segunda-feira, 14 de março de 2011

Sensibilidade transformada em palavras

A Hóspede

Não precisas bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.
Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo.
O cão amigo
pousará nos teus joelhos a cabeça.
Deixa que a noite, vagarosa, desça.
Cheiram à relva e sol, na arca e nos quartos,
os linhos fartos,
e cheira a lar o azeite da candeia.
Dorme. Sonha. Desperta. Da colmeia
nasce a manhã de mel contra a janela.
                                                                                 Fecha a cancela
                                                                                 e vai. Há sol nos frutos dos pomares.
                                                                                Não olhes para trás quando tomares
                                                                             o caminho sonâmbulo que desce.
                                                                                  Caminha - e esquece.
Gosto da poesia de Guilherme de Almeida. Uma poesia de meio-tons, sugestões do mundo e da alma, um intenso sentimento de beleza e certo preciosismo sentimental e formal, como afirmou Antonio Cândido.
Seus temas preferidos eram os clássicos e atemporais: a distância, o exílio, a nostalgia, o heroísmo e a transcendência. Como na expressão de um crítico, onde Mário e Oswald queriam ver tucanos e sabiás, Guilherme continuava a ver rouxinóis. Gosto de quem sabe ver rouxinóis onde, aparentemente, eles não existem...

Um comentário:

  1. Vastí, quanto tempo! Surpreso quando vi o link do Celeiro em seu blog. Também coloquei o seu no meu, e ainda o indiquei a mais um selo que acabo de receber, o Prêmio Sunshine Award, um incentivo da blogosfera. E seu blog é merecedor dele.
    Sinta-se à vontade de ir lá e pegar seu selo.

    Forte abraço!!

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