domingo, 6 de novembro de 2011

Uma revolução cultural

Uma das questões mais interessantes trazidas pela revolução das redes virtuais é sem dúvida a da inteligência coletiva que, como todos veem, seria útil para resolver os problemas cada vez mais complexos e globais do planeta. Todo grupo de pessoas conectadas à Internet poderia, teoricamente, colaborar em proveito de uma obra coletiva. A inteligência de cada um poderia ser mobilizada em benefício de todos. Mas trata-se de não confundir inteligência coletiva com inteligência do coletivo. Ao utilizar-se a expressão inteligência coletiva, atribui-se um estatuto a uma entidade abstrata, atribui-se inteligência a um ser de razão. Mas qual é o sujeito capaz de encarnar essa inteligência coletiva? Com a segunda expressão, inteligência do coletivo, considera-se que apenas a pessoa individual pode encarnar o exercício da inteligência e que cabe a cada pessoa fazer um esforço para compreender o coletivo e não o inverso. Uma associação de pessoas pode certamente fazer vir à tona um pensamento complexo,  pondo em comum e debatendo seus diversos pontos de vista. Mas esse pensamento complexo, originário de um processo coletivo, só pode encarnar-se nas próprias pessoas e em nada mais. "A Rede das redes" (o Net) não existe tal como existe uma pessoa. A expressão inteligência coletiva é, portanto, ambígua. Lembremos que essa expressão, muito em voga nos anos 30, foi comparada a um enorme animal por Simone Weil, em 1934, no momento em que a ascensão do nazismo acompanhava-se precisamente de um fascínio pelas entidades coletivas. Em nossa opinião, é preferível a essa expressão a metáfora da nooesfera (a esfera dos espíritos), utilizada por Teilhard de Chardin. A nooesfera é um "lençol" de inteligências pessoais, livres, comunicando e comungando na busca da ascensão da consciência. A cibercultura é um bom candidato para favorecer a emergência da nooesfera teilhardiana.
Philippe Quéau
Um outro problema é o da diversidade cultural. A mundialização é indubitavelmente uma ameaça para a riqueza e a variedade das culturas do mundo. Mas é também uma chance. Existe um equilíbrio a ser encontrado, ainda que dificilmente, em relação às diferenças entre os povos e o que os reúne, entre o gênio próprio a cada povo e suas aspirações comuns. Por outro lado, nunca é demais lembrar que a sociedade da informação não implicará necessariamente mais cultura. Pois, sabe-se muito bem que a informação não é conhecimento, e que conhecimento não é cultura. O desafio a enfrentar é realmente o de fazer com que nasça uma verdadeira cultura a partir de algo que, até agora, não passa de uma espécie de ventania tecnológica e informacional. A cibercultura só merecerá realmente este nome quando terá sabido encarnar as aspirações profundas dos cidadãos planetários em que nos estamos transformando.

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