sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SOLIDÃO DE DOMINGO


Ao se instalar, a solidão de domingo permite a descoberta do sentido real da transitoriedade e, em consequência, empreende-se a busca de um possível ponto de equilíbrio na ambiguidade de quem se reconhece expatriado. O véu se rompe e as revelações do que sempre esteve visível se sucedem.

O óbvio tem o poder de se ocultar – um mistério insondável mesmo a quem se mantém de olhos bem abertos a esquadrinhar as paisagens. E elas, as paisagens, estão lá e apresentam as marcas da perenidade a iludir a todos com as cores que caracterizam a efemeridade. Surge a ilusão de que tudo é mutável. Falácias. Há coisas que nunca mudam. Elas se repetem vida afora certificando sua validade e marcam a história individual do ser humano mesmo que em diferentes momentos ou estágios.

A solidão de domingo é, portanto, reveladora. A atmosfera contribui para que as ideias se cruzem e haja produção de sentido em pensamentos que encontram ninho para se acomodarem. Até parece que o tempo faz um hiato permitindo divagações, concedendo oportunidades para as mais estranhas descobertas – justamente aquelas que conduzem a paradoxos.

A solidão de domingo se torna mais intensa e real quando num outro dia e em meio a muitas pessoas, ela se faz sentir. É a sua reafirmação para dirimir quaisquer dúvidas de que ela faz parte do roteiro que foi escrito e que talvez seja necessária para a composição de alguns capítulos da história humana.

A solidão de domingo é o meu ponto de mutação. 

3 comentários:

  1. Fantástica cognição! Que o dom da palavra se estenda a outros que se espelham em você. Uma leitura como essa dá prazer, minha amiga. Parabéns!

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  2. Que a verdade seja dita! quantos de nós não enfrentamos essa solidão ou até mesmo a buscamos como refúgio para algumas situações que por ventura necessitam do silêncio e de um texto como esse, para a luzinha acender. eureca!
    Parabéns pelos textos escritos... misteriosa sempre.Um abraço.
    Alexandrina.

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  3. Depois do nada ou até talvez um bingo,
    A solidão tediosa é o estopim
    No mar vazio do instante de um domingo
    Há um narcótico de ócio sem fim.

    Vem um suspiro e digo: Agora vingo,
    Mas vingar-me de quem senão de mim?!
    Nem uma lágrima, nada, nenhum pingo,
    Só há pétalas secas no jardim.

    Neste dia totalmente hipocondríaco
    Cada espírito se encontra num maníaco
    Na morbidez de momentos solitários.


    As idéias sempre entregue aos micróbios
    E o vazio nos enchendo de opróbios
    Sob a ordem das paixões parasitárias.

    Manoel Cavalcante

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