sábado, 22 de outubro de 2011

Sonhos e realidades

"Vocês nos fazem sonhar!": eis uma exclamação tantas vezes ouvida a cada vez que novos horizontes do conhecimento nos são propostos. A realidade assim descoberta, ou construída pelo saber, situa-se de tal forma fora dos campos da sensibilidade e da imaginação comuns que ela logo se vê relacionada ao sonho e, logo depois, ao mito. Entretanto, não há nada de surpreendente nessa exclamação: as imagens do espaço, as imagens dos planetas ou as das galáxias mais distantes são impressionantes desde que são comentadas, pois a partir de então elas revelam durações, dimensões, energias propriamente inconcebíveis por uma intuição construída apenas sobre a experiência humana do cotidiano. Em vez de estender-se ao domínio de uma região, de um estado ou de uma nação, a consciência do homem deve, de agora em diante, representar-se num espaço sem limites, sem fronteiras, moldado pela lei da gravitação e pela presença da matéria, espaço no qual a Terra não passa de um frágil esquife, existindo por durações tão longas, perto das quais os ciclos da história humana não passam de um breve piscar de olhos.
Pierre Léna
À permanência das coisas que nos rodeiam, tão bem exprimida pelo Eclesiástico ("Não existe nada de novo sob o Sol"), ao ideal clássico do equilíbrio, todo o nosso saber vem agora opor a ideia contrária: desde a noite dos tempos, o universo não deixa de estar repleto de novidades, a evolução é cósmica, universal, ela não poupa sequer o Sol. O estado de desequilíbrio, fonte de criatividade, encontra-se por toda a parte na lei das coisas.
Por bem menos que isso podemos sentir uma espécie de vertigem, e conheço gente, mais idosa, que preferia nem pensar nisso para não soçobrar. Que o cinema se alimente de tais mudanças de perspectiva não é surpreendente. Mas não podemos delegar unicamente a filmes como O Quinto Elemento ou Guerra nas Estrelas a tarefa apaixonante de reconstruir referenciais diante dessas novas escalas.

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