domingo, 13 de novembro de 2011

Sussurros de um contador de histórias

Francisco Gregório Filho
O embalo que acalenta o filho
é  o carinho que adormecerá   o neto.
A celebração que convoca o pai
é a cerimônia que atrairá o filho.
(sabedoria portuguesa)
Somos aquilo que vamos adquirindo ao longo da vida. Os primeiros jogos, as brincadeiras, as cantigas, os contos vão imprimindo em nós um pouco daquilo que vamos ser quando adultos. Não somos passivos às experiências e, a cada uma aprendida, incorporamos informações, transformamos, acrescentamos parte de nossa própria experiência e vamos construindo nosso jeito de olhar a nós mesmos e ao mundo.
As muitas histórias ouvidas na infância vão-se construindo em pequenos acervos que, interagindo com nossas vivências, vão contribuindo significativamente para o exercício da crítica acerca das coisas que presenciamos, permitindo apurar nosso papel de cidadão. Não se trata de entender "a moral da história", mas de perceber que a leitura e o ouvir histórias podem ser fortes componentes para formar o sentido da responsabilidade social de cada um de nós.
Mesmo antes da escrita, o homem lia. Lia o mundo com seu olhar, com experiências sensoriais e, utilizando-se da linguagem oral e das imagens, trocava ideias, refletindo sobre tudo o que o cercava. E, mesmo com a escrita, continua utilizando-se da palavra e das imagens para fazer suas observações e, principalmente, argumentar.
Não só falando ou contando histórias, mas ouvindo o outro contar também outras histórias, ouvindo a voz do outro, o homem partilha suas impressões sobre a vida e discute as questões que ocorrem à sua volta.
Vamo-nos tornando cidadãos na medida em que, conhecendo a realidade que nos cerca, por meio da troca de notícias e de argumentos, adquirimos não só a sensibilidade necessária para perceber nossos acertos, nossos erros, os erros dos outros, mas principalmente a capacidade de intervir e transformar esta realidade.

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