terça-feira, 24 de setembro de 2019

De um 24 de setembro...

Ligo a TV e o âncora do noticiário diz que é primavera. No Instagram, alguém escreve, legendando a imagem de um ipê, que ama São Paulo na primavera. Sentindo o calor de um verão que nos é quase perene, passo a contá-las (as primaveras). Faço as contas e percebo que, agora, tenho mais "ontens" do que "amanhãs" e, ainda que seja assim, não perdi o encanto de estar por aqui. Não obstante o envelhecimento do corpo, que modifica a aparência, a alma exulta com a experiência conquistada. Porque se não é tão atraente ter um rosto marcado pelo tempo, há um encantamento em ser uma velha alma marcada pela sabedoria. Escolho o adjetivo velha e prescindo do uso de eufemismos. Saber-me uma velha alma me enche de luz. O paradoxo é que tanto as linhas que tatuam a pele quanto as filigranas que a alma acumula são provenientes do ser e estar nesse mundo. As linhas que caracterizam a despedida da juventude do corpo (e prenunciam o ocaso), na alma, têm o efeito da sabedoria de quem viveu as vicissitudes da condição humana e, por isso, progrediu ao aprender preciosas lições - tenham sido elas ditadas por bem-aventuranças ou adversidades.
Nesse percurso, a literatura e a filosofia me ensinam a ler a história da humanidade, e, exultante, viajo por essas dimensões alcançando a epifania que a minh'alma almeja.
Aprendo também acerca da condição humana com as pessoas com quem compartilho o cotidiano, enxergando-as como coautoras da minha história. Isso é essencial. Padeço, todavia, da síndrome de lobo errante: a alcateia fornece proteção e companhia, porém impõe o ritmo marcha. Surge, então, um dos muitos dilemas por que passamos: como uivar feliz e solitário(a) para a Lua e receber o calor de um grupo e de uma companhia? (Hein!?)
Com os sentidos ainda bastante aguçados e a mente fervilhante, sigo compondo minha sinfonia e, para tanto, vou garimpando poesia e perscrutando sons e tons que pairam no ar em meio a tantos ruídos e interferências representativas da algaravia do mundo; sigo, enfim, consciente da impermanência, sentindo "a dor e a delícia" de ser quem sou e, sobretudo, atenta ao som do "compositor de destinos/Tambor de todos os ritmos/Tempo, Tempo, Tempo..." 🎶🎵🎼 E também "porque é primavera..." 🎶🎵🎼

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