepidarium de temperatura ambiente, mais luxuoso. O vestuário
(apoditerium) era também decorado luxuosamente. A entrada consistia num amplo
pátio, cujo solo de mosaico branco e preto era igual ao do terraço superior.
e.
Armazéns: Porta noroeste, ao sul da vila palácio. Eram estruturas retangulares,
que serviam para estocar alimentos por muito tempo. [12] As construções seguiam
os padrões arquitetônicos da época, sendo compostas por dois blocos principais
(sul e leste), cujas paredes chegavam a uma altura original de aproximadamente
11 pés (3,35 m). Foram encontradas aí centenas de recipientes quebrados, muitos
dos quais tinham as inscrições T (do hebraico truma: merecimentos dos
sacerdotes) e ma’aser kohen (dízimo sacerdotal). Foram achadas também, cerca de
cem moedas dos 2° e 3° anos da revolta e fragmentos de estanho e outros metais.
f.
Conjunto residencial: Ao lado sul dos armazéns, encontramos um edifício
quadrado com uma boa quantidade de quartos. As unidades de vivenda se compunham
de uma grande estância, um pátio fechado e pequenas habitações adjacentes. Sob
o piso original foi encontrado um monte de moedas (siclo e meio siclo) e sob a
camada de cinzas, numa caixa de bronze, foram encontradas pela primeira vez
moedas de siclos (seis siclos e seis meio siclos), que retratavam todos os anos
da revolta
g. Capela
bizantina: Ao sul desse edifício residencial, encontramos uma capela da época
cristã em estilo bizantino, composta de uma grande sala, cujas paredes ainda
sustinham adornos originais. No lado noroeste do grande salão, encontrava-se
uma habitação para os guardiães do templo, na qual foram encontrados armários e
recipientes para abluções. O achado mais importante, no entanto, foi um mosaico
bizantino (século V) revestindo o piso na margem norte da construção. [13]
h.
Palácio real: Estava no extremo oeste da rocha, atingindo uma área de 36.000
pés² (10.972,8m²). Compunha-se de três alas principais: Parte habitável, a
sudoeste, com grandes estâncias e pequenos quartos em torno de um pátio. Foram
encontrados aí vestígios do trono e de uma casa de banho privada. Ao norte,
havia uma ala de serviço semelhante à anterior. Finalmente, na parte oeste,
encontram-se armazéns e a parte administrativa. Os primeiros davam a esse
subconjunto de construções independência em relação às outras partes. Seu
sistema de abastecimento de água era independente dos demais. Próximas ao
palácio havia vivendas (2 ao norte e 1 ao sul).
h.
Columbário: Na parte sul do cume, observa-se uma estrutura circular dividida
por duas paredes com orifícios e um espaço central, à semelhança de um columbário.
Com efeito, é provável que aí fossem encerrados os restos das incinerações dos
membros não judeus da corte.
i.
Muralha de casamatas: Cobria todo o cume estava cercado, exceto o norte, e
entre suas paredes haviam tabiques, que serviam de armazéns e vivendas para as
tropas. Eram cerca de 110 estâncias, que no tempo da revolta foram ampliadas
para abrigar os rebeldes. No lado do Caminho da Serpente, foram encontradas
pedras redondas (45,3 kg) para serem lançadas nos inimigos, das quais nenhuma
fora lançada.
j. Banho
ritual (ao sul da muralha): Série de 3 piscinas (grande, média e pequena). As
duas maiores eram escalonadas e se comunicavam por tubulações. Essa estrutura
correspondia a um mikave, banho ritual de imersão do período do segundo templo.
A primeira piscina recolhia a água da chuva e, a segunda, servia para o banho,
tendo suas águas purificadas pela água que jorrava da primeira através do tubo
de comunicação. A piscina menor não comunicava com as outras e servia para
limpeza, ou seja, purificação das mãos e dos pés (medidas rituais).
k.
Sinagoga: No setor noroeste da muralha, havia restos de uma sinagoga com bancos
recobertos de argila e pilares em seções. Era uma construção retangular com
bancos em fila ao redor das paredes, com um vão a oeste e, tendo ao centro três
pilares ao sul e 2 ao norte. Aí foram encontradas moedas da época da revolução,
um óstraco com a inscrição “dízimo dos sacerdotes (levitas), inscrições com o
nome do sacerdote “Hezekiah”.
l.
Esqueletos: Restos de esqueletos de 14 homens entre 22 a 26 anos (um de mais de
60), seis de mulheres de 15 a 25 anos e 12 crianças (inclusive de um feto),
foram encontrados na menor cova do extremo sul da muralha.
No quadro
abaixo, sintetizamos as descobertas dos fragmentos escritos encontrados em
Massada:
Local
|
Objeto
|
Muralha
(habitação 1039)
|
Frag.
dos Salmos 81-85 Frag. do Levítico
|
Rincão
Sudoeste
|
Frag.
do 6°
Cântico do Sacrifício Sabático (Qumram)
|
Setor
Leste ao N do C. da Serpente
|
Frag.
em pele branca do Salmo 150
|
Muralha
(habitação 1109)
|
Frag.
em Hebraico de Ben Sirá
|
Torre
da Muralha: oeste do Palácio oeste
|
Livro
dos jubileus
|
Oeste
do Pátio
|
Frag.
de Lv 8-12
|
Sinagoga
(Genizá)
|
Frag.
capítulos finais de Deuteronômio e extratos do cap.37 de Ezequiel
|
Períodos
de ocupação de Massada:
PERÍODO
|
DATA
|
ACHADOS
|
Calcolítico
|
4° Milênio
|
Covas
nos acantilados
|
Primeiro
Tempo
|
Do
século X ao VII (a. C.)
|
Fragmentos
de cerâmica disseminados
|
Asmoneu
|
De 103
a 40 (a. C.)
|
Moedas
de Alexandre Janeu
|
Herodes,
o Grande
|
De 40
(a. C) a 4
|
Fortaleza,
palácios, armazéns, casa de banhos, cisternas, moedas.
|
Dinastia
de Herodes e os procuradores
|
de 4 a
66
|
Centenas
de moedas, adições aos edifícios.
|
A
Grande Rebelião
|
de 66 a
73
|
Vivendas,
banhos rituais, sinagoga, rolo de pergaminho, ostracos, moedas e objetos de
uso diário.
|
Depois
da Rebelião
|
séculos
V e VI
|
Moedas
da guarnição romana, alguns edifícios adicionais.
|
Bizantino.
|
Capela,
celas dos monges
|
Notas
[1]
“Pouco tempo depois alguns, mais proclives à guerra, atacaram de surpresa a
fortaleza de Massada, degolaram toda a guarnição romana e lá puseram uma, da
sua nação.” Veja em JOSEFO, Flávio. História dos hebreus, Rio de Janeiro, Casa
Publicadora da Assembleia de Deus, 1992.
[2]
Diante da derrota iminente, os revoltosos optaram por um suicídio coletivo.
Confira Seleções de Flávio Josefo, São Paulo, Edameris, 1974, p.317-319.
[3]
Rombóide, no Aurélio: quadrilátero de ângulos não retos, de lados opostos
iguais e lados contíguos diferentes; paralelogramo.
[4]
Segundo o Aurélio, casamata (do italiano casamatta) significa 1. Abrigo
subterrâneo abobadado e blindado, 2. Prisão subterrânea, 3. Fortaleza. Abrigo
subterrâneo de grossas paredes, para instalação de baterias ou proteção de
materiais e pessoas.
[5] “Para
sua conveniência pessoal fez construir uma série de fortalezas, especialmente
em certos lugares quase inacessíveis do deserto de Judá e do Mar Morto. A
construção mais impressionante por sua altura e suas escarpas, na orelha
ocidental do mar Morto, quase em frente à Península de el-Lisan. Na superfície
plana de cima da rocha, fez construir um palácio enorme, provido de amplos
‘armazéns’”. Veja em NOTH, Martin. Historia de Israel, Barcelona, Edicciones
Garriga, s/d, p.369.
[6]
“Herodes era o único adversário que lhe restava a Antígono. Quando Hircano e
Fasael foram capturados pelos partos, pôde reunir a sua família e à de seus
irmãos, refugiando-se com eles nos riscos quase inacessíveis de Massada, na
orelha ocidental do Mar Morto ...” (Martin Noth, p.365).
[7] Com
relação à fertilidade da terra, Flávio Josefo diz: “O rei (Herodes) reservou o
cimo da colina, que era de solo mais rico e de melhor terra de cultivo que
qualquer vale, para a agricultura, para que aqueles que se refugiassem nesta
fortaleza não se vissem privados de alimentos em caso de alguma vez
necessitarem recebê-los de fora.” Citado por Yigael YADIN, Masada, Barcelona,
Ediciones Destino, 1986, p.35.
[8] Sob
uma grossa camada de cinzas foram encontradas pinturas murais, restos de comida
(tâmaras, caroços de azeitonas etc) e algumas moedas do tempo da revolta, com a
inscrição: “A liberdade de Sião”.
[9] Ao
descrever os últimos momentos Flávio Josefo disse: “e aquele que foi o último
de todos, observou ao demais, por se quiçá algum dos muitos que assim se haviam
sacrificado desejasse sua ajuda para terminar completamente; quando se
assegurou de que todos estavam mortos pôs fogo no palácio e, com toda força de
sua mão, se traspassou completamente com sua espada e caiu morto junto a sua
própria família” (p.54).
[10] “Em
uma delas (habitações) nos encontramos com um piso de mosaico branco formando
um desenho geométrico com hexágonos negros. Este mosaico, como muitos outros da
mesma matéria de tempos de Herodes, figura entre os mais antigos descobertos nos
pais” (confira Yigael YADIN, Masada. p.63).
[11] As
pedras eram enumeradas pelos construtores de Herodes com letras hebraicas,
páleo-hebraicas, latinas e símbolos geométricos, que facilitavam seu encaixe na
hora da montagem dos mesmos.
[12]
“Enquanto as provisões se achavam dentro da fortaleza, era ainda mais
maravilhoso, tendo em conta sua riqueza e sua dilatada conservação; porque aqui
se guardava grão em grandes quantidades, para proporcional alimento durante
muito tempo; aqui também se encontravam vinho e azeite em abundância com toda
classe de legumes e tâmaras amontados; tudo isto o encontrou ali Eleazar,
quando ele e seus sicários se apoderaram da fortaleza à traição. Estes frutos
se achavam frescos e bem maduros, e de nenhuma maneira inferiores a frutos
recentemente armazenados, mesmo que houvesse transcorrido pouco menos de cem
anos desde que foram guardados. Até que foi tomada a fortaleza pelos romanos.
Inclusive, então, aqueles frutos que haviam restado não se haviam corrompido em
todo esse tempo: e não nos equivocaremos ao supor que o ar foi a causa de que
duraram tanto, dado que esta fortaleza tão alta e livre, por isso, de toda
partícula de terra. Encontraram-se aqui também grande quantidade de armas de
todas classes, que havia guardado aquele rei como tesouros, e eram suficientes
para dez mil homens; havia de ferro fundido, de cobre e de estanho, o que
demonstrava que se havia preocupado de ter as coisas listadas para as grandes
ocasiões” (citado por YADIN, Yigael. Masada. p.87).
[13] “Seu
desenho consiste numa série de medalhões redondos, em cada um dos quais há
representações de frutas e plantas, tais como romãs, figos, laranjas e uvas”
(YADIM, Yigael. Masada, p.112).
En-Ged – Também conhecido como Tel Goren, Tell
el-Jurn, Tell Jurn, 'Ain Jidi, 'Ein Jidi, 'En Gedi, En-gedi, Eggadi, Engaddi,
Engedi, Hazazon Tamar, Hazazon-tamar, Hazazontamar, Hazezontamar
Oásis do Mar
Morto – En-Gedi, é o maior oásis ao longo
da costa oeste do Mar Morto. As nascentes permitiram que este local fosse
continuamente habitado desde o período Calcolítico. A área foi dada à
tribo de Judá, e ficou famosa no tempo de Salomão (Js 15.62). Atualmente,
o kibutz israelense de Ein-Gedi fica na margem sul de Nahal Arugot.
Vinhedos famosos – As
nascentes abundantes e o clima temperado durante todo o ano forneceram nesse
lugar as condições perfeitas para a agricultura nos tempos
antigos. Salomão comparou sua amada a um "buquê de flores de hena nos
vinhedos de En-gedi", uma indicação da beleza e fertilidade do lugar (Ct
114). Foi encontrada evidência de oficinas usadas na indústria de perfumes
para destilar produtos feitos de abeto. Também foi sugerido que a produção
de perfume em Em-Gadi fazia parte do patrimônio real.
Davi Foge de Saul – Por volta
de 1000 a.C., En-Gedi serviu como um dos muitos lugares de refúgio para Davi,
quando fugia de Saul. Davi "foi morar nas fortalezas de Em-gedi"
(1Sm 23.29). En-Gedi significa, literalmente, "a nascente da criança
(cabra)". Há evidências de jovens cabritos que viveram perto das nascentes
de En-Gedi. Certa vez, quando Davi estava fugindo do rei Saul, seus homens
o procuraram em "picos das rochas das cabras montesas" nas
proximidades de En-Gedi. Em uma caverna próxima, Davi cortou a borda do
manto de Saul (1S 24).
Templo Calcolítico – As ruínas mais antigos em En-Gedi são de um templo
do período Calcolítico (cerca de 4000-3150 a.C.). Arqueólogos acreditam
que isso prova que En-Gedi manteve uma população significativa na época. A
"Caverna do Tesouro" em Nahal Mishmar foi escavada por P. Bar-Adon e
acredita-se que esteja conectada a este templo. A caverna fica a 10 km de
distância ao sul de En-Gedi. Uma reserva de artefatos muito bem preservada
foi encontrada lá. Muitos dos artefatos eram feitos de cobre. Foi
sugerido que os artigos foram usados no templo para rituais em En-Gedi e
estavam escondidos na caverna para protegê-los.
QUMRAN – As escavações começaram em 1947 com uma expedição conjunta composta
pelas instituições Jordan Department of Antiquities, Palestine Archeological
Museum e L’École Archéologicque Française of Jerusalem. O sítio, de
aproximadamente 1 km (6 milhas), foi escavado sob os mesmos auspícios durante
cinco sucessivas campanhas, de 1951 a 1956. A última compreendeu a região
situada entre Qumran e a fonte de Ein Feshkha, 3km ao sul. Perto daí, foi
encontrado um complexo de edifícios, escavado em 1958. Uma segunda caverna
contendo rolos foi descoberta por beduínos em l952, com acompanhamento das
instituições acima, junto agora com a American Scholl of Oriental Research,
para a exploração de todo o penhasco. Durante esta campanha foi encontrada a
caverna 3, onde estava o Rolo de Cobre. Em 1952 também foi achada a caverna 4
no planalto argiloso, onde também foi encontrada a de nº 5. A caverna 6, fonte
de fragmentos de rolos comprados dos beduínos, foi localizada na entrada para o
Wadi Qumran. Durante a expedição de l955, as cavernas 7-10 foram descobertas no
canto (olhando de cima) do platô de Wadi Qumran, ao sul. Arqueólogos
descobriram a caverna 11, na última sessão de escavações.
Períodos
de ocupação – Está situada
sobre o contraforte do planalto, limitado ao sul pelo Wadi Qumran e ao norte e
oeste por um desfiladeiro (garganta). Durante cinco expedições arqueológicas,
foi escavado um complexo de edifícios, com extensão de 80m leste-oeste e 100m
norte-sul. Alguns períodos de ocupação podem ser apontados:
Ferro: o
mais antigo assentamento data do período israelita. Várias paredes, reutilizadas
nas últimas fases, pertenceram a um edifício retangular, na frente do qual
havia um pátio com uma grande cisterna redonda. Seu aspecto parece aquelas das
fortalezas israelitas do deserto de Judá e do Neguebe. A cerâmica associada a
essas estruturas varia do oitavo ao começo do sexto século a.C. Essa data é
confirmada por um ostracon com
caracteres hebraicos antigos, atribuídos ao período imediatamente anterior ao
exílio babilônico. As instalações foram destruídas durante a queda do reino de
Judá. Provavelmente pode ser associada com ‘ir há-melah (cidade do sal), uma
das seis cidades listadas em Josué 15,61-62 e situada no deserto.
Fase I-a
- Depois de muitos séculos de abandono, Qumran foi ocupada novamente, em data
difícil de precisar. Os edifícios, em sua maior parte, sofreram adições. Duas
novas cisternas foram cavadas, próximas à que havia. O escasso material
cerâmico não permite identificação com o período seguinte nem havia moedas. Já
que os edifícios da fase I-b foram aparentemente construídos no tempo de João
Hircano (134-104 aC), a fase I-a, de pouca duração, pode possivelmente ter
começado durante o reinado de Hircano ou, mais provavelmente, durante o reino
de um de seus imediatos predecessores - seu irmão Simeão (142-134) ou seu tio
Jônatas (152-142).
Fase I-b
- Nesse período, as construções foram mais alargadas e tomaram mais ou menos a
sua forma final. Elas consistem de um edifício principal com uma torre, um
pátio central, salas para uso comum, uma sala para reuniões que servia também
como refeitório e uma despensa, onde foram encontrados milhares de vasos
(pequenas jarras, pratos, bacias e tigelas). No lado sudoeste havia uma oficina
de cerâmica com uma bacia para lavagem da argila, um depósito cavado no chão,
um lugar para o movimento giratório das peças cerâmicas e dois fornos. Um outro
edifício, situado a oeste, consistia de um pátio cercado por despensas. Entre
os dois edifícios havia três cisternas da fase I-a e oficinas. Outras cisternas
e dois banheiros foram construídos nas proximidades. Ao norte deste complexo
havia um grande e emparedado pátio e ao sul uma esplanada que se estendia ao
Wadi Qumran. Ao redor dos edifícios os escavadores encontraram ossos de
animais, principalmente ovelhas e cabras mas também vacas e bezerros. A
cerâmica desta fase data do fim do período helenístico. As moedas permitem uma
datação mais precisa para seu começo. É certo que os edifícios foram ocupados
durante o período de Alexandre Janeu (103-76 aC) e podem ter sido construídos
antes, sob João Hircano. O fim desta fase é marcado por dois episódios
catastróficos: um terremoto, que destruiu duas cisternas, a torre e o edifício
principal, a despensa e a sala de reuniões e a extremidade do segundo edifício;
e um incêndio, que deixou uma grossa camada nas áreas abertas próximas dos
edifícios: parece que o terremoto destruiu os edifícios ocupados que então
foram alcançados pelo fogo dos fornos. O sítio foi abandonado na fase I-b. Os
edifícios não foram imediatamente reconstruídos nem o sistema de água
restaurado. Reparos foram feitos na fase II.
Fase II -
O lugar foi abandonado por um breve período e foi novamente ocupado pela mesma
comunidade. A configuração geral e a função dos principais edifícios foram
mantidas. As refeições, talvez rituais, continuaram a ser praticadas; as salas
foram limpas dos entulhos, sendo que algumas delas e duas cisternas foram
encontradas fora de uso; as estruturas mais comprometidas foram reforçadas. Uma
grande sala com cinco fogões (fornos) era, aparentemente, a cozinha. A oficina
de cerâmica continuava em uso; duas outras oficinas entre os edifícios
principais são de natureza indeterminada; nas proximidades havia um moinho e um
forno. Em uma das salas do edifício principal foram encontradas três mesas (uma
grande e duas pequenas), feitas de tijolo; também foram encontrados um banco
baixo ao longo das paredes e tinteiros, encobertos por entulhos; isso sugere -
para quem para quem pensa que Qumran seja uma espécie de convento - que a sala
pode ter sido um scriptorium, no qual os escribas e copistas trabalhavam. Uma
grande quantidade de peças cerâmicas foi encontrada na fase II, exceto certas
formas especiais de tipo que se originaram na fase I-b, e continuado na fase
seguinte como resultado de uma tradição local de trabalho. Fora isso, a
cerâmica é virtualmente a do primeiro século d.C., encontrada em tumbas
judaicas de Jerusalém e nas escavações da Jericó herodiana. O começo e o fim
desta fase podem ser fixados por moedas e por fontes históricas. Depois do
terremoto de 31aC, os edifícios foram retomados por Herodes Arquelau,
provavelmente entre 4-1 aC. Qumran foi destruída durante a guerra em junho do
ano 68 dC quando, de acordo com Josefo, o exército romano ocupou Jericó e
Vespasiano visitou o Mar Morto. As moedas descobertas confirmam a data (as
últimas da fase II são quatro moedas judaicas do ano três da guerra judaica, em
contraste com 68 moedas do ano dois).
Fase III -
A guarnição romana estacionada no sítio foi responsável por mudanças radicais
encontradas nesta fase. Somente parte das ruínas foram restauradas para uso dos
ocupantes; algumas pequenas salas foram construídas ao acaso; foi utilizada
somente uma das numerosas cisternas, com simplificação do sistema de água. A
cerâmica, escassa, é similar à encontrada em outros sítios do século primeiro
dC, sendo que a típica de Qumran estava ausente. As moedas também são menos
numerosas e as últimas, que indubitavelmente pertencem a esta ocupação, datam
de 72-73 dC. Parece que a guarnição romana se retirou imediatamente depois da
queda de Massada, em 73.
A área de
Qumran – Os penhascos que dominam Qumran
abrigam muitas cavernas naturais. Em 1952 foram encontradas 26 cavernas ou
fendas contendo cerâmica idêntica à de Qumran. Essas cavernas foram usadas
pelas pessoas que lá habitavam durante as fases I-b e II. Algumas eram
apropriadas para abrigo enquanto outras serviam somente como despensas ou como
esconderijos para aqueles que viviam em barracas ou tendas nas redondezas. De
fato, uma dessas fendas foi encontrada contendo uma barraca. As cavernas da
plataforma não são naturais e foram cavadas para formarem habitações.
Encontraram-se, ao norte e ao sul do platô de Qumran, dois pequenos cemitérios,
nos quais homens, mulheres e crianças foram sepultados. O número de pessoas que
lá viviam ou nas cavernas próximas e que participavam das atividades de Qumran,
durante o período mais populoso chega a 200. Essas pessoas ganhavam a vida de
várias ocupações (como as indicadas pelas oficinas), criação de gado, cultivo
de agricultura adequada ao solo árido da região. Entre Qumram e Ein Feshka,
três quilômetros ao sul, o litoral plano era irrigado por meio de pequenas
fontes, onde até hoje a água de pouco teor de sal facilita o cultivo de
cana/junco e arbustos. O sal e o asfalto do Mar Morto provavelmente
contribuíram para que os habitantes locais tivessem ocupação adicional. Os
recursos naturais da região foram explorados desde a Idade do Ferro. Ruínas de
um edifício foram encontradas sob as escavações de Qumran; ele pode datar do
nono século aC. Depois de breve ocupação ele foi abandonado quando os ocupantes
se mudaram para o platô de Qumran, que oferecia clima mais favorável e melhor
posição defensiva. O muro que protegia a área irrigada e cultivada data do
mesmo período, que continuou a ser usado. Perto dele foi descoberta uma
estrutura quadrática na qual havia cerâmica contemporânea à de Qumran. Essa
estrutura foi evidentemente uma proteção (torre) ou um edifício onde trabalhos
agrícolas eram feitos dentro da proteção do muro.
Qumran –
sede de um grupo religioso?
A área
foi habitada várias vezes, começando com os edifícios israelitas da Cidade do
Sal até as construções bizantinas em Ein Feshka. A mais importante ocupação se
estende da segunda metade do segundo século aC até o ano 68 dC, da qual temos
traços nas cavernas dos penhascos e do platô dos edifícios de Qumran e Ein
Feshka; o povo que vivia nas cavernas e nas barracas próximas se reunia em
Qumran para o cultivo de suas atividades comunitárias. Eles trabalhavam nas
oficinas de Qumran (ou em atividades agrícolas em Ein Feshka) e seus corpos
eram enterrados em um dos dois cemitérios que lá havia. Este era um grupo
altamente organizada, a julgar pelo planejamento dos edifícios que construíram,
pelo sistema de abastecimento de água e por outras facilidades comuns e ainda
pelo ordenado arranjo das sepulturas no cemitério maior. O especial método de
sepultamento, a grande sala de reuniões e de refeições e os restos de
utensílios nelas utilizados que foram meticulosamente enterrados - isso indica
que a comunidade tinha um caráter religioso e praticava seus próprios e
peculiares ritos e cerimônias. Os rolos descobertos confirmam estas conclusões e
fornecem informações adicionais. A evidência arqueológica mostra que os rolos
pertenciam à comunidade religiosa que ocupou as cavernas e os edifícios de
Qumran. Esses rolos são o que sobrou de sua livraria, cujos trabalhos
descreviam a organização da comunidade e as leis que governavam seus membros.
As descobertas arqueológicas são interpretadas no contexto dessa vida em
comunidade. Alguns rolos contêm alusões à história desse grupo religioso, que
se separou do judaísmo oficial de Jerusalém para uma existência no deserto,
absorvida em orações e trabalho, enquanto esperava o Messias.
Controvérsia
– A interpretação dessas
referências históricas tem sido objeto de muito debate entre os especialistas.
Uma resposta decisiva ou conciliadora não pode ser esperada dos achados
arqueológicos, pelo menos por ora. Elas apenas ajudam a reforçar a hipótese de
que a comunidade floresceu na costa do Mar Morto, da segunda metade do segundo
século aC até 68 dC e que os eventos descritos nos manuscritos ocorreram em
Qunran durante esse período. A filiação religiosa da comunidade também tem sido
objeto de controvérsia. Muitos especialistas consideram que a comunidade teve,
de qualquer forma, contato com os essênios. Plínio relata que eles moravam em
isolamento na região de En-Gedi. Há somente um sítio que corresponde à
descrição acima: o platô de Qumran. Os essênios de Plínio, então, foram a
comunidade religiosa de Qumran-Feshka.
Mais
controvérsias – Os
seguintes comentários tornam-se indispensáveis, por mais superficiais que
possam parecer. Isso porque as considerações acima expostas foram extraídas de
fontes escritas por Roland de Vaux, arqueólogo responsável pelas primeiras
escavações de Qumran e partidário da tese de que foram essênios os seus
habitantes. Todo o trabalho posterior de investigação arqueológica e histórica
partiu desse pressuposto. Contudo, mais recentemente começaram a surgir novas e
corajosas vozes contrárias que não podem ser silenciadas neste despretensioso
trabalho introdutório. Uma delas pertence a um qumranólogo respeitado: Norman
Golb . Este erudito estudioso apresenta uma análise serena - mas convincente -
em que questiona o “dogma” tradicional segundo o qual Qumran foi sede de uma
comunidade religiosa identificada como sendo a dos essênios; aponta as
motivações políticas e ideológicas que sustentam tal princípio; analisa o
conteúdo dos principais manuscritos encontrados nas grutas de Qumran; por fim,
apresenta argumentos científicos, dificilmente irrefutáveis, na defesa de novas
luzes na abordagem da questão. No começo dos anos noventa uma equipe de
arqueólogos da Universidade Hebraica de Jerusalém escavou um sítio localizado a
três quilômetros ao norte de Cesaréia marítima, chamado Horvat ‘Eleq, na serra
conhecida pelo nome de Ramat Hanavit. Concluiu-se que o sítio era uma
verdadeira “praça fortificada”, como as mencionadas por Josefo e pelos livros
dos Macabeus. O chefe da equipe, Yizhar Hirschfeld, registra que os asmoneus
construíram dezenas de fortificações por toda a Judéia, não só para proteção da
população, mas também para controle das vias de transporte e manutenção da
ordem. O que surpreende nisso tudo é que há muitas semelhanças entre Horvat
‘Eleq e Qumran, como a torre, complexos habitacionais a ela ligados, sistema de
abastecimento de água, além de uma piscina e uma casa de banhos. Hirschfeld
enviou uma correspondência a Golb, em 1995, na qual registra o seguinte: “...a
semelhança arqueológica entre os dois sítios é inegável. Ambos apresentam uma
[torre de] fortaleza equipada com depósitos subterrâneos e com uma parede
frontal de pedra (proteichisma), e ambos os complexos habitacionais foram
encontrados nas proximidades da torre... Também em Qumran havia dois complexos
habitacionais, um de cada lado da torre... Um estudo comparativo das
descobertas arquiológicas demonstra que Ramat ha-Nadiv e Qumran não eram os
únicos fortes rurais da Palestina..., mas podem ser incluídos entre uma série
de outras... fortalezas do período do segundo templo descobertas na área rural,
tais como as que foram encontradas em ‘Ein et Turabeh perto de Qumran, em ‘Ein
Guedi, em ‘Arad, em ‘Aroer, nas colinas de Hebron e no norte da Palestina, em
Sha’ar ha-’Amaqim e Horvat Teffen.” Essa admissão não foi suficiente para que
houvesse uma mudança no quadro dos estudos de Qumran, pois tornavam-se
evidentes os traços de semelhança entre os dois sítios e a finalidade militar de
cada uma delas. Portanto, Qumran é uma das tantas fortalezas da Judéia e nada
prova que os ocupantes dessa fortaleza teriam qualquer relação com os
manuscritos descobertos nas cavernas. Justamente neste ponto da discussão
residem problemas, que foram classificados por Golb como um “conflito básico no
mundo acadêmico”, relativamente, é claro, à qumranologia: “um conflito, a
saber, entre as forças que guardam a santidade de um corpus de conhecimento
acadêmico convencional e de seus criadores e aqueles que estão decididos a
examinar as implicações dos novos conjuntos de evidências que contradizem e, portanto,
ameaçam essa santidade”. Golb chama a atenção para um sério problema do mundo
acadêmico, quando questiona valores do mundo do saber. E, no caso, as discussões
devem ser vistas como um assunto específico do hebraísmo ou devem ser analisadas
sob o ponto de vista das condições de investigação e produção científicas?
Parece que pode ser sentida uma certa suspeição na evolução dos acontecimentos
no que diz respeito à investigação arqueológica e divulgação dos resultados das
pesquisas de Qumran. Imediatamente após as descobertas dos manuscritos, houve
as primeiras tentativas de associá-los ao essenismo, sem que investigações
acuradas tivessem sido levadas a cabo, para conclusões mais seguras. Sem que as
escavações tivessem começado! O padre de Vaux e sua equipe escavaram o sítio e
publicaram textos em que foi veiculada a interpretação tradicional, geralmente
aceita, até que em 1967 foram afixadas placas em Qumran, com a descrição, agora
oficial, da associação do sítio com os essênios: a teoria virou verdade nos
livros de história, de teologia, nas enciclopédias... a ponto de serem
rejeitadas críticas isoladas ao oficialmente prescrito. Acontece que aos poucos
houve uma queda na ênfase com que era defendida essa avaliação; a partir dos
anos setenta houve diminuição de publicações especializadas, embora os
estudiosos tivessem aos poucos adquirido maiores informações sobre o conteúdo
dos rolos. Nos anos oitenta um especialista de Oxford passa a integrar a equipe
editorial oficial e começam a surgir oportunidades para propostas diferentes da
tradicional; questiona-se igualmente a autenticidade do Rolo de Cobre e outros
conteúdos relacionados à questão. Com isso, passa a sofrer abalos em sua
credibilidade a opinião então aceita e começam a aparecer conflitos de
interpretação e de ideias sobre os rolos e sobre a natureza e a finalidade do
complexo de Qumran. Como era de se esperar, resistências houve e há,
principalmente em Israel. Apesar disso, o jornal diário Haaretz publicou, em
abril de 1995, um artigo crítico de Norman Golb que, a partir daí, começou a
proferir palestras em Israel, quando teve oportunidade de divulgar suas ideias
e fomentar um diálogo com especialistas e representantes da corrente contrária.
Há um declínio da tese que associa os manuscritos com os essênios; a questão
ainda não chegou a um consenso entre os especialistas. Sobre isso, assim se
manifesta Roberta L. Harris: “...quase cinquenta anos após a descoberta dos
primeiros rolos, ainda não existe um consenso com respeito à identidade da
comunidade de Qumran, ao caráter das edificações do sítio, à natureza das
crenças daqueles que escreveram os rolos ou à relação que eles tinham com o
cristianismo, se é que de fato tinham alguma”. Vale a pena transcrever o que a
respeito registra outro especialista, na revista Time, em 1995. O trecho
sintetiza com propriedade a mudança de postura verificada na evolução do
tratamento da questão e faz referência às tendências do estágio atual: “...os
estudiosos a princípio pensavam que os Manuscritos do Mar Morto, com as suas
intrigantes referências à iminente vinda de um messias, representavam os
idiossincráticos dogmas de uma seita periférica de ascetas judeus conhecida
como a seita dos essênios. No entanto, especialistas agora acreditam que os
textos, que incluem fragmentos de códigos legais, oráculos e outros gêneros
literários, refletem crenças amplamente difundidas no judaísmo do século I. A
Terra Santa dos tempos de Jesus, mostram os rolos, pululava de fervor
apocalíptico.”
Uma surpresa na programação do dia: visita ao sítio
tradicional do batismo de Jesus, na fronteira sul, entre Israel e Jordânia.
Bem cedo, após o café da
manhã, seguimos para Cesareia de Filipe (Banias), que registra
acontecimentos que remontam ao período do Helenismo, sob a dinastia dos
Ptolomeus, no século III a.C., sendo também conhecida pela famosa afirmativa do
Apóstolo Pedro a respeito de Jesus: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”.
Visitamos tel Dan que, de acordo com escavações arqueológicas, pode ter sido
ocupada a partir de 4.500 a. C., tendo sido ocupada também na era do bronze e
ferro até ser ocupada em períodos como Persa, Helenístico e Romano. Era uma
região pertencente à Tribo de Dan. O tel Dan fica ao norte de Israel onde é
possível ver uma das fontes do rio Jordão. Retornamos para visitar Korazin que,
conforme descrita nos evangelhos, é uma das cidades onde Jesus fez mais
milagres, e justamente por causa da dureza do coração do seu povo, o Messias
profetizou contra ela. As ruínas de Korazin aparentemente pequenas, ocupando uma área de 100.000
metros quadrados, o que em proporções da antiguidade é bem grande. Na cidade
foram feitas descobertas arqueológicas de extrema importância para compreensão
do papel de Korazin nos dias de Jesus. Retorno ao hotel e descanso.
A sinagoga em Corazim é de estilo típico "galileu".
As características destas sinagogas
são: 1) forma de basílica com três naves separadas
por duas linhas de pilares, 2) três entradas, sendo a
central a maior; 3) bancos em torno das
paredes internas, 4) um pedestal
para suportar o peso dos arcos.
A “cadeira de Moisés” de basalto foi
encontrada nos anos vinte e
possui uma inscrição em aramaico comemorando
a Yudan. Jesus refere-se a este lugar de
autoridade “na cadeira de Moisés se assentaram
os escribas e os fariseus. Fazei e guardai tudoi quanto
eles vos disserem, porém não os imiteis em suas obras, porque dizem e não fazem”(Mt 23:2-3).
9º Dia – 13/04 – Galileia
Iniciamos nosso dia com uma visita a Caná
da Galileia, lugar do primeiro milagre público do Senhor. Depois prosseguimos
para um agradável passeio de barco pelo Mar da Galileia até chegar ao
Museu do Barco, onde existe um barco da época de Jesus, restaurado por
arqueólogos após ter sido encontrado na lama, às margens do mar da Galileia.
Seguimos para o tradicional
Monte das Bem-aventuranças, onde Jesus proferiu o Sermão do Monte. Descemos
até Cafarnaum, que era o centro do ministério de Jesus; Tabgha,
local onde tradicionalmente se radica o milagre da multiplicação dos pães e dos
peixes. Terminamos nosso dia com uma visita às ruínas Kursi, cidade que
é associada ao endemoninhado geraseno.
Sobre o Monte das Bem-aventuranças:
o chamado "Sermão
do Monte" está registrado em Mateus 5-7 e Lucas 6. As
discrepâncias entre a versão de Mateus, que o localiza
em uma colina, e Lucas, em uma planície, podem ser facilmente reconciliadas, se
se observa as várias planícies nas encostas da Galileia. A Bíblia não dá uma
indicação precisa do evento, mas
os bizantinos construíram uma igreja
para comemorar o Sermão nas encostas do Monte. Alguns
dos homens de Napoleão as localizaram no vizinho Monte Arbel.
Propor este monte como o local do
Sermão da Montanha é uma boa sugestão. Este lugar era
outrora conhecido como Monte Eremos.
Este monte está localizado entre Cafarnaum e Tabgha
e está um pouco acima da "Enseada do Semeador".
A capela: A montanha tem no seu cume uma
capela católica construída pelas
Irmãs Franciscanas, em 1939, com o
apoio do governante italiano
Mussolini. O edifício, construído pelo renomado arquiteto Antonio Barluzzi, é
cheio de simbolismos numéricos.
Em frente à igreja, os símbolos na calçada representam Justiça, Prudência, Fortaleza, Caridade,
Fé e Temperança. Dentro
da igreja está pendurada a capa da visita do Papa Paulo VI, em 1964.
As bem-aventuranças: Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos
céus. Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados. Bem-aventurados
os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos
de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados
os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos
por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois
quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo,
disserem todo mal contra vós.
A planície de Genezaré – O Monte das Bem-Aventuranças descortina
uma vista para a panície de Genezaré, uma grande área cultivada por sua fertilidade. Josefo disse que esta
planície era "a razão
pela qual a natureza é coroada".
Várias vezes o Novo Testamento registra Jesus atuando nesta área, incluindo quando curou
as multidões aqui e enfrentou sentenças dos
fariseus pela sua impureza
ritual (Mc 6-7).
Tabga, Também conhecida como
Heptapegon, el-Oreme, En Sheva, 'En Sheva, et-Tabga.
A 3 km a oeste de Cafarnaum se encontra o lugar que Josefo chamou de "fonte de Cafarnaum".
Para os moradores locais, este é certamente um local popular para a pesca devido às suas famosas "sete fontes". Heptapegon (nome hoje deformado
e conhecido como Tabga) é o local tradicional de vários episódios no ministério de Jesus.
As sete fontes de Tabga (hoje apenas seis
delas foram descobertas) produzem águas mais quentes do que as do Mar da Galileia. O calor
da água ajuda na produção de algas,
que por sua vez atrai os peixes. Pescadores têm frequentado
a área por milhares de anos.
Tabga é o local tradicional da vocação dos discípulos. Acredita-se que Jesus caminhou ao longo da costa e chamou Simão Pedro e André, que lançavam as redes ao lago. Em
seu caminho, viu também outros irmãos,
Tiago e João, que estavam preparando as suas redes com seu pai Zebedeu. Jesus
chamou-os todos a
segui-lhe.
Encontrou-se evidências de atividade marítima em
Tabga na recente descoberta de um porto. Isso é visível
quando o nível da água é -211,50
m. ou menos. O lado oeste do quebra-mar
tinha 60 m de comprimento. Outro quebra-mar, de 40 m.,
se encontrava perpendicular à costa e
protegia a bacia 30
m de largura, na qual se entrava pelo leste.
A primazia de Pedro: Segundo
João 21, Jesus se reúne novamente com
os seus discípulos para seu
"último café da manhã." Aqui ele restaurou a Pedro,depois de haver negado Jesus três vezes, quando perguntado três vezes
se ele o amava. A tradição
católica liga este evento com a nomeação de Pedro como o principal líder da igreja. A rocha do lado esquerdo é o local tradicional onde Jesus teria chamado os discípulos.
Pães e peixes: mosaico bizantino
preservado em baixo de uma igreja moderna, mas era parte
de outra igreja que comemorava o evento
em que Jesus
alimentou os cinco mil. Os peregrinos bizantinos estavam errados em colocar este milagre aqui, porque a Bíblia diz que isso aconteceu em um local remoto, perto de Betsaida. O artista, aparentemente, não tinha
conhecimento de peixes do lago,
que não têm barbatanas dorsais.
Kursi está localizado perto da costa oriental
do mar da Galileia, na margem do leito do rio Nahal Samakh, descendo das
colinas de Golan. Kursi foi identificado pela tradição como o local do
"Milagre dos Porcos", ocasião em que Jesus curou um ou dois homens
possuídos por demônios, transferindo-os a um rebanho de porcos (Marcos 5.1-20,
Mateus 8. 28-34). Lucas 8. 26-39). Os detalhes diferem um pouco nos três
evangelhos que tratam do episódio, e novamente um pouco mais em vários
manuscritos antigos desses mesmos evangelhos. Os eventos ocorrem na terra dos
Gerasenos, Gadarenos ou Gergesenos (Marcos 5. 1, Mateus 8.28, Lucas 8.26). Exorcizado
foi um homem, conforme Marcos e Lucas, ou dois, segundo Mateus.
O mosteiro e sua igreja foram construídos no século V,
permanecendo em uso durante todo o período bizantino (em termos
judaico-israelenses: nos períodos mishnaico e talmúdico). Sendo este um
importante local de peregrinação, foram construídos vários edifícios para a
acomodação de peregrinos, bem como para a comunidade monástica local, todos
cercados por muros e outras fortificações. Em 614, os exércitos sassânios (persas)
invadiram a Palestina, devastando a maioria de suas igrejas e mosteiros,
incluindo a de Kursi. A igreja foi reconstruída mais tarde, mas parte do
assentamento destruído foi deixado em seu estado arruinado. A igreja continuou
funcionando sob o domínio muçulmano após a conquista da Palestina em 638-641
até ser totalmente devastada pelo terremoto de 749. Os ocupantes árabes usaram
as ruínas como moradias e para armazenamento no século IX, marcando o fim do
uso de Kursi como local de peregrinação cristã.
O mosteiro é cercado por uma parede de pedra
retangular medindo 145 x 123 metros. A entrada de frente para o Mar da Galileia
era guardada por uma torre de vigia, e uma estrada pavimentada levava a um
porto, onde os barcos de peregrinos podiam atracar. Uma vez dentro da muralha,
os peregrinos tinham a opção de ir primeiro para uma luxuosa casa de banho
(área escavada à esquerda / norte da entrada), ou ir direto para a igreja
central. Com 24 x 45 metros quadrados de área, a igreja foi introduzida através
de um pátio que se abre para um átrio ou pátio interno, seguido pela igreja
propriamente dita, ladeada por capelas e salas auxiliares. A igreja é do tipo
basilical, com duas filas de colunas que a separam em uma nave e dois
corredores. O chão de mosaico da nave consiste em desenhos geométricos,
enquanto os corredores laterais continham medalhões com representações da flora
e fauna locais; a maioria destes foi destruída, provavelmente após a invasão
muçulmana, mas alguns ainda são visíveis, como gansos, pombas, camarões e
peixes, cidras, tâmaras, romãs e uvas. A capela do batistério no lado sul da
abside central tem uma pequena pia batismal, e o piso de mosaico inclui uma inscrição
indicando que foi colocada no ano 585. Uma escadaria (não acessível aos
visitantes) leva do extremo sul do nártex a uma cripta usada para enterros,
onde os arqueólogos encontraram vários esqueletos intactos. Entre os quartos do
lado norte, há um que contém uma prensa de azeite. O átrio é construído em
grande parte sobre uma grande cisterna, como se pode ver nas duas cabeças dos
poços; uma escada que leva até a cisterna não é acessível aos visitantes.
Uma pequena capela bizantina ficava do lado de fora do
complexo principal, na colina ao sul. Aqui, um grande pedregulho provavelmente
foi considerado o local exato do milagre. Restos foram descobertos do que
poderia ter sido uma torre construída ao redor da pedra e de uma capela
espremida entre a encosta e a pedra. Três camadas distintas de piso de mosaico
e uma abside foram escavadas aqui.
Arqueologia: o complexo
monástico: As ruínas do
mosteiro foram desenterradas pela primeira vez por equipes de construção de
estradas em 1970, e a maior escavação ocorreu entre 1971 e 1974, liderada pelo
arqueólogo israelense Dan Urman e seu colega grego Vassilios Tzaferis para a
Autoridade de Antiguidades de Israel. Juntos, eles escavaram o maior complexo
monástico bizantino encontrado em Israel. Outras escavações, desde então,
ocorreram. A casa de banho revestida de mármore é uma das descobertas mais
recentes.
A igreja foi reconstruída em um nível que permite ao
visitante entender sua forma e tamanho tridimensionais. Artefatos cristãos de
Kursi podem ser vistos no Museu Arqueológico de Golan.
A Sinagoga: Um edifício que pode ter sido uma
sinagoga também foi desenterrado; uma grande laje de mármore inscrita em
aramaico foi encontrada dentro desse prédio, e duas palavras foram decifradas
logo após a descoberta: "amém" e "marmaria"; a segunda,
literalmente "mármore", foi interpretada por alguns estudiosos como
talvez ligada ao culto da Virgem Maria, possivelmente significando "o
grande rabino de Maria", já que "mar" significa rabino.
Partindo de Tiberíades seguimos
para Cesareia Marítima, junto ao Mar Mediterrâneo. É uma cidade
construída por Herodes Magno e sede do governo romano sobre Israel. É também o
local da conversão do Centurião Cornélio e da prisão e julgamento do apóstolo
Paulo. Em Cesareia vimos, entre outras coisas, um bem conservado teatro romano,
um hipódromo, resquícios de um palácio de Herodes e as ruínas de um grande
porto construído por Herodes Magno. Depois visitamos o Aqueduto, que abastecia
a cidade com água canalizada das proximidades do Monte Carmelo. Depois partimos
para Shiloh, que é mencionada no Velho Testamento como um lugar de reunião para
o povo de Israel onde havia um santuário contendo a Arca da Aliança até ela ser
tomada pelos Filisteus.
Na costa Mediterrânea, entre Tel Aviv e Haifa, ergue-se Cesareia, cidade
moderna que mantém muito do esplendor de dois mil anos atrás, quando Herodes a
tornou o maior porto do Império Romano. A grandiosidade da antiga cidade foi
revelada pelas escavações arqueológicas realizadas nas décadas de 1950, 1960 e
1990.
Herodes, que Roma colocara no trono da Judeia em 37 a.E.C., recebera
do imperador César Augusto, como recompensa por sua lealdade, a Torre de
Straton, Pyrgos Stratonos, antigo porto fundado pelos fenícios, no século 3
a.E.C. Grande admirador da cultura greco-romana, o monarca transformou o
porto, em um curto período de 13 anos - de 22 a 9 a.E.C. - na segunda maior
cidade da Judeia, secundando apenas Jerusalém, e a chamou de Cesareia, em
homenagem a César Augusto, seu grande protetor.
Em suas obras Antiguidades e Guerra Judaica, Flávio Josefo,
historiador judeu do século 1º. de nossa Era, conta que devido à profundidade
do mar, Herodes teve que criar uma enseada artificial para erguer o novo
porto, ao qual deu o nome de Sebastos, nome grego do imperador Augusto. O
quebra-mar construído está atualmente a cinco metros abaixo do nível do mar.
Para construção do novo porto, maior do que o famoso porto de Atenas, Pireus,
Herodes importou tecnologia e materiais desenvolvidos por engenheiros
romanos, em particular uma argamassa pozolânica, usada para preencher as
estruturas de madeira colocadas na água para erguer as fundações do porto.
Esta material constitui ligante muito potente na construção de grandes
estruturas, especialmente por suas propriedades hidráulicas que permitem que
as fundações sejam lançadas sob a água. Duas destas estruturas de madeira,
uma quase intacta, foram encontradas por arqueólogos.
Essencial para o comércio entre o Império Romano e o Oriente, Cesareia
tornou-se rapidamente o maior porto em funcionamento na costa oriental do
Mediterrâneo, rivalizando com os de Jaffa e Acre. Além do valor estratégico e
econômico, a importância da cidade estava diretamente relacionada à vontade
de Herodes em fazer desta o maior centro de cultura greco-romano na Judeia.
Totalmente murada, a cidade de 200 acres era uma polis, uma cidade
greco-romana em sua estrutura e concepção. Flávio Josefo relata que Herodes a
construíra "inteiramente em pedra branca, ornando-a de palácios magníficos.
E foi lá, mais do que em qualquer outra parte, que Herodes implementou a
grandeza do seu gênio".
Sobre um pódio elevado diante do porto, o monarca erguera um templo
dedicado ao imperador César Augusto. Na parte meridional da cidade estava o
palácio real, cuja grandiosidade foi revelada pelas escavações realizadas ao
longo de décadas. As duas colunas com inscrições em grego e latim
encontradas, com nomes dos governadores romanos da Província da Judeia,
comprovam que o palácio real ficou em uso durante todo o período romano.
Como em toda cidade romana, havia em Cesareia inúmeros edifícios
públicos e locais de entretenimento. Na parte sul da cidade, de frente para o
mar, foi construído o primeiro teatro romano do Oriente Médio, com milhares
de lugares distribuídos em uma estrutura semicircular arqueada. O piso da
orquestra era revestido de gesso pintado, passando a ser de mármore em
período posterior. Havia, ainda na costa meridional, um amplo anfiteatro
onde, a cada quatro anos, eram realizados jogos. Pelas dimensões, forma e instalações
conclui-se que o anfiteatro também era usado para corridas de cavalos e
bigas. Relata Josefo que Herodes ergueu no local uma gigantesca figura de
César, não menor do que o Zeus olímpico, uma das sete maravilhas do mundo
antigo. Na época de sua construção, o anfiteatro acomodava 8.000
espectadores, sendo sua capacidade ampliada para 15.000, no século 1o da Era
Comum. Os lados oriental e setentrional ainda estão bem preservados, enquanto
o ocidental foi destruído em grande parte pela ação do mar. Atualmente, o
anfiteatro não é apenas uma relíquia do passado, mas um local moderno no qual
são frequentemente realizados shows e espetáculos.
Para garantir à cidade constante suprimento de água potável, Herodes
construiu um aqueduto de mais de 18 km, que se estendia ao longo da costa
trazendo água de fontes localizadas no sopé do Monte Carmelo. A água entrava
pelo norte e corria por um sistema de tubulação às cisternas e fontes da
cidade. Um sistema de drenagem por baixo da cidade levava o esgoto para o mar.
Dois anos após a morte de Herodes, no ano 6, a Judeia passou a ser
governada diretamente por procuradores romanos, que fizeram de Cesareia a
capital administrativa da região e o quartel-general da 10ª Legião Romana.
Presença judaica
Embora erguida nos moldes de uma cidade helênica, havia em Cesareia
uma comunidade judaica grande e poderosa, que vivia lado a lado com pagãos
helenizados, principalmente gregos. Desde a época dos macabeus, quando no ano
96 a.E.C., por um breve período, o porto fez parte do reino hasmoneu, um
número crescente de judeus vivia na cidade.
As disputas entre a comunidade judaica e os pagãos helenizados eram
frequentes em Cesareia, sendo que uma dessas deu início, no ano 66 desta Era,
aos distúrbios que resultaram na 1a Grande Revolta Judaica (66-73). As
grandes revoltas movidas pelos judeus da Judeia contra o Império Romano não
devem ser encaradas apenas como sublevações por um povo colonizado. Eram
também o resultado do confronto entre o judaísmo, seus valores e a cultura
grega adotada pela grande maioria dos habitantes do Império Romano,
principalmente no Oriente.
O distúrbio precursor da 1ª. Grande Revolta teve início quando alguns
gregos realizaram uma cerimônia pagã, na entrada da sinagoga. Os judeus
consideraram o ato um insulto e apelaram para as autoridades romanas. Adeptas
da cultura grega, estas desprezavam o judaísmo e favoreciam os não judeus que
viviam na Terra de Israel. Quando as autoridades se pronunciaram contra os
judeus, a população grega da cidade celebrou a vitória entrando no bairro
judaico e massacrando milhares de pessoas. A guarnição romana nada fez para
impedir a violência.
Ao chegar a Jerusalém, as notícias das mortes causaram tumulto. Os
ânimos se acenderam ainda mais quando Florus, o procurador romano,
apoderou-se de uma grande quantidade de objetos de prata do Templo Sagrado.
Enfurecidos e revoltados, milhares de judeus atacaram e destruíram uma
pequena praça militar localizada em Jerusalém. Era o início da 1ª. Grande
Revolta.
Para reprimi-la, Roma enviou à Judeia o general romano Vespasiano, que
fez de Cesareia o seu quartel-general, até ser empossado imperador, no ano
69. Seu filho, Tito, ficou encarregado de debelar a revolta na Judeia e foi
ele quem liderou o ataque final a Jerusalém e ao Grande Templo. Ambos
tombaram em Tisha B'Av do ano 70. Dezenas de milhares de judeus foram mortos
e outros tantos levados pelos romanos como escravos.
Durante a 2a Revolta
Judaica (132-135), mais uma vez a cidade foi palco de tortura e execução de
milhares de judeus, entre os quais Rabi Akiva, um dos maiores e mais
importantes sábios e líderes religiosos da história judaica, e todos os seus
discípulos.
No século 2o desta Era,
Cesareia transforma-se em uma das mais importantes cidades da parte oriental do
Império Romano e, a partir do início do século 3o, volta a crescer o número de
judeus que viviam na cidade. É nesta época que Rabi Eleazar Ha-Kappar,
conhecido como Bar Kappara, funda um centro de estudos talmúdicos que chegava a
rivalizar com o de Séforis, encabeçado pelo Rabi Yehudah Ha-Nasi.
Com a divisão do
Império Romano, Cesareia passou a fazer parte do Império Bizantino. A Cesareia
bizantina, cuja população era composta por cristãos, samaritanos e judeus, era
cercada por uma muralha de 2,5 quilômetros que servia de proteção aos bairros
residenciais construídos fora da cidade de Herodes. No período, o porto interno
foi bloqueado, sendo erguidos edifícios no local. O anfiteatro também perdeu
sua função original e, em seu lugar, construíram um palácio de dois andares.
A vinda dos árabes
Cesareia foi
conquistada em 639 pelos exércitos árabes. Os 20 mil judeus que viviam na
cidade, oprimidos e discriminados pelas autoridades cristãs bizantinas,
receberam com alívio os conquistadores. Apesar de o porto ser totalmente
abandonado, a fertilidade das áreas ao redor de Cesareia fazia desta uma das
mais prósperas cidades da região.
Em 1101 os exércitos
cruzados liderados pelo rei Balduíno I, conquistam a cidade. Sob os cristãos, a
vida dos judeus se torna muito difícil, o que fez com que em 1170 apenas 20 lá
vivessem. Em 1187, após um cerco de curta duração, Cesareia cai nas mãos de
Saladino, Salah al-Din Yusuf bin Aiub, responsável por reconquistar os
territórios perdidos pelo Islã, inclusive a maior parte do reino de Jerusalém.
No entanto, a cidade ficaria em mãos islâmicas por poucos anos, sendo novamente
reconquistada em 1191 por Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, que
consegue expulsar os muçulmanos. Durante os séculos 12 e 13 o controle sob
Cesareia era exercido ora pelos cruzados ora pelos muçulmanos.
Na segunda metade do
século 13, o rei francês Luís IX decidiu restaurar e fortificar a cidade. É
desse período a impressionante fortaleza cruzada que até hoje pode ser vista,
como lembrança de outros tempos. Mas, as fortificações não bastaram para
resistir às forças islâmicas lideradas pelo sultão mameluco Baybars.
Em 1265, temendo um
retorno dos cruzados, os conquistadores mamelucos derrubaram completamente as
fortificações da cidade, deitando-as por terra. Entulhos bloquearam o escoamento
das águas do aqueduto que, por mais de mil anos, abastecera a cidade. As águas
não represadas espalham-se, transformando o norte de Cesareia em pântano e
formando enormes dunas, com o correr dos anos.
A cidade permaneceu
abandonada até que, em 1878, os turcos otomanos lá assentaram refugiados
muçulmanos vindos da Bósnia. O vilarejo foi abandonado durante a Guerra da
Independência, em 1948.
Após 1948
Moderna e próspera, a
Cesareia de nossos dias abriga parques empresariais e tecnológicos. É também um
dos principais pontos turísticos do país, com um majestoso sítio arqueológico.
Escavações realizadas na década de 1950 e 1960 por arqueólogos israelenses e
estrangeiros trouxeram à luz impressionantes vestígios da grandiosidade da
cidade de Herodes e da época cruzada. A partir de 1990, duas novas expedições
iniciaram trabalhos na região: uma dirigida pelo Departamento de Antiguidades
de Israel e outra, a Expedição Conjunta de Cesareia, um empreendimento do
Centro de Estudos Marítimos da Universidade de Haifa em conjunto com a
Universidade de Maryland e o Instituto de Arqueologia da Universidade de Haifa.
Em 2006, foi inaugurado
na cidade o primeiro museu submerso do mundo. Desde então, os visitantes podem
mergulhar e ver as ruínas do magnífico porto construído por Herodes.
11º Dia – 15/04 – Jerusalém / Planície
da Judeia
Pela manhã partimos para Khirbet Qeiyafa
que é o local de uma antiga cidade fortaleza com vista para o Vale do Elah. As ruínas
da fortaleza foram descobertas em 2007. Visitamos Tel Azekah, que guarda entre
outras coisas, a história da luta entre Davi e Golias. Chegamos a Beit Guvrin,
uma importante cidade na época romana, quando era conhecida como
Eleutheropolis. Seguimos para Tel Maresha, que era a vigia de Israel,
localizada no topo da montanha, e significa: "Aquela que vê", pois
quando os inimigos estavam próximos à antiga cidade, as sentinelas avisavam a
Israel. Partimos para Tel Gezer, este é um local singular, bem diferente
geograficamente da região montanhosa da Judeia, pois nele podem ser encontrados
indícios arqueológicos impressionantes das civilizações que existiram ali.
AZECA – [duma raiz que significa “cavar” [isto é, com enxada]].
Uma cidade na região da
Sefelá, que guardava os limites superiores do vale de Elá. O lugar é
identificado com Tell Zakariyeh (Tel ʽAzeqa), a uns 26 km ao NO de Hebrom.
A primeira menção da
cidade ocorre em Js
10.5-11, com respeito ao ataque coligado de cinco reis cananeus contra
Gibeão. Josué e seu exército, vindo em socorro de Gibeão, perseguiram os exércitos
cananeus “até Azeca e Maquedá”, uma distância de cerca de 30 km. A cidade
foi depois designada à tribo de Judá (Js 15.20, 35).
Durante o reinado do Rei
Saul (1117-1078 AEC), os filisteus juntaram suas forças entre Socó e
Azeca, apresentando Golias como seu campeão. Quando os israelitas chegaram, os
dois exércitos se confrontaram em lados opostos do vale de Elá, até que a
vitória de surpresa de Davi sobre Golias pôs em fuga os filisteus (1Sa 17.1-53).
Com a divisão da nação,
depois da morte de Salomão (c. 998 AEC), o Rei Roboão, de Judá, fortificou
Azeca, junto com Laquis e outras cidades estratégicas. (2Cr 11:.-10)
Escavações feitas em Tell Zakariyeh revelam os restos de muros e torres, e a
evidência duma cidadela fortificada no ponto mais alto desse lugar.
Quando as tropas
babilônicas de Nabucodonosor invadiram o reino de Judá (609-607 AEC),
Azeca e Laquis foram as duas últimas cidades fortificadas a cair, antes da
derrota da própria Jerusalém. (Jr 34.6, 7) A
aparente confirmação disso foi revelada pela descoberta dos óstracos inscritos,
chamados de Cartas de Laquis, um deles contendo a seguinte mensagem,
evidentemente dirigida por um posto militar avançado ao comandante militar de
Laquis, que reza, em parte: “estamos atentos aos sinais de Laquis, segundo
todas as indicações que meu senhor deu, porque não podemos ver Azeca” (Ancient
Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente Próximo], editado por
J. B. Pritchard, 1974, p. 322) Se, conforme parece ser o caso, esta
carta foi escrita no tempo do ataque babilônico, indicaria que Azeca já havia
caído, de modo que não se recebiam mais sinais dessa fortaleza.
Depois do período de
setenta anos de desolação do país, Azeca foi uma das cidades repovoadas pelos exilados
judeus que voltaram (Ne 11.25, 30).
Azeca, uma cidade na região da Sefelá, que guardava os limites superiores do vale de Elá. O lugar é identificado com
Tell Zakariyeh (Tel ‛Azeqa), a uns 26 km a noroeste de Hebron.
História
A primeira menção da cidade ocorre em Josué 10:5-11, com respeito ao
ataque coligado de cinco reis cananeus contra Gibeão. Josué e seu exército, vindo em socorro
de Gibeão, perseguiram os exércitos cananeus “até Azeca e Maquedá”, uma
distância de cerca de 30 km. A cidade foi depois designada à tribo de Judá.
Durante o reinado do Rei Saul (1117-1078 AEC),
os filisteus juntaram suas forças entre Socó e Azeca, apresentando Golias como seu campeão. Quando os israelitas chegaram,
os dois exércitos se confrontaram em lados opostos do vale de Elá, até que a
vitória de surpresa de Davi sobre Golias pôs em fuga os filisteus.
Com a divisão da nação, depois da morte de Salomão (c. 998 AEC), o Rei Roboão, de Judá, fortificou Azeca, junto
com Laquis e outras cidades estratégicas.3
Escavações feitas em Tell Zakariyeh revelam os restos de muros e torres, e a
evidência duma cidadela fortificada no ponto mais alto desse lugar.
Quando as tropas babilônicas de Nabucodonosor invadiram o reino de Judá
(609-607 AEC), Azeca e Laquis foram as duas últimas cidades fortificadas a
cair, antes da derrota da própria Jerusalém. A aparente confirmação disso foi
revelada pela descoberta dos óstracos inscritos, chamados de Cartas de Laquis,
um deles contendo a seguinte mensagem, evidentemente dirigida por um posto
militar avançado ao comandante militar de Laquis, que reza, em parte: “estamos
atentos aos sinais de Laquis, segundo todas as indicações que meu senhor deu,
porque não podemos ver Azeca”.5
Se, conforme parece ser o caso, esta carta foi escrita no tempo do ataque
babilônico, indicaria que Azeca já havia caído, de modo que não se recebiam
mais sinais dessa fortaleza.
Depois do período de setenta anos de desolação do país, Azeca foi uma
das cidades repovoadas pelos exilados judeus que voltaram.6
Beit Guvrin
(Tell Maressa)
Também conhecida como Betogabris, Eleutheropolis, Tel
Maresha, Sandahanna, Beit Jibreen, Bet Giblin, Beth Guvrin, Bet Guvrin,
Gibelin, Maressa
Vista aérea de Maressa, um local emocionado no Antigo
Testamento, uma cidade de Judá dada ao clã de Calebe (Js 15.44). Foi
destruída por Senaqueribe em 701 a.C. e eventualmente se tornou a capital dos
idumeus. Após sua destruição pelos partos em 40 aC, o centro populacional
moveu-se 3,2 km ao norte, para um local hoje conhecido como Beth
Guvrin. Este local tinha sido um subúrbio de Maressa e no período romano
tornou-se o maior centro de concentração da população.
Beth Guvrin acabou
sendo conhecido como Eleuterópolis ("Cidade do povo livre") na parte
final do Período Romano (200 dC), quando o imperador Septimus Severus fez dela
um importante centro administrativo. O anfiteatro data deste período e foi
usado para lutas de gladiadores e animais. Uma das diferenças mais óbvias
entre anfiteatros e teatros é que o anfiteatro é oval e o teatro tem a forma de
um semicírculo.
Oitocentos buracos em
forma de sino foram encontrados na área, como restos de uma antiga
pedreira. Esta pedreira provavelmente data dos séculos IV-IX. A pedra da
pedreira era muito macia para ser usada na construção. Foi então extraída
para fazer fogo e queimar cal enquanto era usada para argamassa e gesso. A
pedreira era aberta através de uma abertura, que media um metro na superfície
dura de Nari, e depois era ampliada para criar a mina.
Nos tempos antigos, os
pombos eram criados por sua carne e o seu estrume, que era usado como
fertilizante. Este grande columbário data aproximadamente do ano 200 a.C.
e tinha a forma de uma cruz dupla de quase 30 m de comprimento.
Durante o período
helênico (ou talvez persa), um grupo de sidônios se estabeleceu em Maressa. Esta
tumba preciosamente decorada foi usada por Apolophanes, o chefe do assentamento
sidônio por 33 anos. Esta tumba foi ocupada desde o século III até o
século I a.C. O fundo da caverna tem a forma de uma cama e é o local de repouso
do patriarca sidônio. Numerosos nichos foram cavados em cada lado desta
câmara.
GEZER
Gezer, uma das mais importantes
cidades dos períodos canaanita e israelita, está situada no caminho entre as
atuais Jerusalém
e Tel
Aviv. Ela provavelmente foi reconstruída por Salomão (1 Rs
9.15), depois que o Faraó a destruiu e a doou a Salomão. Mas a
cidade foi ocupada desde o período Calcolítico até o período Romano.
Após dois anos de amplas escavações arqueológicas, a cidade foi identificada
como a Gezer bíblica em 1871[1],
pelo importante arqueólogo francês Charles Clermont-Ganneau (1846-1923). É
citada na Bíblia Sagrada nos livros de 1 Reis, Josué, Juízes, 1 Crônicas e 2
Samuel.
Gezer, a cerca de 30 quilômetros de
Jerusalém, era uma cidade canaanita de grande expressão na Idade do Bronze e do
Ferro. Depois de ser uma cidade canaanita, foi também uma cidade fenícia e
depois israelita, e durante muito tempo deste período esteve sob o controle de
Egito. Era protegida por uma grande muralha, com uma gigantesca torre de
observação que possibilitava uma visão privilegiada de todo o vale ao redor.
Foi a maior construção de caráter defensivo do período.
Entre os achados arqueológicos da
área está o Portal do Bronze Médio, construído mais ou menos em 1650 a.C., com uma
fundação de pedras e uma fortíssima estrutura de tijolos de argila. Era a
entrada principal da muralha perimetral da cidade, que tinha 4 metros de
largura e várias torres de vigia retangulares (até agora, foram descobertas 25
delas). Estudiosos especulam que a cidade tenha sido destruída pelas tropas do
faraó Thutmoses III, quando invadiu a região, em 1477 a.C.
Os Megálitos de Gezer e outros
achados
Nas primeiras escavações locais,
foram achadas dez grandes pedras que, reerguidas pelos arqueólogos, revelaram
ser uma estrutura megalítica (construção monumental com base em grandes blocos
rústicos de pedra, como pilares). Os estudiosos calculam que foram erguidas
perto de 1500 a.C. pelos canaanitas, e poderiam ser o símbolo de uma aliança
com outros povos, ou um lugar de oração. Algumas das pedras chegam a 3 metros
de altura (foto acima).
Outro arqueólogo,
o irlandês Robert Stewart Macalister (1870-1950) e sua equipe, descobriram um
sistema subterrâneo de distribuição de água para Gezer, em trabalhos para a
universidade britânica de Cambridge. Conseguiram escavar entre 1902-1905 e 1907-1909
um trecho com cerca de 7 metros de bitola e 45 metros de extensão. A data da
construção não pôde ser determinada com precisão por causa do rude estilo de
Macalister pesquisar, desconsiderando os objetos encontrados no local.
Outro achado importante do britânico
foi um calendário
agrícola gravado em uma placa de limestone, uma pedra calcária macia de fácil
manuseio para escavar ou gravar. A placa foi removida para preservação, e uma
réplica foi instalada na pedra em que foi encontrada (foto abaixo).
Macalister havia identificado uma
grande estrutura local como um castelo macabeu. Porém, estudos posteriores
descobriram ser um grande portal dos tempos de Salomão, bem parecido com os
encontrados em Megido
e Hazor.
A mais
ambiciosa escavação (depois de Macalister) foi feita pela Hebrew Union College
Biblical and Archaeology em Jerusalem, começando em 1964/65 sob a direção de
G.E Wright e continuando até 1972. O arqueólogo principal foi William Dever,
junto com H.D Lance e no ano final sob a direção de Joe Seger.
12º Dia – 16/04 – Jerusalém
Após o café da manhã partimos para nosso
programa. Os locais visitados foram organizados de acordo com a melhor dinâmica
para o dia dentro da cidade: o Monte do Templo; o Bairro Herodiano; a Casa
Queimada; o Monte das Oliveiras; o DominusFlevit; o Jardim do Túmulo; Lithostrotos;
o Museu de Israel; a Maquete de Jerusalém.
Monte das Oliveiras – Cadeia de morros arredondados de calcário, situada do lado leste de
Jerusalém, à distância da “jornada de um sábado”, e separada da cidade pelo
vale do Cédron (Ez 11:23; Za
14:4; At 1:12). Essa cadeia inclui três cumes principais. O monte Scopus, de maior
altura e situado mais ao norte, eleva-se a cerca de 820 m e, assim,
ultrapassa a elevação geral de Jerusalém. O chamado monte da Ofensa, ou monte
da Ruína, é o mais sulino dos cumes e eleva-se a cerca de 740m. O cume central,
defronte do monte do Templo, tem por volta de 812m no ponto mais elevado e é
aquele geralmente mencionado na Bíblia como o monte das Oliveiras. Antigamente
esta serra estava coberta de palmeiras, de murtas, de árvores oleaginosas, e,
especialmente, de oliveiras. (Ne 8:15) Foi das oliveiras que esta serra obteve seu nome. Durante o sítio de
Jerusalém pelos romanos em 70 EC, contudo, o monte das Oliveiras foi
desnudado de suas árvores. — The Jewish War (A Guerra
Judaica), V, 523 (xii, 4).
Notáveis eventos da
história bíblica estão relacionados com o monte das Oliveiras. O Rei Davi,
descalço e chorando, subiu o monte das Oliveiras ao fugir de seu filho rebelde,
Absalão (2Sa 15:14, 30, 32). O Rei Salomão construiu altos para a adoração idólatra ali
“à direita [ao sul] do Monte da Ruína”, mas o Rei Josias, mais tarde, os
tornou inapropriados para a adoração (1Rs 11:7; 2Rs
23:13 n). No primeiro século EC,
Jesus Cristo freqüentemente se reunia com seus discípulos no jardim de
Getsêmani, situado no monte das Oliveiras, ou nas suas proximidades. (Mt 26:30, 36; Jo
18:1, 2) Quando estavam em
Jerusalém, Jesus e seus discípulos costumavam passar a noite em Betânia, na
encosta L do monte das Oliveiras, sem dúvida no lar de Marta, Maria e Lázaro. (Mt 21:17; Mr
11:11; Lu
21:37; Jo 11:1) Pelo que parece, de Betfagé, perto de Betânia, Jesus, montado num
jumentinho, iniciou sua cavalgada triunfal pelo monte das Oliveiras até
Jerusalém. (Mt
21:1, 2; Mr
11:1; Lu
19:29) E foi no monte das Oliveiras que ele
explicou a seus discípulos qual seria o ‘sinal de sua presença’. (Mt 24:3; Mr 13:3) Por fim, após sua ressurreição, Jesus ascendeu dali para os céus. — At 1:9-12.
Moriá (Monte do Templo)
Nome da elevação rochosa
em que Salomão construiu um magnífico templo para Jeová. Anteriormente, seu pai
Davi comprara o terreno do jebuseu Araúna (Ornã) para erigir ali um altar, uma
vez que este foi o divinamente indicado meio de acabar com o flagelo resultante
do pecado de Davi relacionado com um censo (2Sa 24:16-25; 1Cr
21:15-28; 2Cr 3:1).
A antiga tradição judaica
vincula o lugar do templo com o monte
na “terra de Moriá”, onde Abraão, às ordens de Deus, tentou oferecer Isaque (Gn 22:2; veja Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], VII, 329-334
[xiii, 4].) Isto faria da “terra de Moriá” a região montanhosa em torno de
Jerusalém. Foi para a “terra de Moriá” que Abraão viajou desde a vizinhança de
Berseba; e, no terceiro dia, ele viu à distância este lugar divinamente
designado ( Gn
21:33, 34; 22:4, 19.
Alguns têm objetado à
identificação do monte Moriá com o monte
do Templo em Jerusalém, por causa da sua distância de
Berseba e de não ser observável “à distância”. Mas, Abraão devia fazer a viagem
“à terra de Moriá”. No primeiro dia, Abraão levantou-se cedo, selou seu
jumento, rachou a lenha, colocou-a sobre o animal, e depois iniciou a jornada.
(Gn
22:2, 3) Foi “no terceiro dia que
Abraão levantou os olhos e começou a ver o lugar [a terra de Moriá] à
distância”. Assim, o segundo foi o único dia só de viagem. Sobre a visibilidade
do monte Moriá e a distância da viagem, O Novo
Dicionário da Bíblia observa: “Entretanto, a distância do sul da Filístia
para Jerusalém é de cerca de 80 quilômetros, que bem pode requerer três dias de
viagem, e no livro de Gênesis o lugar em foco não é um ‘monte
Moriá’, mas um dentre diversos montes numa terra desse nome, e as colinas sobre
as quais Jerusalém está edificada são visíveis à distância. Por conseguinte,
não há necessidade de duvidarmos que o sacrifício de Abraão teve lugar no local
que posteriormente foi Jerusalém, se não na colina do Templo.”
(Editor Organizador J. D. Douglas, 1966, Vol. II, p. 1073, Junta
Editorial Cristã). Portanto, é concebível que a jornada de uns 80 km a pé,
de Berseba ao monte Moriá, tivesse levado mais de dois
dias inteiros.
Evidentemente, o monte
Moriá ficava bastante distante da Salém do tempo de Abraão, de modo que a
tentativa de sacrificar Isaque não ocorreu em plena vista dos habitantes da
cidade. Não há registro de que estes tenham presenciado o incidente ou tentado
interferir nele. Que o lugar ainda se encontrava um tanto isolado séculos depois
pode ser deduzido de que, nos dias de Davi, havia uma eira no monte Moriá.
Todavia, não se faz nenhuma menção de construções naquele lugar ( 2Cr 3:1).
Atualmente, o santuário
islâmico conhecido como Domo do Rochedo fica no alto do monte Moriá.
JERUSALÉM/MONTE
DAS OLIVEIRAS/CAPELA DOMINUS FLEVIT
No encosto do Monte das
Oliveiras fica a pequena igreja de Dominus Flevit (O Senhor chorou).
Segunda a tradição, este é o lugar onde Jesus, olhando a cidade de Jerusalém
chorou sobre ela.
No século V, havia
aqui um mosteiro e uma capela, ambos destruídos durante o século VII.
Os Cruzados, após dominar o Monte das Oliveiras, construíram novamente uma
pequena igreja. Com a reconquista da Terra Santa pelos Muçulmanos esta foi
usada por algum tempo como mesquita e escola, chamada "El
Mansurya" (a vitória).
No fim do século XIX
os Franciscanos compraram o terreno onde nos anos 1953-1954 construíram a atual
igreja sobre as ruínas do mosteiro bizantino, ainda visíveis.
No terreno ao
redor da capela foram encontrados um túmulo da época do rei Davi, portanto
de uns 1000 aC. e túmulos da época romana e bizantina: um complexo de
sarcófagos e ossuários, alguns com símbolos cristãos, provavelmente pertencendo
a uma comunidade judeu-cristã.
A tradição cristã neste
lugar se baseia num trecho do evangelho de Lucas:
Quando Jesus chegou perto
de Jerusalém e viu a cidade, chorou com pena dela e disse: -Ah! Jerusalém! Se
hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você
não pode ver isso. Pois chegarão os dias em que os inimigos vão cercá-la com
rampas de ataque, e vão rodeá-la, e apertá-la de todos os lados. Eles
destruirão completamente você e todos os seus moradores. Não ficará uma pedra
em cima da outra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para
salvá-la. (Lc 19,41-44)
Em tempos
passados, quando certos teólogos discutiam a respeito dos sentimentos de Jesus
este texto foi usado para "provar" que nada de humana era estranho a
Jesus, apesar de não haver um texto que menciona que Jesus também
ria.
Porém, a
interpretação do texto de Lucas fica superficial quando o interesse se dirige
apenas aos sentimentos de Jesus. No evangelho de Lucas Jesus é apresentado com
todas as características de um profeta. Também este texto deve ser lido a partir
da ótica profética. Que Jesus chorou, não é em primeiro lugar por
motivos sentimentais. Antes é um lamento profético sobre a cidade de
Jerusalém, tal como existem diversos no Antigo Testamento, como, por exemplo no
livro da Lamentação, atribuído ao profeta Jeremias. Este lamento é acompanhado
de uma reclamação: "Ah! Jerusalém! Se hoje mesmo você soubesse o
que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso".
O que isto
significa pode ser entendido a partir de uma antiga lenda judaica:
Depois que Isaac foi salvo no Monte Moriá, onde
posteriormente foi construído o templo, seu pai Abraão chamou aquele lugar de
“Deus proverá” (em hebraico: YHWH yirèh, cf. Gn 22,14). Ao ouvir isto Deus
ficou em dúvida: concordar ou não com Abraão. O problema era que o filho de
Noé, Sem, já viveu por ali e que tinha chamado aquele lugar de “Salém”, isto é
paz. Aí Deus pensou: “Se eu concordar com Abraão vou ter uma discussão com Sem.
Se dou razão a Sem, Abraão reclamará. Por isso vou chamar este lugar de “Yirèh-salém”
(Jerusalém), isto é “Deus proverá a paz”.
Portanto a
característica fundamental de Jerusalém é ser lugar da paz do Senhor.
Perder a esta noção de paz significa perder a noção de sua própria identidade;
é tornar-se uma cidade perdida. É por isso que Jesus diz que não ficará
pedra sobre pedra.
Parece que
nada desta narração perdeu sua atualidade. Até hoje Jerusalém é uma cidade
onde ainda não existe uma verdadeira paz. Nesta cidade santa Judeus,
Cristãos e Muçulmanos, todos filhos de Abraão, ainda não conseguiram realizar
uma paz plena. Israelenses consideram Jerusalém a eterna e indivisível
capital do estado e não querem ceder um metro quadrado sequer aos Palestinos
que reclamam a Jerusalém Oriental como capital do seu futuro estado
independente. Israelenses e Árabes que habitam esta mesma cidade, vivem
muitas vezes em clima de alta tensão.
A prece do
Salmo 122: “Pedi a paz para Jerusalém: que estejam tranquilos os que te amam!
Haja paz em teus muros, e estejam tranquilos teus palácios” nada perdeu de sua
atualidade.
Lithostrotos ou Gábata
Gábata é uma palavra
aramaica que designa um espaço em
Jerusalém relacionado à paixão de Jesus. Este lugar também é conhecido a partir
de seu nome grego Lithostrotos. O termo Gábata faz referência à língua aramaica
falada na Judeia, todavia, não é uma tradução comum da expressão Lithostrotos.
Ela caracterizava o piso esmaltado ou de mosaico que havia no tribunal, mas tal
termo se expandiu para a frente da sala de julgamento de Pilatos, onde os
pavimentos foram deixados.
O local é mencionado em
uma passagem Bíblica de João (19.13), no qual o evangelista observa: Pôncio
Pilatos “trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado
Lithostrotos, em hebraico Gabatá.”
Pelo que se entende, é
que os dois termos “Lithostrotos” e “Gabatá” surgiram devido aos aspectos
contraditórios sobre o lugar onde Pilatos condenou à morte do Senhor Jesus. O
nome em aramaico surgiu devido às configurações do espaço, a natureza e o piso.
Há um costume e certa confusão na criação de nomenclaturas, isso é comprovado
por João, que em outros locais colocou nomes sírios em alguns sítios, que não
são meras traduções do grego. Isto também é provado pelo fato de “Gábata” ser
oriundo de uma raiz com significado de “para trás” ou “elevador”, que não
trata-se do tipo de pavimento, mas aborda a “elevação” do lugar em pauta.
Alguns estudiosos têm
feitos grandes esforços para distinguir “Gabatá”, segundo o exterior do pátio
do Templo, que é conhecido como um ambiente pavimentado, ou o ponto de encontro
do Grande Sinédrio. O local estava meio dentro e meio fora dessa parte exterior
do Templo, todavia, infelizmente, estes empenhos e pesquisas não podem ser
considerados bem sucedidos.
A única máxima que pode
ser concluída, a partir das palavras de São João é que “Gábata” indica o local
de Jerusalém onde Pilatos detinha seu tribunal, onde também conseguiu fazer com
que Jesus fosse traído, além de ser o lugar onde realizou uma audiência com a
participação da multidão judaica, sua formal e final sentença de condenação.
O MUSEU de ISRAEL em Jerusalém
O Museu de Israel é sem dúvida alguma a maior e mais atrativa
instituição cultural do país, considerado como um dos museus mais importantes
do mundo em artes e arqueologia. Esta instituição foi fundada no ano de 1965 e
hoje é composto de diversos setores como o de Arte Betzalel, a de arqueologia
Bronfman e de Judaísmo e Etnia Judaica, bem como o setor Ruth especialmente
voltado para os jovens.
O museu
conta também com o maior acervo do mundo de objetos arqueológicos bíblicos e da
Terra Santa como por
exemplo os famosos Manuscritos do Mar Morto. Em apenas 40 anos de história o
museu conseguiu colecionar um acervo de mais de 500.000 objetos graças ao apoio
de diversas instituições internacionais nesta área. Entre as obras mais raras e
de maior valor no museu estão os rolos dos manuscritos do Mar Morto, os mais
antigos do mundo antigo que datam do de desde o século II A.C até o final do
primeiro século. Os manuscritos contêm partes da Bíblia Hebraica e além disso,
outros manuscritos considerados apócrifos. O Santuário do Livro, ou como é
conhecido em português Museu do Livro é o lugar onde são abrigados os
Manuscritos do Mar Morto, além de ser um centro de informação e estudos sobre o
assunto.
Uma das
mais recentes aquisições e acréscimos no Museu de Israel é uma grande maquete
de Jerusalém do período do Segundo Templo. O
modelo reconstitui uma reprodução da topografia e das características
arquitetônicas da Cidade Santa no período do Segundo Templo até o período em
que foi destruída no ano de 70 da ERA CRISTÃ. A maquete que foi exposta
originalmente no antigo hotel Holy Land agora faz parte integral e permanente
do Campus do Museu de Israel, não muito longe do Museu do Livro.
O Jardim
de Esculturas de Arte Billy Rose é considerado um dos mais belos e foi
desenhado pelo escultor Américo-Japonês Isamu Noguchi expondo uma síntese de
diferentes culturas como a do Oriente Médio, do Extremo Oriente, do Ocidente
bem como a Europeia e Americana. A coleção é exibida em um jardim que inclui
grande obras de escultores como Menashe Kadishman, Henry Moore, Claes
Oldenburg, Pablo Picasso, Auguste Rodin y James Turrell. O Setor Ruth que é
dirigido para jovens e crianças é único em suas proporções e oferece a cada ano
amplos programas de ensino para mais de 100.000 estudantes de escolas de todo o
território de Israel e contém um espaço aberto de galerias, salas de estudos,
bibliotecas, salas de leituras, livros ilustrados infantis, locais para
reciclagem de materiais e arquivos para coleções.
Uma
característica interessante para o setor Ruth é uma exibição programada para
toda a família que combina obras de artes de diversos períodos da história de
objetos que são extraídos de diversas coleções do museu, obras de israelenses e
artistas internacionais bem como terminais de atividades interativas e de
pesquisas.
A cúpula
do Santuário do Livro tem
o formato da tampa do vaso onde os pergaminhos foram encontrados. Um túnel, com
diversos objetos arqueológicos ao longo do caminho, dá acesso ao interior da
cúpula. Na sala principal, que é redonda, há uma reprodução contínua dos
pergaminhos à sua volta e na parte central da sala estão normalmente os
originais. Ao redor da sala, alguns pedaços dos pergaminhos originais ficam
expostos em painéis com luminosidade e umidade controladas. Estes pedaços são
periodicamente trocados por outros, afim de preservar estes documentos tão
frágeis.
Os
Pergaminhos do Mar Morto foram escritos por volta do século II A.C. segundo os
testes realizados com a técnica de Carbono 14. Acreditava-se que eles poderiam
estar referindo-se também a Jesus e seus apóstolos, mas os estudiosos dos
pergaminhos concluíram que não, após anos de minuciosos estudos por centenas de
especialistas. Os pergaminhos estão escritos em hebraico, na sua maioria, mas
também há trechos em aramaico e grego.
Além dos Pergaminhos
do Mar Morto, outros importantes documentos ficam expostos no
interior da cúpula. O Código de Alepo é o mais antigo manuscrito hebraico, compreendendo
o texto completo da Bíblia. Escrito na Palestina no início do século X, o
documento foi mais tarde transferido para o Egito e, posteriormente, para
Alepo, na Síria, onde a comunidade judaica local guardou o documento com zelo
por mais de seiscentos anos. O Código de Alepo foi provavelmente o manuscrito
usado por Maimônides, quando ele estabeleceu as regras de escrita da Torah.
Vale a pena
visitar o jardim das esculturas, com obras de importantes artistas como Picasso
e esculturas magníficas como a escultura da Ahava (amor) e em especial a
exposição de arqueologia, que conta com alguns dos objetos mais importantes
achados nos extensos trabalhos arqueológicos realizados por todo o país,
objetos de vários períodos históricos inclusive bíblicos.
Uma
interessante exposição é a exposição judaica que conta com uma grande coleção
de objetos judaicos provenientes de todo o mundo: kearot de Pessach (pratos de
páscoa), capas para os rolos da Torah, yad(mão) para Torah, Meguilot Esther (livros
de Ester), estes objetos variavam muito de um lugar para outro e de fase da história
para outra mas preservaram a sua identidade através do tempo e das regiões no
mundo. Além de objetos judaicos e hebraicos, o museu reconstruiu duas sinagogas
em sua área. Antes das sinagogas serem demolidas, uma na Índia e outra na Itália,
o Museu Israel desmontou as sinagogas e as trouxe a para serem remontadas na
área do museu.
A impressionante
exposição de artes inclui um riquíssimo acervo, com quadros de Rembrandt,
Pissaro, Picasso, Bouguereau, Renuar e outros. Muitas obras de arte podem ser
vistas na web site do Museu de
Israel.
Gólgota/ Jardim do Túmulo/Lugar da Caveira
O lugar fora da cidade de
Jerusalém, embora perto dela, em que Jesus Cristo foi pregado na estaca. (Mt 27:33; Jo
19:17-22; He
13:12) Perto dali havia uma estrada e um
túmulo num jardim (Mt 27:39; Jo
19:41). “Gólgota”, ou “Lugar da Caveira”,
também é chamado “Calvário” (Lu 23:33, ALA, So), do latim calvaria (caveira). O registro bíblico
não declara que Gólgota se encontrava num morro, embora mencione que alguns, de
certa distância, observaram Jesus ser pregado na estaca — Mr 15:40; Lu
23:49.
No quarto século EC,
o Imperador Constantino deu a tarefa de determinar o lugar em que Jesus foi
pregado na estaca, e o seu túmulo, ao Bispo Macário, o qual decidiu que o então
existente templo de Afrodite (Vênus), de Adriano, fora erigido neste lugar. Por
conseguinte, Constantino ordenou a demolição deste templo e a construção duma
basílica, a qual mais tarde passou por uma expansão e modificação, tornando-se
a Igreja do Santo Sepulcro. Escavações arqueológicas feitas desde 1960 indicam
que esta área era usada como lugar de sepultamento, e acredita-se que era assim
no primeiro século EC. De modo que a Igreja do Santo Sepulcro se ergue
agora num dos lugares tradicionais de Gólgota e do túmulo de Jesus. Embora
situado dentro das atuais muralhas de Jerusalém, acredita-se que o lugar tenha
estado fora das muralhas da cidade nos dias de Jesus.
Outro lugar sugerido como
local em que Jesus foi pregado na estaca é um promontório a 230 m
ao NE do Portão de Damasco, agora conhecido como Calvário de Gordon
(Jardim do Túmulo). Foi sugerido, em 1842, como o lugar verdadeiro de Gólgota e
do túmulo de Jesus. Em 1883, esta localização foi endossada pelo General C. G.
Gordon, herói militar britânico. A identificação baseava-se em conjectura.
Gabriel Barkay, à base de evidência arqueológica disponível, declara que o
Túmulo do Jardim, bem perto, que freqeentemente é apontado para turistas como
lugar de sepultamento de Jesus, originalmente fora escavado e usado em algum
tempo no oitavo ou no sétimo século AEC. Isto não se enquadraria na
descrição de João 19:41,
de “um túmulo memorial novo, no qual ainda ninguém tinha sido deitado”. — Biblical
Archaeology Review (Revista de Arqueologia Bíblica), março/abril de 1986,
p. 50.
A identificação de Gólgota
frequentemente se tem tornado uma questão religiosa, emocional. No entanto, não
há nenhuma evidência arqueológica de que o “Calvário de Gordon” seja o lugar
certo. Quanto ao sítio marcado pela Igreja do Santo Sepulcro, sua identificação
leva em conta achados arqueológicos, mas baseia-se na maior parte em tradição
que data do quarto século. A respeito desta última localização, a revista Biblical
Archaeology Review (maio/junho de 1986, p. 38) declara: “Talvez não
possamos ter certeza absoluta de que o lugar da Igreja do Santo Sepulcro seja o
local do sepultamento de Jesus, mas certamente não temos nenhum outro lugar que
possa reivindicar isso com mais peso do que este.” De modo que a identificação
continua sendo conjectura.
JERUSALÉM/MONTE DAS OLIVEIRAS/BASÍLICA DA AGONIA
(GETHESÊMANE) – (BASÍLICA DE TODAS AS NAÇÕES)
A Basílica da Agonia,
projeto de Antonio Barluzzi, foi inaugurada em 1924. Por causa das
contribuições de vários países recebeu também o nome de ‘Basílica das Nações’.
A igreja tem 12 cúpulas nas quais estão colocados símbolos de países que
ajudaram na construção, inclusive o Brasil. No projeto original a igreja
ficaria sobre os fundamentos da basílica medieval do Santíssimo Salvador
descobertos entre 1891 e 1901. No entanto, ao iniciarem os trabalhos
descobriram-se restos de uma basílica bizantina construída por volta do ano 385
pelo imperador Teodósio e da qual falam antigos testemunhos de peregrinos.
Nesta basílica havia uma rocha diante do altar sobre a qual, segundo a
tradição, Jesus teria orado ao Pai para que fosse afastado dele o cálice da
paixão. Por este motivo, na última hora, a direção do santuário foi modificada,
de tal modo que a rocha da agonia novamente ficasse diante do altar. Os traços
da basílica bizantina ficaram conservados em mármore preto no piso da atual
igreja.
O interior da igreja é de
penumbra, simbolizando assim a noite mais escura na vida de Jesus. Um grande
mosaico na abside central representa Jesus em oração sobre a rocha da agonia.
Nas duas naves laterais os mosaicos representam o beijo de Judas e a prisão de
Jesus. Por alguns vidros no piso é
possível ver o piso antigo em mosaico que serviu, aliás, como modelo para o
piso atual. O grande mosaico na fachada representa igualmente a agonia de
Jesus.
Neste
dia, a grande surpresa foi a visita ao Museu
do Holocausto, o que causou uma forte e indescritível emoção. As imagens
registradas são do ambiente externo, uma vez que não é permitido fotografar no
interior.
Após o café da manhã partimos para nosso
programa. Os locais visitados foram organizados de acordo com a melhor dinâmica
para o dia dentro da cidade.
Museu das Terras Bíblicas: Introdução à Arqueologia e a Geografia
Bíblica; Cidade de Davi: Últimos achados arqueológicos; Túnel de
Ezequias; a Rua Herodiana; a Fortaleza da Acra; Davidson Center; Modelo 3D;
Muralha do tempo de Salomão; o Caminho das Mikveths; Muro Ocidental, conhecido
como Muro das Lamentações; e Monte do Templo (Esplanada das Mesquitas). Em seguida,
rumo a Tel Aviv.
TÚNEL DE EZEQUIAS
O Túnel de Ezequias ou Tunel de Siloé é um túnel ou aqueduto que foi escavado na
rocha sólida, escavado embaixo de Ophel
na cidade de Jerusalém por
volta de 701 a.C. durante o reinado de Ezequias. Foi provavelmente um
alargamento de uma caverna pré-existente e é mencionado na Bíblia. É descrito
por peritos como uma das grandes proezas de engenharia da antiguidade.
O túnel,1 que conduzia2 a Fonte de Giom3 até a piscina de Siloé,
foi projetado para agir como um Aqueduto para abastecer de água a Jerusalém durante um sítio organizado
pelos assírios, conduzidos por Senaquerib.
Construção e história
A Inscrição de Siloé
retirada da parede do Túnel de Siloé.
O túnel é um longo corte que estende-se por 533 metros, dentro da
proteção das muralhas da cidade, e usando diferenças entre cada extremidade,
água tem chega a uma altura media de 30 cm
(0.6%) ao longo de seu comprimento da fonte até ao reservatório de
Siloé. De acordo com a Inscrição de Siloé
encontrada dentro dele, o túnel foi escavado por duas equipes, cada uma
começando por cada extremidade do túnel e encontrando-se então no meio.
Segundo Dan Gill, do Instituto de Pesquisas Geológicas de Israel,4 os construtores alargaram
canais naturais que atravessavam a rocha onde havia rachaduras ou onde havia
diferentes camadas juntas. Com o tempo, esses canais se alargaram bastante, o
que explica o motivo da altura do túnel variar em até 5 metros, e como os
trabalhadores, usando lâmpadas a óleo, podiam respirar. sua habilidade
pode ser observada, no êxito da escavação com um declive suave de apenas 31,5
cm em todo o túnel.
Na passagem da inscrição lê-se: “E esta foi a maneira em que foi
perfurado: — Enquanto [. . .] ainda (havia) [. . .] machado(s), cada homem em
direção ao seu companheiro, e quando ainda faltavam três côvados para serem
perfurados, [ouviu-se] a voz dum homem chamando seu companheiro, pois havia uma
sobreposição na rocha à direita [e à esquerda]. E quando o túnel foi aberto, os
cavouqueiros cortaram (a rocha), cada homem em direção ao seu companheiro,
machado contra machado; e a água fluiu da fonte em direção ao reservatório por
1.200 côvados, e a altura da rocha acima da(s) cabeça(s) dos cavouqueiros era
de 100 côvados.” 5
Esta inscrição registra a construção do túnel; de acordo com o texto, o
trabalho começou em ambas as extremidades simultaneamente e prosseguiu até que
os construtores se encontraram no meio.
Está claro no próprio túnel que diversos erros direcionais foram feitos
durante sua construção.6 Descobertas recentes a respeito
de outro túnel relacionado - Canal de Warren - sugeriram que o túnel
pode ter sido um alargamento de uma caverna pré-existente em Carste.
Função e origem
A cidade de Ophel em Jerusalém, está numa
montanha, e é naturalmente defensível de quase todos os lados, mas sofre do
inconveniente que sua fonte principal da água fresca, a fonte de Giom, fica ao
lado do penhasco ao contrário do vale do Cédron. Isto apresenta uma fraqueza
militar principalmente para os muros da cidade, que para ser suficientemente
defensiva, deve necessariamente deixar de fora a fonte de Giom, assim a cidade
ficaria sem uma fonte de água fresca em caso de cerco.
A Bíblia registra que no tempo do rei Ezequias (século XIII a.C.), que a
temível Assíria teria colocado sítio à cidade,
obstruindo a água de fonte fora da cidade e desviando-lhe através de uma
canaleta no túnel de Siloé.7 Entretanto, sabe-se agora (até
à data de 1997) que o sistema do Canal encontrado por Charles Warren era abastecido ainda
mais pela fonte de Giom;8
Em 1899, um outro túnel, também conduzindo
da fonte de Giom à área do Reservatório de
Siloé, mas por uma rota mais direta, foi encontrado. Este último
túnel é conhecido agora como o canal médio da idade do bronze, (devido a
sua idade estimada); Determinou-se que foi construído por volta de 1800 a.C. (na Idade do Bronze). É essencialmente uma
vala profunda de 20 pés na terra, onde depois a construção foi coberta por
grandes lajes da rocha (escondidas na folhagem). É mais estreito, mas ainda
pode-se andar em grande parte de todo seu comprimento. Além disso à saída,
perto do túnel de Siloé , a canaleta tinha diversas saídas pequenas que
molhavam os jardins do Vale da torrente do
Cédron.9 O túnel de Ezequias age como
substituto para este canal, mas a facilidade para que um assaltante descubra as
lajes da cobertura é um ponto fraco.
O túnel de Ezequias, descoberto em 1838
pelo académico bíblico americano Edward
Robinson de Edward Robinson (scholar), pode ser visto e
percorrido completamente hoje em toda sua extremidade.
Os versículos da Bíblia que
relacionam-se ao Túnel de Ezequias são estes:
"Ora, o restante dos atos de Ezequias, e todo o seu poder, e como
fez a piscina e o aqueduto, e como fez vir a água para a cidade, porventura não
estão escritos no livro das crônicas dos reis de Judá?" II Reis 20:2
"Quando Ezequias viu que Senaqueribe tinha vindo com o propósito de
guerrear contra Jerusalém, teve conselho com os seus príncipes e os seus
poderosos, para que se tapassem as fontes das águas que havia fora da cidade; e
eles o ajudaram. Assim muito povo se ajuntou e tapou todas as fontes, como
também o ribeiro que corria pelo meio da terra, dizendo: Por que viriam os reis
da Assíria, e achariam tantas águas?" II Crônicas
32;2-4
"Também foi Ezequias quem tapou o manancial superior das águas de
Giom, fazendo-as correr em linha reta pelo lado ocidental da cidade de Davi.
Ezequias, pois, prosperou em todas as suas obras." II Crônicas 32:2
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O modelo de Jerusalém na época do Segundo Templo
Cobrindo cerca de um acre (4.200 metros
quadrados), o modelo recria a Jerusalém tal como teria sido antes de 66 EC, ano
em que explodiu a grande revolta judaica contra os romanos, que culminou com a
destruição da cidade de Jerusalém e do Templo no ano 70. O modelo, portanto,
evoca a antiga cidade em seu auge. Nesses tempos Jerusalém teve sua maior
extensão, cobrindo uma área de aproximadamente 445 acres (185 hectares), mais do
dobro do tamanho da atual Cidade Velha de Jerusalém. Construída numa escala de
1,50 metros, esta recriação de Jerusalém, antes de mais nada, está construída
com a mesma pedra calcária – assim chamada pedra de Jerusalém – com que a cidade
foi construída em tempos antigos e segue sendo construída nos dias de hoje.
Inaugurada publicamente em 1966, o modelo foi construído por iniciativa de Hans
Kroch, dono do Hotel Holyland, em memória de seu filho Jacob, que morreu na
Guerra de Independência de Israel, e sob a direção do professor Michael
Avi-Yonah da Universidad Hebraica de Jerusalém. Três fontes principais orientaram
a reconstrução da cidade tal como teria sido durante o século I: escritos antigos, especialmente obras do
historiador judeu romano Flávio Josefo, a Mishnah, o Talmud e os Evangelhos; outras
cidades antigas escavadas na região
que uma vez foi parte do Império Romano; e descobertas
arqueológicas na própria Jerusalém.
Ainda que a informação arqueológica disponível na época da construção do Modelo tivesse sido limitada, subsequentes escavações em Jerusalém ajudaram a esclarecer a cidade antiga e guiaram o desenvolvimento adicional do Modelo, que foi restaurado e complementado durante seu translado para o Museu de Israel. Mesmo que este processo continuará no futuro, o Modelo não está dirigido, em primeiro lugar, para demostrar exatidão arqueológica, e sim, para evocar a escala, a arquitetura e a topografia de Jerusalém no crucial período histórico correspondente ao surgimento dos Manuscritos do Mar Morto.
Após a transferência do pátio do Hotel Holy Land para o campus do Museu de Israel em 2006, o Modelo, junto com o Santuário do Livro, oferece agora ao visitante uma vista enriquecida de Jerusalém durante o período seminal do desenvolvimento formativo simultâneo do Judaísmo e do Cristianismo.
O Kotel Ha'Maaravi
não era, como muitos acreditam, um dos muros do Segundo Templo, propriamente
dito. Era a muralha ocidental dentre as quatro que serviam de arrimo à
plataforma construída por Herodes, ao redor do Monte do Templo, o chamado
Monte Moriá, em cujo topo se erguia, majestoso, o Grande Templo de Jerusalém.
Este muro, uma imponente estrutura de 488m de comprimento, 40m de altura e
4,6 m de profundidade, era o setor que ficava mais próximo ao Kodesh
ha-Kodashim, o Sagrado dos Sagrados, local mais recôndito do Templo, recinto
cuja santidade era tal que somente o Cohen Gadol [sumo-sacerdote] tinha
permissão de lá entrar, uma única vez durante o ano, em Yom Kipur [Dia da
Expiação].
Enquanto o Beit
Hamikdash [Templo] ainda estava de pé, três vezes por ano os judeus faziam
peregrinação à cidade do Rei David. Mas, após sua destruição pelos exércitos
romanos em 70 E.C., orações passaram a substituir as oferendas. Dispersos
pelos quatro cantos do mundo, os judeus rezavam três vezes ao dia na direção
de Jerusalém e, mais especificamente, do Muro Ocidental, chamado em hebraico
simplesmente de Ha'Kotel, o Muro. Isto porque, segundo nossa tradição
mística, as orações de todas as partes do mundo dirigem-se a Jerusalém,
especificamente ao local onde se erguia o Templo Sagrado - centro do universo
espiritual, ponto onde se encontram o Infinito e o finito - e de lá ascendem
aos Céus.
No decorrer dos 19
séculos em que Jerusalém esteve sob dominação estrangeira, a face da cidade
se transformou. O cristianismo e o islamismo, religiões também monoteístas,
declararam-na "santa" e reivindicaram seu direito de posse. Mudou
também o Monte do Templo, sobre o qual os muçulmanos construíram mesquitas.
O Kotel,
considerado lugar sagrado apenas para os judeus, também sofreu
transformações. Desde a destruição do Segundo Templo, ficou abandonado, suas
pedras contando triste história de devastação e ruína. Por longos períodos
foi proibido aos judeus se aproximar do Monte do Templo e do Kotel; e, quando
isso lhes era permitido, eram-lhes impostas inúmeras restrições. A partir do
século 15, o Muro começou a afundar cada vez mais para dentro da terra,
diminuindo assim a parte visível. Era um enclave escondido entre casas e
pátios; um muro de magníficas pedras grandes, em uma ruela estreita. Era
assim que aparecia em desenhos e gravuras nos lares judaicos. Local sagrado
de orações sem igual, o Kotel tornara-se o símbolo do Grande Templo.
Durante todos esses
séculos de dominação estrangeira, nosso povo nunca abandonou seu Templo
destruído. Rezava por sua reconstrução e milhares de judeus, quaisquer fossem
os perigos, iam até Jerusalém - fosse apenas para olhar o Muro de longe ou,
quem sabe, tocar suas pedras e abrir sua alma e coração nas preces que ali invocavam
a Deus. Banhando-o com suas lágrimas, imploravam pela redenção do povo judeu.
Por causa das lágrimas derramadas, o Kotel ficou conhecido como "Muro
das Lamentações". Sua grandiosidade ficou escondida e sua estatura
reduzida até 1967, quando o Exército de Israel reconquistou a cidade e
reunificou Yerushalaim.
O Monte do Templo e o povo judeu
Remonta ao início
dos tempos a ligação entre o Povo Judeu e Jerusalém, a cidade que abriga o
Monte Moriá, "o local escolhido por Deus para Sua Morada".
É no topo do Monte
Moriá que está localizada uma saliência rochosa chamada Pedra Fundamental,
Even Shetiyá. Segundo o Talmud, é assim chamada por ser o alicerce de todo o
Universo, o ponto a partir do qual Deus iniciou o ato de Criação. Sobre esta
pedra nosso patriarca Abraão amarrou seu tão amado filho, Isaac; e Jacob
sonhou com a escada que o levaria aos céus. E quando o Templo Sagrado foi
construído sobre o Monte, que passou a ser chamado de Monte do Templo, em
hebraico Har Habayit - o "Monte da Casa", era sobre essa exata
saliência rochosa, a Even Shetiyá, que ficava a Arca da Aliança.
Duas vezes
construído, o Beit Hamikdash duas vezes foi destruído. O Grande Templo,
construído no ano de 1000 a.E.C pelo rei Salomão, foi arrasado no dia 9 de Av
de 586 antes desta Era, pelos exércitos de Nabucodonosor, rei da Babilônia.
Após um exílio de 70 anos, liderados por Ezra e Nehemias, os judeus voltaram
a Eretz [Terra] Israel e reconstruíram seu Santuário. Passaram-se 350 anos
até que o local foi outra vez profanado pelo rei selêucida, Antíoco IV. Após
longos anos de lutas sangrentas, os hasmoneus o retomaram e, como relembramos
a cada ano em Chanucá, purificaram-no e o reinauguraram.
Governantes
hasmoneus o ampliaram, mas foi o rei Herodes (que reinou de 37 até 4 a.E.C.)
que transformou o Segundo Grande Templo numa das mais magníficas construções
da época. Tamanha era sua beleza e imponência que, dizia-se então, que nunca
se vira tal magnificência. O grande construtor de Jerusalém ampliou ainda
mais a área do complexo do Templo - que passou a englobar as colinas de Antônia
- e podia acolher, segundo o historiador Flávio Josefo, 300 mil pessoas.
Quatro imponentes muros de arrimo circundavam a grandiosa plataforma sobre a
qual assomava, majestoso, o Segundo Grande Templo. Uma ponte sobre o vale,
que separava a Cidade Alta de Jerusalém do Monte do Templo, era a única forma
de acesso ao mesmo para os que viviam nessa parte da cidade. Em sua obra,
Flávio Josefo chama o vale de Tyropoeon.
Exatamente na mesma data, 9 de Av, do ano de
70 desta Era, após sufocar a Grande Revolta judaica, legiões romanas tomaram
Jerusalém, sob o comando de Tito, incendiando e destruindo o Templo e suas
muralhas. Tentaram derrubar o Muro Ocidental, mas só conseguiram destruir a
parte superior, permanecendo intacto o restante em toda a sua extensão.
Como ensina nossa tradição mística, o Muro
Ocidental jamais será destruído. Conta o Midrash que durante a construção do
Templo do rei Salomão, o trabalho foi dividido entre todos os Filhos de
Israel, dele participando toda a população. A construção do Kotel coube aos
mais pobres, que deram tudo de si ao trabalho com grande amor e afinco. Como
não podiam contratar trabalhadores, colocaram as pedras, uma a uma, com as
próprias mãos. Quando os inimigos estavam prestes a destruir o Templo, Anjos
desceram das Alturas e, abrindo suas asas sobre o Muro, proclamaram:
"Este Muro, fruto do suor dos pobres, nunca há de ser destruído".
No ano 135 de nossa Era, os romanos sufocaram
a revolta de Bar Kochba e seus seguidores. Jerusalém foi devastada e, os
judeus, dispersos pelo mundo. O imperador romano Adriano reconstrói Jerusalém
como cidade pagã, que passa a se chamar Aelia Capitolina. Proíbe os judeus de
lá viverem, proibição que oficialmente perdurará por cinco séculos, até a
chegada dos muçulmanos.
Quando, no século 4, o cristianismo se torna
a religião oficial do Império Romano, a situação dos judeus se torna mais precária.
Os imperadores de Bizâncio, Império Romano do Oriente, que governaram a
região de 330 da E.C. até a invasão muçulmana, declararam Jerusalém
"sagrada para todos os cristãos". O Monte do Templo, considerado
local sagrado par excellence dos judeus, deliberadamente desprezado e
abandonado durante todo o período bizantino, continuaria em ruínas por outros
três séculos mais.
No ano de 638 é a vez de seguidores de outra
religião monoteísta, o islamismo, tomarem Jerusalém. Os judeus obtêm
permissão para voltar a viver na cidade, mas continuam banidos do Monte do
Templo, que, dessa vez, desperta a atenção e o respeito dos invasores
muçulmanos. As muralhas que sustentavam a plataforma erguida por Herodes são
reconstruídas e, em 691, o Domo da Rocha é erguido no exato lugar onde ficava
o Templo, onde está a Pedra Fundamental. Vinte anos mais tarde, na
extremidade sul do monte, é construída a Mesquita Al-Aqsa. Os governantes, no
entanto, permitiram aos judeus orar no local onde, à época do Segundo Templo,
erguia-se um dos portões que davam acesso ao Monte do Templo. Localizado
próximo ao eixo do Kodesh Hakodashim, o "Sagrado dos Sagrado", o
local foi transformado em uma sinagoga chamada Ha Me'ará, A Gruta usada por
mais de 450 anos.
Nos séculos após a conquista árabe, Jerusalém
passa por grandes turbulências e inúmeras transformações. O mundo cristão
quer Jerusalém de volta e, em 1099, a cidade é conquistada pelos cruzados. As
mesquitas do Monte são transformadas em igrejas e os judeus são novamente
banidos.
É Saladino, sultão do Egito e Síria, quem, em
1187 expulsa os cruzados de Jerusalém e os muçulmanos voltam a dominar a
cidade. Somente durante um breve período (1229-1244), os cruzados conseguem
retomar a cidade - mas não o Monte do Templo. Jerusalém fica, assim,
dividida: os cristãos governavam-na praticamente toda, enquanto os muçulmanos
ficam com o controle do Monte do Templo. A divisão era possível porque o vale
de Tyropoeon fisicamente separava a Cidade Alta do Monte do Templo. Quando,
em 1249, os mamelucos, dinastia islâmica, tomam a cidade, seus chefes
decidem, por motivos estratégicos, executar grandes modificações urbanísticas
nos arredores do Monte. As medidas coincidiam com a ambição religiosa de
fazer de Jerusalém uma fortaleza do Islã, transformando o Monte do Templo em
um local sagrado para o mundo muçulmano.
Usando como fundações as pedras das fileiras
mais baixas do Muro, os mamelucos ergueram imensas sub-estruturas, ao longo
do Muro Ocidental e da Grande Ponte perpendicular ao mesmo, e, sobre estas,
fazem crescer um bairro muçulmano, até hoje existente. Tudo que havia abaixo
do novo nível desapareceu, soterrado. Consequentemente, ficam ocultas as
magníficas pedras do Muro Ocidental. Durante séculos os muçulmanos
continuaram a construir edifícios religiosos e casas, conseguindo uma unidade
topográfica entre o Monte e a Cidade Alta de Jerusalém.
Os mamelucos dominaram Jerusalém até 1517,
quando a cidade foi conquistada pelos turcos otomanos que a governaram
durante 400 anos. No século 19, vários judeus procuram, em vão, obter o
controle do Muro. Na década de 1850, tentam comprá-lo e Sir Moses Montefiori
busca todas as maneiras de obter, ao menos, permissão de colocar bancos ao
longo do Muro. Nenhuma das iniciativas teve sucesso. Se os judeus colocavam
uma mesa para ler a Torá ou qualquer outro símbolo religioso judaico perto do
Muro, as autoridades religiosas islâmicas exigiam do governo turco sua
imediata remoção. E o conseguiam, apesar do fato de que o Muro não tinha
valor religioso algum para os muçulmanos.
Em 1917 inicia-se o
Mandato Britânico sobre a então Palestina. Nos 30 anos seguintes, os
conflitos entre judeus e muçulmanos se tornam cada vez mais violentos,
principalmente no tocante ao Muro - que as autoridades islâmicas viam como
símbolo do anseio nacionalista judaico. A oposição sobre a presença dos
judeus no Kotel intensificava-se, a cada dia.
Para denegrir o
local, o Mufti de Jerusalém converte a rua em uma passagem para animais.
Consegue convencer as autoridades britânicas a proibir o uso de objetos
sagrados judaicos diante do Kotel. Passa, também, a incitar a população
árabe, afirmando que os sionistas pretendiam controlar o Muro. Em agosto de
1929 a violência explode; uma multidão enfurecida ataca os judeus que rezavam
no Kotel, destruindo os objetos sagrados que encontra. Tal explosão de
violência repete-se em uma série de confrontos, dias depois.
A questão se torna
"internacional" e, para resolver "o problema do Muro",
instituem-se duas comissões - uma britânica e outra da Liga das Nações. No
verão de 1930 do Hemisfério Norte é realizado o chamado "Julgamento do
Muro". Segundo deliberação das comissões, os muçulmanos eram "por
direito" os únicos "proprietários" do Muro. Mas as comissões
deram aos judeus a permissão de lá rezar e de colocar assentos na rua. Era
proibido, porém, tocar o Shofar nas proximidades do Muro.
Apesar de todas as
concessões, os árabes não ficaram satisfeitos. Os judeus, por sua vez,
aceitaram a deliberação, com exceção do último ponto. E, a cada ano, ao
término do Yom Kipur, apesar de saber que policiais britânicos interviriam,
jovens judeus tocavam o Shofar, como manda nossa tradição milenar.
Nem mesmo em 1948,
com o renascimento de Israel, Estado judeu soberano após 1900 anos de
dispersão, os judeus conseguiram reaver "seu Muro". Teriam,
contudo, que esperar mais 19 anos para voltar a tocar as pedras do tão amado
Kotel. Na guerra que as nações árabes lançaram sobre Israel logo após ter
declarada a sua independência, os combatentes judeus não conseguiram manter a
Cidade Velha de Jerusalém. E, enquanto durou a ocupação árabe dessa parte da
cidade, apesar dos acordos internacionais de cessar-fogo que, supostamente,
garantiriam livre acesso aos lugares sagrados, foi vedado aos judeus
aproximar-se do Muro.
Nem à distância
podiam olhá-lo - até o dia 7 de junho de 1967, quando pára-quedistas das
Forças de Defesa de Israel reconquistaram o Muro Ocidental, sonho de todo um
povo. Ao som do Shofar, a Rádio de Israel anunciou: "Har Habait
Beiadeinu" - o Monte do Templo está em nossas mãos!"
Jerusalém foi,
enfim, reunificada. A exposição do Muro se tornou marco da soberania de
Israel e de todo o povo judeu. Coube ao Ministério para Assuntos Religiosos a
responsabilidade pelo local. Após abrir e limpar toda a área adjacente, foi
criada a Esplanada do Muro Ocidental. No primeiro dia de Shavuot daquele
mesmo ano, 250 mil judeus foram rezar no local. Mas, ainda não era
suficiente. Israel queria expor o Muro em toda a sua extensão e imponência.
Escavações minuciosas removeram cuidadosamente 19 séculos de terra e entulho,
revelando as magníficas estruturas há milênios soterradas. Atualmente, após
décadas de intensos trabalhos arqueológicos, um incrível labirinto de túneis,
arcos e passagens, que permaneceram intocados durante séculos, finalmente descortinava-se
ao mundo.
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Manhã livre em Tel Aviv. À tarde, partida para o aeroporto.
Conexão em Londres.
Tel Aviv, uma cidade cosmopolita, marca o término da nossa viagem de
estudos ao Egito e a Israel. Ao longo de duas semanas, refizemos boa parte da
caminhada dos antigos hebreus, libertos da escravidão nas férteis terras do
delta do Nilo. Acompanhamos sua jornada pela exótica e desoladora paisagem da
península do Sinai, e percorremos boa parte da terra da promessa, a "terra
que mana leite e mel". Vimos como a ocupação da terra não se deu sem
confrontos e conflitos com as populações radicadas na área, como os cananeus e
filisteus; conflitos que se fazem presente nos dias de hoje na disputa entre
israelenses e palestinos pela posse de territórios e heranças culturais e
religiosas tão ricas para a história da humanidade. Participaram da viagem
alunos e ex-alunos da EST, além de membros de diversas confissões cristãs de
diversos estados brasileiros, sobretudo da região de Brasília. Fomos
assessorados por competentes guias locais, que nos brindaram com seus
conhecimentos, e refletimos sobre as tradições bíblicas relacionadas aos sítios
visitados.
15º Dia 19/04 – São
Paulo:
Desembarque.
Guardando, com imenso carinho, no coração e na mente, muitas
imagens, impressões, palavras e silêncios dessa viagem maravilhosa que a
Providência me oportunizou.
Oi Vasti. Só hoje encontrei teu blog, com informações sobre a viagem. Muito bem feito. Parabéns e um gtande abraço!
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