segunda-feira, 28 de julho de 2014

Comecei a explorar as extensas escavações “psíquico-arqueológicas”, nas ruínas do mundo subterrâneo feminino, guiada por Clarissa Pinkola Estés – uma loba que conhece bem as trilhas desse caminho. Ela diz que uma mulher chega a esse mundo-entre-mundos através de anseios e da busca de algo que ela vê apenas com o cantinho dos olhos.

O cuidado com que se deve penetrar nesse estado psíquico está registrado numa história curta, porém eloquente acerca de quatro rabinos que ansiavam por ver a sagrada Roda de Ezequiel. Eis a história:
Uma noite quatro rabinos receberam a visita de um anjo que os acordou e os levou para a Sétima Abóbada do Sétimo Céu. Ali eles contemplaram a sagrada Roda de Ezequiel.
Em algum ponto da descida do Pardes, Paraíso, para a Terra, um rabino, depois de ver tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final dos seus dias. O segundo rabino teve uma atitude extremamente cínica. "Ah, eu só sonhei com a Roda de Ezequiel, só isso. Nada aconteceu de verdade." O terceiro rabino falava incessantemente no que havia visto, demostrando sua total obsessão. Ele pregava e não parava de falar do projeto da Roda e no que tudo aquilo significava... e dessa forma ele se perdeu e traiu sua fé. O quarto rabino, que era poeta, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra elogiando a pompa do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas do céu. E daí em diante ele passou a viver melhor.
Quem viu o quê na Sétima Abóbada do Sétimo Céu, não sabemos. Mas, sabemos, sim, que o contato com o mundo onde residem as Essências faz com que percebamos algo fora do conhecimento normal dos seres humanos e nos preenche com uma sensação de amplitude e grandeza.
A história recomenda que a melhor atitude para vivenciar o inconsciente profundo é a do fascínio sem exagero ou retraído, sem excessos de admiração ou de cinismo; com coragem, sim, mas sem imprudência.

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