domingo, 16 de outubro de 2011

O silêncio de Pascal

"O silêncio desses espaços infinitos me apavora"
os pensamentos estraçalhados de Pascal
são a crise de uma consciência excepcional
no limiar de uma nova era
o místico Pascal
contempla o céu estrelado
numa vã espera de vozes
o céu calou-se
estamos sós no infinito
Deus nos abandonou
"daquela estrela à outra
a noite se encarcera
em turbinosa vazia desmesura
daquela solidão de estrela
àquela solidão de estrela"
(leopardi via haroldo de campos)
nenhum ufo
no close contact of the third kind
a solidão "cósmica" de Pascal
é o pendant do vazio
de sua classe social
cuja hegemonia está para terminar
os germes da revolução francesa
que vai derrubar a nobreza
e colocar a burguesia no poder
já estão no ar
Pascal ouve nos céus
o tremendo silêncio
de uma classe que já disse
tudo que tinha de dizer
pela boca da história.
O poeta Paulo Leminski se refere, entre outras coisas, à revolução científica do séc. XVII quando se deu a substituição da teoria geocêntrica, aceita durante mais de vinte séculos. A nova teoria heliocêntrica não retirou apenas a Terra do centro do universo, mas esfacelou também a construção estética que ordenava os espaços e hierarquizava o "mundo superior dos céus" e o "mundo inferior e corruptível da Terra". Galileu geometrizou o universo, igualando todos os espaços. Ao descobrir a Via-Láctea, contrapôs, a um mundo fechado e finito, a ideia de infinitude do céu. Por isso faz sentido a frase de Pascal: "O silêncio desses espaços infinitos me apavora"...
A questão, no entanto, não é apenas científica!

Nenhum comentário:

Postar um comentário