sábado, 14 de junho de 2014

É proibido viver

Com a leitura recente do livro Eu sou Malala, a autobiografia de Malala Yousafzai, com coautoria da jornalista Christina Lamb (Companhia das Letras), ocorreu-me retomar um registro feito há alguns anos.
Assistindo a algumas reportagens sobre a vida no Afeganistão – país severamente castigado por guerras e, presentemente, submetido a uma ditadura religiosa – fico a imaginar quão difícil deve ser a vida para aquelas pessoas. Testemunhamos, entretanto, o depoimento de um garoto que, ainda com um sorriso largo e franco, pronunciou a frase: “Esse é o Afeganistão, o meu país!”
Fiquei deveras sensibilizada coma espontaneidade e alegria desse menino que ainda mantém em seu peito o orgulho como resultante do amor que sente por suas raízes não obstante as mazelas sociais.
As escolas existentes são aquelas mantidas pelo governo no intuito de formar guerreiros, onde o Alcorão é memorizado para ser aplicado de forma inquestionável. Às mulheres é proibido trabalhar, mostrar qualquer parte do corpo e até mesmo mendigar, para aquelas que não têm como se manter. Todavia, como em qualquer outra situação de coerção, sempre há aquelas pessoas que ousam sair das sombras e enfrentar desafios; vimos um grupo de mulheres que a despeito das severas punições, audaciosamente, mostraram seus rostos e, mais ainda, provaram que estão dispostas a ajudar o seu país ministrando aulas a um grupo de crianças na clandestinidade.
Lá não se ouve rádio, não se assiste à televisão. Uma mulher ocidental precisa vestir-se à moda afegã para entrar no país, não se pode filmar, fotografar ou se deixar filmar, fotografar. E o que é profundamente lamentável é que essa gama de proibições é gerada por uma questão de fundo religioso. Alá proíbe.
Observamos o cultivo e o consumo em larga escala do ópio, matéria-prima da cocaína. Crianças que logo cedo perdem a sua inocência, pois até mesmo elas consomem a droga que lhe é passada pelas mães no intuito de acalmá-las. Além disso, ronda o perigo iminente de explosão, pois há uma enorme quantidade de minas espalhadas e já um grande número de pessoas mutiladas. Vemos, enfim, um cenário de visões nefastas. O Afeganistão recebe o título de “O País proibido”.
Chegamos ao ano 2000, no entanto as crenças, de certa forma, continuam sendo repassadas como se vivêssemos numa época bastante remota. É indiscutível o respeito à cultura e aos valores religiosos de outros povos, contudo quando se tem em xeque os direitos humanos, é sinal de que tais valores precisam e devem ser revistos.
Observamos que tais princípios não resistem ao teste da história. É preciso lembrar, no entanto, que a barbárie é tão somente produzida pela ação humana que deturpa preceitos legítimos. Se, realmente, a nossa trajetória neste planeta não for marcada pela lei do progresso espiritual eterno, que nos propicia as múltiplas existências, não haveremos de crer num Deus que é infinitamente misericordioso, justo e bom.
Que explicação teremos, então, para aquelas pessoas que ao nascerem naquela região padeçam sob regime tão perverso? Se a vida é tão somente uma etapa terrestre, se não há acertos, resgates e expiações, por que a elas foi concedido tão fatídico destino? Em que reside o sentido de se nascer num país assim ou numa superpotência? Obra do acaso

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