Com a leitura recente do livro Eu sou Malala, a autobiografia
de Malala Yousafzai, com coautoria da jornalista Christina Lamb (Companhia das
Letras), ocorreu-me retomar um registro feito há alguns anos.
Assistindo a algumas reportagens sobre a vida no
Afeganistão – país severamente castigado por guerras e, presentemente,
submetido a uma ditadura religiosa – fico a imaginar quão difícil deve ser a
vida para aquelas pessoas. Testemunhamos, entretanto, o depoimento de um garoto
que, ainda com um sorriso largo e franco, pronunciou a frase: “Esse é o
Afeganistão, o meu país!”
Fiquei deveras sensibilizada coma espontaneidade e
alegria desse menino que ainda mantém em seu peito o orgulho como resultante do
amor que sente por suas raízes não obstante as mazelas sociais.
As escolas existentes são aquelas mantidas pelo
governo no intuito de formar guerreiros, onde o Alcorão é memorizado para ser
aplicado de forma inquestionável. Às mulheres é proibido trabalhar, mostrar
qualquer parte do corpo e até mesmo mendigar, para aquelas que não têm como se
manter. Todavia, como em qualquer outra situação de coerção, sempre há aquelas
pessoas que ousam sair das sombras e enfrentar desafios; vimos um grupo de
mulheres que a despeito das severas punições, audaciosamente, mostraram seus
rostos e, mais ainda, provaram que estão dispostas a ajudar o seu país
ministrando aulas a um grupo de crianças na clandestinidade.
Lá não se ouve rádio, não se assiste à televisão.
Uma mulher ocidental precisa vestir-se à moda afegã para entrar no país, não se
pode filmar, fotografar ou se deixar filmar, fotografar. E o que é
profundamente lamentável é que essa gama de proibições é gerada por uma questão
de fundo religioso. Alá proíbe.
Observamos o cultivo e o consumo em larga escala do
ópio, matéria-prima da cocaína. Crianças que logo cedo perdem a sua inocência,
pois até mesmo elas consomem a droga que lhe é passada pelas mães no intuito de
acalmá-las. Além disso, ronda o perigo iminente de explosão, pois há uma enorme
quantidade de minas espalhadas e já um grande número de pessoas mutiladas.
Vemos, enfim, um cenário de visões nefastas. O Afeganistão recebe o título de
“O País proibido”.
Chegamos ao ano 2000, no entanto as crenças, de
certa forma, continuam sendo repassadas como se vivêssemos numa época bastante
remota. É indiscutível o respeito à cultura e aos valores religiosos de outros
povos, contudo quando se tem em xeque os direitos humanos, é sinal de que tais
valores precisam e devem ser revistos.
Observamos que tais princípios não resistem ao
teste da história. É preciso lembrar, no entanto, que a barbárie é tão somente
produzida pela ação humana que deturpa preceitos legítimos. Se, realmente, a
nossa trajetória neste planeta não for marcada pela lei do progresso espiritual
eterno, que nos propicia as múltiplas existências, não haveremos de crer num
Deus que é infinitamente misericordioso, justo e bom.
Que explicação teremos, então, para aquelas pessoas
que ao nascerem naquela região padeçam sob regime tão perverso? Se a vida é tão
somente uma etapa terrestre, se não há acertos, resgates e expiações, por que a
elas foi concedido tão fatídico destino? Em que reside o sentido de se nascer num
país assim ou numa superpotência? Obra do acaso
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